Bota a tua camisa amarela

Por Grazi Araujo

Vivemos em um estado geograficamente localizado "longe" do centro do Brasil. Temos nossos costumes, nossos representantes na política, vivemos um eterno Grenal (dentro e fora de campo) e temos manias tão nossas que até parecemos um país independente em certos momentos. Até pouco tempo atrás, os problemas que ultrapassavam a famosa Região Sul, não eram encarados como "nossos". A repercussão, principalmente na mídia local, não era tão significativa. Até chegar o engajamento, as redes sociais, os diferentes e ágeis meios de se comunicar e, acima de tudo, a sensação de pertencimento. Não existe mais o "é tão longe de nós". Somos todos Brasil.

Sem nenhuma apologia política ou a qualquer bandeira, reconheço que estamos mais nossos. Os brasileiros, que sempre idolatraram os países mais desenvolvidos, parece que acordaram para a busca de um país melhor, de fato. Não toleramos mais preconceito, choramos por tragédias que acontecem a quilômetros de distância como se fossem no quintal de casa, cuidamos mais do que antes era apenas deixado a cargos públicos. Paramos de delegar e começamos, de fato, a botar a mão na massa. A cobrar, exigir e estamos dispostos a contribuir.

Qualquer tipo de extremismo é um tiro no pé para se perder a razão. Mas movimentos pacíficos e justos estão cada dia mais fortes. Ser uma pessoa eclética permite que eu possa transitar não somente em diferentes ritmos e batidas, mas também conviver com diferentes realidades. Marcelo D2, com toda a sua representação, esteve na Capital para lançar seu novo trabalho, digno de turnê internacional, diga-se de passagem. Na platéia, placas de rua com o nome da Marielle, bandeira com o rosto da vereadora carioca estampado e vários cartazes marcavam um ano de sua morte naquela noite. Ironia do destino - ou não - o calendário se encontrou no palco de um músico que durante toda a sua carreira sempre pregou o "manter o respeito", frase tão curta e tão esquecida por tantos. Não tem mais espaço para o desrespeito. Os panos quentes esfriaram.

Todo brasileiro é um pouco carioca e, se alguém ousa dizer não, ainda não conheceu as maravilhas da cidade maravilhosa. Falando no Rio, a escola campeã do Carnaval trouxe a verdade para a avenida e para o pódio. Muito brasileiros passaram a conhecer Marielle depois de sua morte. A indignação maior, entre tantas, é da demora em descobrir quem mandou matar. Quem apertou o gatilho não vale quase nada. Ela representava minorias, era mulher, negra, homossexual. E tinha o mesmo peso na ponta do dedo, na hora do voto, do que seus colegas que discriminam e são intolerantes à diversidade. Chegou a hora, de fato, de vestirmos juntos a camisa amarela e cuidar do que é nosso. Que sejamos todos mais brasileiros e menos bairristas.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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