Os robôs do Facebook somos nós

Por Marta Sfredo, para Coletiva.net

Jornalistas costumavam ficar frustrados quando não conseguiam apurar um fato por todos os lados, a verdade mais completa possível. Nos últimos anos, a disseminação de boatos ou simples mentiras passou a demandar diferentes esforços de apuração. Como explicar que o mundo não é plano? Como contra-argumentar com quem rejeita vacina alegando comprovação científica de efeitos negativos?

O barulho do choque da racionalidade com o delírio atrai mais gente para o Facebook. Mesmo depois de sofrer perdas bilionárias com o escândalo da exposição de dados de usuários, a rede ainda vale quase meio trilhão de dólares - um terço de toda a riqueza produzida no Brasil medida pelo Produto Interno Bruto (PIB).

Uma das revelações mais desconcertantes do episódio apareceu em um texto de 2016 escrito por Andrew Bosworth, vice-presidente do Facebook. Depois de admitir que "talvez custe uma vida expor alguém a provocadores" e "alguém morra em ataque terrorista coordenado por nossas ferramentas", conclui: "Ainda estaremos conectando pessoas".

O que conectou 87 milhões de seres humanos a uma forma derivada de exploração comercial não autorizada foi um inocente - na aparência - questionário sobre perfil. Mesmo depois de tudo o que foi revelado sobre a rede social, esse tipo de teste pipocava nas timelines. Zuckerberg é mesmo um gênio: usa mão de obra grátis, transforma gente em robô guiado por algoritmos e ainda virou fiador da democracia ocidental.

Marta Sfredo é colunista e editora de Economia de Zero Hora.

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