Por que, hein?

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Que é um anacronismo a publicação de atos societários (balanços, atas, etc) em jornais impressos em tempos de internet, todo mundo sabe. Mas, penso que isto seria um movimento natural, como tantos o são.

Lembro que a Lei 6.404 dizia que as sociedades anônimas, mas não somente elas, deveriam publicar seus atos societários em jornais de grande circulação (e ainda definia que "entende-se por grande circulação aquele jornal que circule pelo menos duas vezes por semana na cidade-sede").

A chamada mídia legal, publicidade obrigatória, cumpria, de um lado, a tentativa de tornar números e ações transparentes, especialmente a acionistas minoritários que haveria ser protegidos, e, de outro, uma satisfação à sociedade (claro que também a receita aos veículos impressos).

Este dia chegaria. Não sei quantos tiveram tempo de se preparar, mas, inegavelmente, será um baque para jornais 'especializados'. Como as S/As devem publicar balanço até 30/4 de cada ano, e antes disto chamar assembleia para chancela-lo, ambas pelo mesmo canal, é de se supor que será uma evasão de receitas imensa para os veículos, já tão alquebrados.

Virá tempo ruim para alguns, com certeza. E, mais uma vez, provocado pelo mesmo agente propulsor. Parece que não há segmento seguro neste país, especialmente os que dependem de normativos (o que nem é o caso dos jornais). Nada mais está seguro.

Eu desconfio que a equipe que trabalha, aquela que não aparece, até deva ter tido um propósito nobre, seja o de desburocratizar, seja o de desonerar (mídia legal custa dinheiro) ou outro qualquer.

Neste caso, seria mais nefasta ainda a manifestação do presidente: aproveitar-se de algo que busca ser benéfico para fazer mais uma provocação aos jornais. Por outro lado, se esta minha visão de Madre Teresa, em achar que o fim era nobre, estiver errada e o presidente tenha determinado que o fizessem-na para vigar-se da imprensa, é de uma estupidez imensa (neste andar, muitas ainda virão). E o pior é que estas estultices não parecem arrefecer.

À imprensa, cabe informar. Mas parece que toda vez que informa algo que não está de acordo com que o atual ocupante da cadeira presidencial pensa, é mais um item pra lista de maldades que de tão frequentes, viram normais, naturais, banais.

O que preocupa, já não fossem outras mazelas a assombrarem o jornalismo, é que muitos que não tem nada a ver com a guerra travada com a grande mídia, serão atingidos.

Ou você acha que um jornal focado em pautas econômicas - só para dar um exemplo - vai perder faturamento porque anda brigando com o tenente da reserva?

Vamos ver onde esta briga vai dar. Aliás, faz lembrar vinganças do tempo de guri: vou tomar tuas bolas de gude porque você falou mal de mim.

Por que, hein?,

Iraguassu Farias é diretor Comercial de Coletiva.net.

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