Crise é véspera de solução

Por Humberto Mendes O jornal da manhã, já na primeira página fala em crise. O radio, a TV, a Internet, o porteiro do prédio o …

Por Humberto Mendes
O jornal da manhã, já na primeira página fala em crise. O radio, a TV, a Internet, o porteiro do prédio o motorista do táxi, tudo e todos falam de crise com tanta veemência que nem parece que na noite anterior nasceu uma linda criança no hospital X, um poeta fez um grande poema, ao mesmo tempo em que um pesquisador está chegando perto de uma fórmula que vai resolver  problemas de alzheimer, aids, câncer, fome, e tantos outros males que estão dizimando com a humanidade.
A última crise que explodiu nos Estados Unidos por pouco não repetiu o famoso crack de 29, quando muitos americanos amanheciam na fila da sopa.Teve até um executivo que sem um mínimo de preparo para enfrentar o problema, acabou perdendo a casa, cama, mesa e banho e passou a dormir dentro do seu automóvel, até o momento em que a financeira mandou buscar seu meio de locomoção.
A palavra "Crise" é como uma desagradável  música tocando o tempo inteiro em nossos ouvidos  e se não tomarmos muito cuidado, essa musiquinha maldita vai acabar se transformando numa  trilha sonora de nossas vidas.
Ter medo de crise sempre foi uma característica forte de muitos seres humanos, mas felizmente não de todos. Quero lembrar apenas de dois desses exemplos, na esperança que eles nos orientem a todos, a viver e sobrevivermos, com crise ou sem crise.
Eu trabalhava na Editora Abril, nos anos sessenta, e um dia estávamos uns quatro contatos no café, falando e nos lamentando antecipadamente das consequências de uma crise brava que nem havia começado. Nisso chega Victor Civita, o "seu Victor", como todos o chamávamos, e entra na conversa. Ouviu um pouco, acho que percebeu o exagero das nossas preocupações e pediu um exemplar de Transporte Moderno para dar uma olhada. Tirou da revista um fascículo que era publicado mensalmente em Máquinas & Metais, Transporte Moderno e Química & Derivados. Falou num pouco sobre a importância daquela pequena publicação estar sempre analisando todos os setores de nossa economia, leu alguma coisa e nos disse o seguinte: meninos, crise a gente enfrenta trabalhando muito, investindo em comunicação mercadológica,  criando produtos de qualidade, pagando pra ver  e confiando no país onde nascemos ou então naquele que nos acolhe, como é o caso do Brasil de vocês, que amo tanto e que agora é meu também. Esperem mais um pouco, vocês vão ver. Estou com pressa  porque tem gente me esperando para uma reunião. Fez questão de pagar o café e foi embora.
Pouco tempo depois o Brasil ganhava Exame, a mais importante publicação voltada para o mundo dos negócios.
Acho que aprendemos aquela lição, tanto que em minhas palestras e textos que escrevo em alguns jornais de todo o país vivo repetindo aquela conversa que tive com "seu Victor" pois entendi, meus amigos, que crise é véspera de solução.
O outro exemplo, bem semelhante ao de "seu Victor", nos é dado pelo cientista Albert Einstein num texto onde o mestre critica os medos, a covardia de muitos e define alguns tipos de crises.
Interessante é que tanto no exemplo do "seu Victor" há mais de 40 anos e no do "seu Einstein", que morreu em 18 de abril de 1955, vemos que o homem sempre viveu enfrentando e vencendo crise em cima de crise.
A CRISE SEGUNDO "EINSTEIN":
"Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A  crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e empresas, porque a crise traz progressos.
A criatividade nasce da  angústia, como o dia nasce da noite escura.
É nas crises  que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias.
Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado".
Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que  às soluções.
A verdadeira crise é a crise da incompetência.
O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança  de encontrar as saídas e soluções fáceis.
Sem crise não há desafios, sem  desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito.
É na crise que se aflora o melhor de cada um.
Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo.  Em vez disso, trabalhemos duro.
Acabemos de uma vez com a única  crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la."
Como viram, meus amigos, temos aí dois exemplos de homens que viveram no meio de guerras e perseguições políticas e ideológicas e que nos mostram os caminhos para enfrentar essa e muitas outras crises que ainda virão, porque tanto para o seu Victor, quanto para o sr. Einstein, crise sempre foi véspera de solução.
 
Humberto Mendes é VP Executivo da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda), com quase 60 anos de atuação no setor.

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