O excesso de convicções e a estagnação

Por Ariane Xarão, para Coletiva.net

Se tem uma coisa que se aprende ao trabalhar com pessoas, é que você vai precisar lidar com uma série de situações. E nenhuma delas é mais difícil que dar conta do excesso de convicções do outro. Quando se exerce uma função de analista e, mais, designado a modificar um cenário, barrar nas crenças consolidadas é, sem dúvida, um grande empecilho. Ao mesmo tempo em que ter convicções é importante e necessário para que o indivíduo se posicione, tome decisões e determine uma conduta de vida, não repensá-las é estagnar no mundo, pois, provavelmente, não se enxergará nada além do que se quer ver.

Do ponto de vista da Comunicação e dos Negócios, acreditar apenas no que é confortável já começa por fazer com que não se tenha uma leitura correta sobre si, sobre o próprio negócio. Além disso, consequentemente, não será possível fazer uma leitura aproximada do mercado, da concorrência, das ameaças, das oportunidades, e de tudo o que circunda essa esfera. Costumo explicar aos clientes que se não se repensar e reorganizar o negócio pelo menos uma vez ao ano - considero que o ideal sejam duas -, o negócio já estará obsoleto. O dinamismo do mundo, a mudança de mindset, a interferência do comportamento das grandes marcas na vida dos consumidores afetam diretamente os mercados e negócios locais. E, desse modo, o grande acaba balizando o pequeno. Por isso, os pequenos negócios precisam estar preparados.

Ainda que os mercados menores não vivam o aceleramento dos grandes centros, eles também estão formados por consumidores globais, e isso cria demandas globais em mercados locais. Aquela ideia de que 'não precisa porque aqui é interior' não pode ser mais uma das convicções para se perpetuar. Mesmo os perfis de consumidores com menor poder aquisitivo, hoje são pautados pela programação da televisão aberta, por exemplo, e nela há um universo de possibilidades que cria, mesmo que inconscientemente, uma demanda real. Aos perfis com maior poder aquisitivo, não raro se vê acompanhando tendências ou viajando para vivenciar o que não é oferecido no mercado local. E isso serve para produtos, serviços, experiências e muito mais. Cidades minúsculas do interior da Itália, por exemplo, recebem turistas pela peculiaridade das casas coloridas ou com muitas flores, ou pelo restaurante familiar que serve um prato de massa, mas possui uma acolhida que não se vê em outro lugar do mundo.

Isso tudo representa, tanto para mentes, como para mercados, que é necessário ampliar. Não dá para se limitar ao modo como as coisas foram feitas até então. Não acredite que não há demanda. Demanda se cria. Em um momento em que o empreendedorismo e a necessidade de colaboração explodem em todos os lugares, troque o excesso de convicções pelas dúvidas e se permita encontrar oportunidades para restabelecer, provisoriamente, a maneira como você vê o mundo e o mercado ao qual está inserido.

Ariane Xarão é consultora, publicitária e mestre em Comunicação Midiática, Mídias e Estratégias Comunicacionais.

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