A empatia no deadline

Por Grazi Araujo

Desde que a gente começa a fazer jornalismo, nos ensinam que a imprensa não espera. Que prazo é prazo e aprendemos a "atropelar" para não perder a pauta. Quantas vezes invadi reuniões, fiz ligações em dias e horários impróprios e interrompi conversas tentando correr contra o relógio para não deixar o colega da redação esperando. É do jogo e dá uma adrenalina gostosa de viver.

Mas e qual a graça da vida se não vierem mudanças que te ensinem novas maneiras de encarar as coisas? De entender que a tua urgência não é necessariamente a do outro? Que a notícia é importante sempre, mas que nem todas as solicitações são a tempo e a hora? 

Claro que tem o filtro que te faz olhar o relógio e contar os ponteiros. E o que te deixa olhar o calendário também. Sempre terão - e que bom - pautas urgentes, informações do dia, da hora, de alguns minutos. Isso é o principal papel da nossa profissão. O bom é que tem o ao vivo que te desafia o pulmão e a página dupla que te faz sorrir sozinha, com a respiração menos ofegante. Sorte de quem tem um assessorado com boa reputação e histórico que colaboram e dão credibilidade a eventuais prorrogações de deadlines.

Minha ansiedade característica não me permitia fazer esperar. O livre acesso ao gabinete facilita esse comportamento, não há como negar. Eu ainda estou em processo de transição dessa vontade doida de abrir a porta, soltar um "parem as máquinas" e atender as dezenas de pedidos de entrevistas. Mas não dá. Neste momento, a compreensão de quem está do lado de lá se faz mais do que necessária. E bem aqui nessa parte do texto cabe aquela palavrinha tão da moda: empatia. Esse tal sentimento primordial para conseguir se colocar no lugar do outro. A tentativa de sentir o que sente a outra pessoa em uma determinada situação, de tentar compreender os sentimentos e emoções do outro.

Uma votação de um projeto importante tem data e hora. Uma projeção de governo é construída com um papo sem pressa. Um assunto pontual - como ele mesmo diz - tem deadline inadiável, assim como uma exclusiva quente que caiba em 140 caracteres. Tudo tem seu tempo, que com sinceridade, transparência e equilíbrio, sempre se encaixa.

Não é má vontade, não é descaso. Talvez escrever sobre isso seja uma forma de demonstrar a agonia que se sente ao pedir um tempo, ou então uma maneira de temer ser interpretada como uma assessora que barra a imprensa. Ou apenas um desabafo de quem procura escrever o que sente dentro do coração.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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