Muito papo e pouco conteúdo na imprensa

Por Elstor Hanzen

Em meio ao bombardeio de informações e a disputa pela atenção do público, seria sensato pensar em investir na qualidade do conteúdo para se diferenciar no mercado e ganhar na credibilidade. Mas o que se observa é que os tradicionais meios de comunicação ressaltam cada vez mais detalhes insignificantes dos acontecimentos para imprimir impacto nas notícias. Tal estratagema visa a atingir facilmente as emoções primárias do ser humano, lançando mão dos artifícios do marketing para atrair a opinião pública, assim como faz a publicidade. Em outros termos, vivemos a era do vazio e da embalagem em detrimento do conteúdo, ou como na versão do Conselheiro Acácio - na obra de Eça de Queirós -, muita pompa e pouca substância.

A propensão para trabalhar a informação a partir dos resultados dos acontecimentos visa a impressionar o espírito e a sensibilidade do cidadão por meio do efeito do discurso, sem conectar os fatos com as razões, para que se possa estabelecer uma relação de causa e efeito. É justamente esse modelo de jornalismo que predomina no cenário nacional, baseado nas aparências e nos desejos. Claro, isso faz parte de um contexto maior, do sistema de vida em que a cultura de massa dita os hábitos e as tendências, consequentemente, criando uma realidade superficial e espetacularizada.

Atualmente, mesmo com toda tecnologia à disposição, as pessoas acabam não tendo tempo e conhecimento para acessar a diversidade dos dados espalhadas na internet, ficando apenas intoxicadas com as opiniões rasas nas redes sociais ou às voltas com as notícias falsas. Por isso, em geral, ainda prevalecem as versões dos fatos que os grupos de comunicação institucionalizados divulgam, aceitas com certa naturalidade como opinião oficial.

Nisso tudo há como pano de fundo a perspectiva já aprofundada pelos estudiosos da Escola de Frankfurt, nos anos 30 e 40. Para Adorno e Horkeimer, a comunicação de massa promove a produção de bens culturais padronizados e estereotipadas, que visam a fornecer meios imaginários de escape aos indivíduos da dura realidade social. Então, tal modo de vida acaba debilitando a capacidade de pensar.

E, à medida que vai se intensificando a exposição aos temas da violência e da corrupção na pauta da mídia, a saber, esses assuntos se sobrepõem aos demais e passam a impressão de que são os mais importantes para a agenda pública em tal momento, mesmo se tratando de uma simples escolha editorial, sem nenhuma mudança significativa na essência dos fatos. Nesse sentido, a mudança pode ser apenas uma estratégia editorial dos meios de comunicação para fazer frente à concorrência ou concentrar a atenção do público, a fim de fomentar demandas econômicas e políticas.

De qualquer modo, isso acaba refletindo na percepção que temos da realidade. Ou seja, no mundo midiatizado, o crime na TV gera pessimismo sobre aquilo que nos cerca, assim como o entretenimento promove os valores da aparência e do consumismo. Aumentamos o medo da violência e a sensação de corrupção conforme os detalhes se intensificam na pauta midiática, alheios, em muitos casos, a qualquer reação dos registros estatísticos e comportamento da realidade em si. Ou, pelo contrário, outras vezes tais assuntos se alteram na cena social, não recebendo repercussão mediática, temos a impressão que tudo continua igual.

Informar e persuadir

Antes de influenciar e persuadir, há sempre um ponto inicial no processo da comunicação: a informação. Pois, de modo geral, conforme já lembrava o teórico da comunicação Maxwell McCombs, as grandes mudanças na opinião e na política pública foram precedidas por aspectos salientados e enquadrados dos assuntos pela mídia. Além da influência nas questões coletivas e públicas, o efeito se dá nas atitudes e comportamentos das pessoas na esfera privada, variando desde o consumo de refrigerantes até a escolha do tipo de ensino para os filhos.

E a influência não se limita ao campo objetivo, chega a predominar a própria alma, segundo escreveu o literato Antonio Candido. "Não há estados de alma que surgem inexplicavelmente, mas todos eles seguem os percursos de intensificação e distensão; todas as figuras concorrem coerentemente para manifestar os temas expressos pelo contexto." Dessa forma, a visão sobre segurança, economia e política que temos não se limita ao racional, mas também afeta diretamente os sentimentos, resultado da informação que consumimos no dia a dia.

No entanto, o reflexo e a reação dos assuntos variam conforme a sua natureza. A previsão do tempo e a Bolsa de Valores são exemplos ilustrativos, sendo os dois tipos de informação que apresentam comportamentos diversos mediante a intervenção e organização social. O primeiro não reage à previsão, é o caso do clima. Ele pode ser sistematizado e receber influência sem por isso reagir e alterar seu rumo devido a essas previsões, assim como o tempo cronológico, acreditado ou não, passa. Já a segunda espécie muda o rumo conforme se aplica as informações, como o mercado econômico, a segurança e a política. A Bolsa de Valores e a política, por sua vez, reagem diretamente aos rumores e às notícias.

Tal como em História, em Comunicação também tudo depende do ponto de vista. Como é possível perceber, exceto o determinismo de poucos assuntos, a grande parte das demandas é causa e consequência do olhar e da ação humana. A Comunicação e o Jornalismo, portanto, são em alta dose o termômetro que regula a opinião pública, não podem se limitar aos vieses dos algoritmos, do comércio e da polarização das ideias. Enfim, a boa embalagem sem substância funciona em curto prazo, mas, logo se desmancha e perde a atratividade e a credibilidade, se não tiver o conteúdo à altura.

Elstor Hanzen é jornalista e especialista em Jornalismo e Convergência das Mídias

Comentários