Fernando Albrecht e a propaganda

Por João Firme

Falar de um colega do bem, tão bom profissional como Fernando Albrecht, não é fácil. Fui seu leitor em outro veículo e continuo no Jornal do Comércio, assíduo. Viajava muito para atendimento de clientes do interior e inúmeras boas contas em Porto Alegre. Eu era seu confidente em informações da nossa economia para quem sempre gostei de trabalhar com a Propaganda para se desenvolverem. Encontrava-me com ele aos domingos, depois de minha missa das 9h30 na Pompéia, que era perto do apartamento dele e do meu na Comendador Coruja e nosso assunto era a notícia com exclusividade. Ele não fazia 'releases', e muitos que enviaram pelo departamento de imprensa da Arauto Publicidade foram para o lixo. Dava a informação que a economia queria, sem prejudicar a Propaganda, que é o maior investimento para vender.

Lembro um dia quando cheguei no Liliput, com um quarto de ovelha que havia ganho de um fazendeiro parente da minha esposa de Alegrete e que fora buscá-lo naquele domingo às 6h30 na rodoviária. Veio em mãos pelo motorista e encontrei o meu colega da ARI e da Comissão de Ética, Sergio da Costa Franco, também esperando um 'saco' de ovelhas de um estancieiro de Quaraí, que gostou de seu artigo 'descendo a lenha' na censura prévia imposta ao Jornal do Brasil, à rádio Gaúcha, à Veja e a um jornal de Novo Hamburgo. Em 10 dias, conseguimos levantar juntos ao Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul. 

O Fernandinho ficou sabendo da história no meu livro, quando o Sergio declarou que nós dois poderíamos ser investigados como abigeatários, nos condenando pela atitude. Nunca mais aceitei presentes proibidos. Certa vez, envolvi-me com a Polícia Federal por deter dois pilotos de um jatinho paraguaio, oito jornalistas do ABC Color que, chefiados pelo genro do marechal Stroner, vieram participar do Festival de Publicidade de Gramado em 1985, quando Otávio Gadret foi patrono e Germano Rigotto inaugurou o evento com a Dona Ione Sirotsky. 

Os policiais acharam pedante o homem de branco, que tirava baforadas de charutos na verificação das malas e estava alcoolizado. Desconfiaram de uma harpa que era presente para o Cônsul Paraguaio, desconfiaram que ali tinha marijuana e estavam pensando em abrir o grande instrumento de cordas. Pedi para falar com o superintendente da PF no Aeroporto, usando minha carteira da OAB. Permitiram-me a entrada, fui logo dizendo que eram meus convidados para o Festival de Publicidade e ouvi a história do porque da demora na liberação. Fiz uma proposta com argumentos, aceita na hora: "Libere os pilotos e os jornalistas, não abram a harpa e o Cônsul está no aguardo, muito nervoso. Ponha-me ao telefone com o superintendente Federal, caso contrário, vou pedir socorro já para a OAB". Falei com sustentação oral que nada tínhamos a ver com os turistas que entram legalmente e estejam embriagados. Minha tese foi aceita e, para surpresa na hora da homenagem como o jornal que mais divulgou o Festival de Publicidade no Paraguai, na feijoada oferecida pelo patrono Otávio Gadret, fui chamado ao palco e ganhei a harpa com a justificativa do presidente do ABC Color.

O Fernando me surpreendeu ao historiar meu diálogo com a PF (não sei onde conseguiu as informações) e publicou o régio presente, a foto com a harpa que é mais alta que eu e a doei para uma entidade de meninos músicos carentes de uma escola de Caxias do Sul, mantida pelo Raul Randon, dando a informação do meu diálogo cordial com a Polícia Federal. 

Que maravilha de história, Fernandinho. Sei que você não bebe, mas quando eu for chamado, vou perguntar para São Pedro se é permitido uma taça por dia do vinho de Cristo, que aprendi a tomar como sacristão em Santa Rosa e depois com o Raul Randon (que está no céu, feliz). Ele sempre me esperava nas reuniões no final da tarde com uma taça de tinto para saborearmos e, hoje, minha neurologista e geriatra me receita duas e continuo vivendo.

João Firme é jornalista e publicitário.

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