A avestruz e a propaganda

Por Iraguassú Farias, para Coletiva.net

Quando era garoto, ouvia uma expressão mais ou menos assim: "a avestruz enfia a cabeça no buraco, achando que se esconde, mas esquece o rabo de fora". Um pouco mais, um pouco menos, era isto aí.

Depois volto à avestruz.

Como é complicada a arte de informar. E informar bem. Tudo o que o jornalista quer, é dar a notícia completa, limpa, ampla e esclarecedora. O sujeito vai numa fonte. Resposta: "Sim, mas não posso confirmar". Fala com beltrano: "Não posso comentar". Outra: "Que eu saiba, tá até assinado o contrato. Mas só fulano tá autorizado a falar sobre isto e ele não está".

Se você é um irresponsável, joga a informação no ar e deixa ver o que acontece. Mas não. Você é sério: quer confirmação das partes. Mas não tem. Ninguém quer confirmar. Mas todo o mercado já sabe. E há muito tempo.

Há algum tempo, técnicos de futebol despistavam os times para confundir o adversário. Especialmente em Grenal, lembram? Uma contratação de um jogador é negada. Sempre. E o cara já está até contratado.

Veja bem, o que falo aqui não é da confidencialidade necessária. Quantas vezes o vazamento causa estragos irreparáveis? A CVM pune o vazamento tanto quanto a não informação, tamanho é o reflexo no mercado o mau trato da informação relevante.

O que acho estranho, e risível no mais das vezes, é o sujeito sustentar na maior desfaçatez que desconhece um assunto - ou mesmo nega, quando todo mundo parece saber. Não bastasse o "onde há fogo há fumaça", temos o "segredo entre dois, só matando um".

Certas reservas não resistem a uma sala de distância. A 'fonte' geralmente está em casa. As pessoas não resistem. Deter uma informação é um poder que parece só fazer sentido quando dividido com alguém com aquele ar de superioridade: "Ih, eu já sabia há muito tempo".

O problema é que na área privada, não há delação premiada. Mas como saber por onde vazou? Isto quando o vazamento não sai propositadamente de uma das partes da relação. Afinal, mais fácil jogar a culpa no rapaz que entrou ainda nestes dias na empresa.

Lembram a avestruz?

Então... parece que tudo vaza. Tudo é segredo, mas todo mundo sabe.

O mercado tá nervoso. Fusões, compras, paulistas chegando, saídas, entradas, paulistas chegando. Contas que saem de um estado combalido. Negócios que compram, num estado combalido. Mas isto é outra história.

Mas gozado mesmo é ouvir: "ué...sério? não tô sabendo..."

Iraguassú farias é sócio-diretor do portal Coletiva.net.

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