Por uma comunicação conectada, apaixonante e consistente, que nasce na sala de aula

Por Diego Wander Silva, para Coletiva.net

No feriado de Páscoa, deparei-me pensando sobre as características habituais dos processos de aprendizagem em nossas universidades. Essa é uma questão que me faz refletir semanalmente sobre o que levo para a sala de aula, as opções didáticas e os enfoques que assumo como relevantes.

Pensar sobre isso, em primeiro lugar, evidencia minha convicção de que é preciso revisitar as práticas docentes, os jeitos de ensinar e aprender. Esse discurso pode soar pouco contemporâneo, porque há tempos se fala sobre isso. Porém, é notória a dificuldade das universidades em mover essa compreensão a novas alternativas e caminhos de formação.

Claro, não tenho a pretensão de generalizar as instituições e as práticas de meus colegas professores. Há muita gente inspiradora por aí, com quem busco aprender. Meu lugar de fala parte de inferências sobre o que percebo na sala de aula, em outras atividades promovidas por universidades, e das relações que estabeleci na condição de docente, em pouco mais de quatro anos.

Os relatos que ouço e os movimentos que percebo, na maioria, sinalizam o predomínio de modelos pouco atrativos e interessantes, por vezes incoerentes e descompassados com a agilidade e as tantas possibilidades que vemos surgir no universo organizacional. Nesse caminho, ganham potência outras opções de formação, sobretudo as que discutem técnicas e recursos tecnológicos.

Esse rumo me parece compreensível, pois a nossa área demanda repertório técnico cada vez mais vasto. A empregabilidade dos jovens profissionais passa por isso. Mas, confesso, esse cenário começa a me preocupar quando se limita a tal nível de discussão. E aqui está um ponto relevante às universidades, que precisam evidenciar a relevância de leituras e discussões mais consistentes, que não podem se apresentar de modos menos atrativos e úteis. Ainda que se apliquem, na prática educacional, técnicas de metodologias ativas de aprendizado, não há como prescindir da reflexão crítica e estudo aprofundado do conhecimento existente. Estudar é um ato de desacomodação, que exige mobilização intelectual e esforço, dos professores e dos estudantes.

Digo isso porque essas reflexões, as que giram em torno das técnicas, pouco se propõem a formar comunicadores pensantes. Na maioria dos casos que tive a oportunidade de conhecer, conduzem a reproduções de jeitos de comunicar. E não podemos passar a nos comportar como meros técnicos. Esse não é o lugar da comunicação nas organizações, na perspectiva que compreendo, vinculada às práticas que comunicam, que geram sentidos - que não se limita apenas a canais e mídias.

Mas que alternativas temos para superar essa (possível) dicotomia entre os fundamentos teóricos e os aprendizados que partem do mercado?

Em primeiro lugar, tenho clareza que motivar a reflexão sobre o fenômeno comunicacional com consistência teórica e empírica não é uma tarefa simples. Envolve apropriação e vivência. Envolve formação consistente dos profissionais docentes, que se qualificam pela pesquisa. Ao mesmo tempo, demanda olhares apurados sobre as nuances e desafios práticos, o que geralmente passa pelas experiências nas organizações ou por alternativas que permitam apreender esses contextos.

Há que se perceber que os modelos lineares de formação, talvez, possam ser revisitados. O mundo deixou de ser assim há tempos. É preciso aproximar as experiências profissionais dos jovens das discussões de sala de aula. Também, é preciso repensar os currículos pouco flexíveis. Em algumas universidades ainda predominam modelos de comunicação que não propõem diálogos entre campos do conhecimento, que formam profissionais poucos atentos (ou até desinteressados) às discussões de sociologia, psicologia, administração, marketing, estatística, economia, tecnologias da informação, dentre outras conexões bastante oportunas. É preciso compreender a comunicação como um campo que extrapola suas especificidades e dialoga com o todo.

Há de se educar pela pesquisa e para a pesquisa. Não temos, como professores, todas as respostas. Muitas vezes, o que partilhamos são as dúvidas. E está tudo bem. Precisamos aprender e descobrir juntos. Costumo ser franco sobre as imprevisibilidades que são inerentes às nossas práticas, ainda que detenhamos recursos técnicos e sejamos capazes das leituras de cenário mais apropriadas. É preciso ler, e ler muito. Ler sobre comunicação, mas também sobre história, sobre as produções que pensam as sociedades, o comportamento humano, as tecnologias. É oportuno pesquisar projetos e iniciativas das mais diversas marcas e conectar esses elementos às discussões teóricas, para que elas se encham de sentido e de atualidade.

É preciso acreditar nos jovens. Aos poucos, a gente vai percebendo que há muita gente competente que logo estará no mercado. Nestes anos, já me deparei com estudantes interessados, respeitosos, críticos, criativos, audaciosos. É a eles que precisamos responder com consistência. Educação envolve exemplo e eles precisam encontrar em nós professores conectados com o que está acontecendo naquela semana, com aquilo que é capaz de provocar diálogos interessantes, alinhados ao universo em que transitam. E muitos deles são incríveis e é nosso papel, enquanto professores, manter estes olhos cheio de brilho e paixão pela comunicação.

Acredito com muita convicção na contribuição da academia para as práticas de mercado e, sobretudo, que o diálogo da universidade com as organizações é o caminho para que tenhamos comunicadores qualificados e consistentes. Vamos para o segundo mês deste semestre letivo com coragem para enfrentar os desafios da nossa profissão e seguir acreditando na educação como caminho para o fortalecimento da dimensão comunicacional nas organizações.

Diego Wander Silva é professor na Famecos, coordenador da Assessoria de Comunicação e Representação Institucional da Rede Marista e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação, da Ufrgs.

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