A cultura do prêmio

Por Leandro Olegário, para Coletiva.net

Poderia resumir que a cultura de prêmio é um bem necessário. Mas essa frase não dá conta de sua própria complexidade. Como educador e gestor acadêmico, carrego a convicção de que os prêmios são elementos capazes de transformar culturas organizacionais. Isso porque ele é a representação física, materializada, de um elogio - a uma etapa cumprida ou objetivo alcançado. A mudança acontece porque participar de um concurso exige, entre outros, uma entrega diferenciada em sala de aula, a partir das atividades propostas pelos professores, fugindo da mentalidade de esforço mínimo para nota mínima de aprovação - na lógica do comportamento medíocre. Do aluno e do docente. Porque entregas diferenciadas propõe novas inquietações em sala de aula e novos olhares avaliativos. Alteram o nível da régua. Contaminam o ambiente. E não para por aí.

Há aspectos latentes na subjetividade, pois estabelece um reforço na autoestima do aluno. Não é segredo que há um aumento na identificação de estudantes universitários com fragilidades socioemocionais nos mais diferentes níveis. E a participação em mostras competitivas reacende a possibilidade de trabalhar melhores atitudes e habilidades, como gerenciar emoções, demonstrar empatia e alcançar objetivos, por exemplo. Fortalece o espírito de grupo, promovendo na coletividade a divisão de tarefas e o olhar sistêmico. Através do desenvolvimento de projetos/produtos, avança-se sobremaneira para a aplicação de metodologias ativas, enaltecendo a função docente a partir do protagonismo do aluno. Quebra-se paradigmas. Solidifica-se, lá na frente, a cidadania. Gera-se um item diferenciado no currículo acadêmico. Amplia-se a empregabilidade. 

Além disso, a cultura de buscar prêmios faz reverberar as boas iniciativas em sala de aula e nos campos da pesquisa e da extensão. Dá visibilidade aos atores que promovem em diferentes escalas transformações nos locais onde estão inseridos. Estimula novas ações positivas. Faz com que o projeto pedagógico do curso, uma espécie de Carta Magna do curso, tenha conexão com a realidade e dialogue entre práticas e reflexões. 

Preciso dizer que participar de um prêmio e não ganhar também é pedagógico? Aventurar-se ao feedback de avaliadores externos, sair da zona de conforto e colocar afeto no fazer são medalhas invisíveis e pesadas que fazem toda diferença na trajetória pessoal e profissional. Sustento isso com a experiência de quem nos últimos quatro anos, liderando equipes multidisciplinares e idealizando produtos acadêmicos, colecionou mais de 60 prêmios locais, regionais e nacionais.

Deve-se ensinar, também, que prêmio é resultado, consequência de um caminho percorrido e não um destino. No curso de Jornalismo, em especial, esse reforço é importante porque o olhar do interesse público é um balizador sobre o qual o exercício profissional deve se guiar sob pena de perder relevância e efetividade na sociedade. E quando trabalhamos isso em sala de aula, bingo: entra o componente ético. E ética é a palavra mais cara do século XXI, na era da inconstância, da experiência e da transparência.  

Leandro Olegário é jornalista e professor de Jornalismo na ESPM-Sul.

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