Inovação, comunicação e boa educação

Por Ico Thomaz, para Coletiva.net

Há seis anos, quando morei em Nova York, observava o que as pessoas liam no trem. Eu estudava em uma escola em Manhattan e morava em uma casa de família no Brooklyn. O Subway fazia o percurso em menos de uma hora. Havia quem se escondesse atrás do jornal imenso, outros, liam revistas. Os adolescentes aproveitavam o percurso para um último estudo desesperado antes da prova. Eu preciso confessar que, às vezes, também apelava para essa 'passadinha' de olhos nas anotações do caderno, antes de chegar ao destino. Mas, nos vagões, 80% das pessoas estavam lendo alguma coisa. Dez por cento, dormindo. Os outros 10% em atividades variadas.

Em pouco tempo, isso mudou. Eu já estava morando no Brasil há quase dois anos quando fui fazer um novo intercâmbio, dessa vez, por um período menor de tempo, mais focado em conversação. A minha outra escola também ficava a menos de meia hora do bairro que eu estava hospedado, Bushwik.

Dentro dos vagões, o livro foi substituído por tablet, smartphone, kindle. As opções da tecnologia são vastas e, nos Estados Unidos, acessíveis. Algumas pessoas liam, mas poucas. Usa-se muito fone, porque cada pessoa se transporta para uma e-vida diferente: música, vídeo, clipe, tutorial, FaceTime, rede social. Pode ser até que os estudantes assustados consigam assistir a uma vídeo-aula estilo Tele-curso 2000 antes da prova. Sim, porque a internet é rápida, com cobertura e velocidade em todos os lugares, inclusive no subterrâneo, onde não é raro encontrar wi-fi grátis.

As mudanças na comunicação estão acontecendo bem na frente dos nossos olhos. Antes, levava séculos para que uma inovação significante acontecesse. Lembra o cinema mudo? Quanto tempo demorou para que pudesse ter som e não apenas imagem? E, depois, quanto tempo demorou até que a tela pudesse morar na nossa casa, a chamada TV? Aí, veio a TV com controle remoto, o controle remoto sem fio, o fim do tubo, a tela plana e, hoje em dia, você escolhe a programação no celular. Ah, o mais incrível, pode levar sua própria programação para qualquer lugar, basta ter créditos, login, senha e memória.

Hoje, a inovação não pede licença para entrar na nossa vida. Estamos vivendo uma quebra de paradigmas, na qual o acesso à informação pode ser escolhido e acessado com facilidade. É louco pensar nisso, mas não nos comunicamos mais como nossos antepassados. Nem como nossos pais, aliás, alguns pais e avós já estão plenamente adaptados aos aplicativos de mensagem. Bom? Ruim? Depende. O jeito que se usa a tecnologia para a comunicação é o diferencial. É como um carro, depende do motorista.

É preciso um pouco de etiqueta para se comunicar. Pensar no conteúdo e na relevância da informação é necessário. Sabemos de tudo mais rápido. Atingimos mais pessoas. Geramos e recebemos conteúdo na palma da mão, 24h por dia. Na sala de espera dos consultórios, não há mais tédio. Ainda que não tenha uma revista de culinária, com um smartphone, é possível procurar uma receita de bolo.

Reforço, tenhamos educação e sabedoria no uso.

Há duas semanas, nasceu a filha de uma amiga. Assim que mãe e filha foram para o quarto, fizeram uma selfie. Não se comunica mais formalmente o nascimento do herdeiro. Sou do tempo da nota no jornal, da ilustração da cegonha. Borda azul para meninos; borda rosa para meninas. A futura geração terá selfies antes dos dentes de leite.

Ico Thomaz é jornalista e trabalha no Grupo Bandeirantes RS.

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