Rádio na TV? Entre a Flapress assumida e a Flapress escancarada

Por Rodrigo Ramos, para Coletiva.net

Nós estamos bem acostumados com as transmissões de futebol no rádio, que por seu viés regionalizado, tornam-se quase torcidas em alguns momentos. No Rio Grande do Sul talvez isso seja mais forte do que em qualquer outra praça. Aqui, além do regionalismo, temos o grenalismo e até uma narração de gol empolgada de Cruzeiro ou São José, clubes igualmente porto-alegrenses, geraria desconforto na maioria dos ouvintes.

Mas, enfim, é uma característica do veículo. No entanto, as semifinais da Libertadores fizeram com que isso extrapolasse para a telinha. Na Globo temos acompanhado as controversas narrações de Galvão Bueno dos jogos do Flamengo, rubro-negro assumido, e que causou muito desagrado na torcida colorada recentemente.

Pois, preocupados com a Globo e seu ar de emissora oficial do Mengão, a Fox, outra televisão detentora dos direitos de transmissão da competição continental, contra-atacou com um cast e uma roupagem assumidamente torcedora no Fox Sports 2. Enquanto que uma transmissão "neutra/normal" aconteceu no canal principal da marca.

Curiosamente, a Fox foi criticada pela torcida gremista no confronto das quartas de final com o Palmeiras por ter dois profissionais assumidamente identificados com o Palestra, Paulo Vinícius Coelho e Edmundo, e a frustração de ver Nivaldo Prieto narrando os jogos quando gostariam de acompanhar o gaúcho Marco de Vargas, de passagem pouco lembrada pelo grande público no Grupo RBS, tornado xodó de parte da torcida do Grêmio por suas empolgadas narrações no título continental do tricolor de 2017.

A primeira sensação acredito que tenha sido de espanto com a atitude da Fox. Pelo menos, eu assim reagi, mas convenhamos, a torcida gremista ganhou algo que colorados não tiveram e nem os próprios gremistas puderam ter diante do Palmeiras. Uma transmissão imparcial. Dentro do imparcial possível, ainda mais quando entramos em uma esfera de tanta paixão e subjetividade quanto o futebol.

Lembrando que o sofrimento dos times fora do eixo Rio-São Paulo em relação aos clubes de maior visibilidade nacional é o mesmo desconforto dos clubes do nosso interior quando enfrentam a dupla Gre-Nal no campeonato gaúcho. O que fazem os torcedores desses times? Normalmente se refugiam nas rádios de suas cidades e ganham a sua "transmissão torcedora" personalizada.

Deixando claro que mesmo uma transmissão torcedora pode e deve ser profissional. Assim como não deve ser oficial. Até existem veículos dos clubes e para os torcedores daquelas instituições, tanto Grêmio quanto Inter possuem suas rádios. Mas, aí, além de ser outra discussão, entendo que é um outro tipo de serviço ofertado.

Em tempo, mesmo que em São Paulo haja um predomínio corinthiano na imprensa. Afinal, é a maior torcida disparada da capital e do estado bandeirante, não se brincou e até hoje não se assumiu uma TimãoPress. Enquanto que no Rio de Janeiro, o termo FlaPress surgiu da própria imprensa, entre flamenguistas inclusive, que na verve do carioca, gostavam de separar os torcedores contidos do Flamengo em relação àqueles que simplesmente não seguram suas emoções e, seja na veemência ranzinza ou na glorificação do feitos, assumem fortemente suas cores vermelho e negro. 

Rodrigo Ramos é comunicador e escritor, com mais de uma década de atuação no rádio esportivo.

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