Não é sobre política. É sobre caráter

Por Márcia Martins

Quem me acompanha neste portal há algum tempo, no qual mantenho uma coluna semanal, ou leu meus textos nem que seja uma única vez, assim de passagem e que nem se considera leitor (a) assíduo (a), ou alguma vez ouviu falar em mim, sabe das minhas preferências políticas. Porque eu nunca as escondi. Porque eu jamais menti sobre a minha ideologia. Porque eu sempre tive um lado na história. Então, vamos aos fatos. Eu sou ligada diretamente a um partido político de esquerda. Sim, sou filiada, desde 1999, ao Partido dos Trabalhadores (PT) com muito orgulho. Sou daquelas que faz militância, que agita a bandeira vermelha com a estrela no meio do tecido nas esquinas de Porto Alegre, que participa de carreatas, que caminha no Brique da Redenção nos domingos entregando propaganda dos seus candidatos e que sabe todos os jingles das últimas campanhas na ponta da língua.

Apesar de petista assumida, não falarei aqui hoje neste espaço sobre as minhas escolhas para a próxima eleição, nem na chapa majoritária e nem dos candidatos proporcionais. Talvez mais adiante, se julgar apropriado e com inspiração, porque a militância diária pelo PT tem exigido muito do meu racional e emocional, escreva de forma mais direta e clara sobre as minhas opções. Não descarto esta possibilidade e faço questão de enfatizar que sempre tive liberdade total para falar sobre qualquer assunto dos administradores/editores/responsáveis pelo site.

Mas esta coluna não é sobre política. É sobre caráter e valores de vida. Porque estou impressionada com o elevado número de eleitores e eleitoras que prometem votar no 'Coiso' (e não me obriguem a escrever o nome desta pessoa). Refiro-me ao candidato à presidência recentemente esfaqueado. Confesso, estarrecida, muito medo ao ver que em pleno 2018, as pessoas não se importam em escolher para cuidar do destino do País um cidadão que defende o uso de armas, que alimenta a discriminação e o preconceito contra negros, comunidade LGBT e mulheres e propaga a diferença salarial entre pessoas de sexos diferentes. Isto apenas para ficar nas aberrações mais terríveis defendidas pelo seu 'Coiso'.

E eu confio muito exatamente nos negros e negras, na comunidade LGBT e nas mulheres para alertar os eleitores e eleitoras do 'Coiso' de que votar nesta pessoa é compactuar com alguém desprovido de caráter e dos valores básicos de vida. Não é possível que as pessoas, com um mínimo de senso de igualdade, justiça, isonomia e dignidade, apoiem o que este candidato defende nas vezes em que abre a boca para falar (me perdoem a sinceridade) apenas 'merda'.

Vejam bem, não estou nem citando o nome dos meus candidatos, como escrevi mais acima. Não estou aqui pedindo votos nos nomes dos representantes do PT, não é uma coluna sobre política. É sobre barrar um candidato que se apresenta com um viés fascista. E isso não podemos de jeito nenhum aceitar ou deixar que se instale no nosso Brasil. E fascismo não se discute e nem se debate. Ele precisa ser combatido.

Circula no Facebook um texto na comunidade 'Mulheres Unidas Contra ... (MUCB)', que, apesar de hackeada irresponsavelmente pelos robôs do tal candidato, voltou e já soma mais de duas milhões de integrantes, que explica de forma bem didática e simples o meu pensamento sobre o 'Coiso' e os eleitores e eleitoras dele. Diz assim: "Quando você apoia alguém que diz que mulheres devem ganhar menos porque engravidam, ou que filho gay é falta de porrada, ou que não corre o risco de ter uma nora negra porque educou bem os seus filhos, que não aceitaria ser operado por um médico cotista, que a ditadura errou ao torturar em vez de matar e que concorda com o assassinato de outras pessoas, a nossa divergência não é política". "A nossa divergência é moral."

Vou mais além. Aliás, me apropriando de trechos de outro texto que circula pela internet com o título 'Não acabo amizade por causa de política. Então, só para recordar quem anda ou se faz de esquecido (a), reproduzo aqui alguns tópicos dele. "Se você concorda que não há evidência de uso indevido do dinheiro público, mas acha normal usar apartamento funcional para "comer gente", acabo a amizade pela moral. Se você concorda que Carlos Brilhante Ustra não foi um torturador e merece ter suas práticas exaltadas, acabo a amizade por falta de caráter. Se você concorda que mulheres são frutos de 'fraquejadas' e merecem ser estupradas ou não, de acordo com a sua aparência, acabo a amizade por misoginia. E se você concorda que as pessoas não podem viver livremente a sua sexualidade, acabo a amizade por homofobia."

Como eu reforcei mais acima, não se trata de uma coluna sobre política. É sobre ignorância, desrespeito aos direitos humanos, preconceito, discriminação, fascismo. Ou sobre a falta de caráter.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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