Nossa TVE

Por Flávio Dutra É com surpresa que constato que, entre tantos assuntos candentes deste tórrido janeiro, a TVE seja motivo de debates e polêmica.  …

Por Flávio Dutra
É com surpresa que constato que, entre tantos assuntos candentes deste tórrido janeiro, a TVE seja motivo de debates e polêmica.  De um lado se questiona a suspensão do edital para a produção de cinco séries para TV, devido a não previsão orçamentária para as contrapartidas; de outro se critica a drástica redução  na dotação orçamentária da Fundação Cultural Piratini, que inviabilizaria boa parte das produções das suas emissoras, a TVE e a FM Cultura.  Na raiz dos problemas está a precária situação financeira do Estado, a exigir sacrifícios de todos os seus órgãos.
Entretanto, o debate não se esgota  na dificuldade financeira, que é episódica, nem envolve o uso político dos canais, como em passado recente.  Ocorre que,  diante da crise, questiona-se agora a própria vinculação das emissoras  à estrutural estatal, sob a alegação de que  não é função do Estado manter veículos de comunicação.  Uma posição que não leva em conta experiências bem-sucedidas de canais públicos, como a PBS nos EUA, a BBC inglesa, a TVE espanhola e, para usar um exemplo nacional,  a TV Cultura, de São Paulo.
Diferente do  meu amigo e confrade David Coimbra, acredito firmemente que as emissoras públicas têm um papel relevante a desempenhar. No caso da TVE e da FM Cultura,  o de expressar  nas suas programações toda a diversidade e riqueza  da cultura gaúcha, dos concertos da Ospa aos eventos tradicionalistas, da literatura às produções audiovisuais e à dramaturgia, do Carnaval ao Hip Hop, com espaço para a cidadania, a educação , inclusive nos programas infantis, e até para  informação e o debate, por que não?   O Rio Grande precisa se ver e ser visto na TVE, a qual cabe mostrar o que as emissoras comerciais não mostram porque estão focadas no entretenimento para as grandes audiências.
Foi  o que busquei construir nas minhas três passagens pela Fundação, duas delas como presidente. E é na condição de quem se sente ainda comprometido com o futuro da instituição que confesso o quanto me dói cada vez que ouço que só os governos do PT valorizaram os dois veículos, enquanto as outras administrações só querem sucatá-los e forçar sua privatização, mais uma besteira recorrente.  A verdade é que cada dirigente que por ali passou  deu o melhor de seus esforços, mesmo diante das adversidades,  para que se consolidassem como inalienáveis emissoras públicas dos gaúchos.
Conhecendo a atual presidente, a jornalista Isara Marques, profissional experiente,  com liderança e comprometimento diante dos desafios propostos, tenho certeza de que ela conseguirá, com a mobilização dos servidores e o apoio do Conselho e de seu público - que não é massivo ,mas é fidelíssimo -, dar a volta por cima e fazer dos veículos da Fundação, verdadeiras expressões da nossa cultura e patrimônio de todos nós.
Flávio Dutra é jornalista. O artigo foi publicado originalmente no jornal Zero Hora, em 30/01/2015.

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