O outono é promessa de vida, de aconchegos, de encontros

Por Márcia Martins

Nesta quarta-feira, 20 de março, provavelmente quando os meus leitores e as minhas leitoras mais assíduas estiverem passando os olhos na coluna aqui no portal, o outono, o período que assinala no calendário dias e noites mais melancólicas, de aconchegos, de corpos aninhados e de encontros, já terá começado. No Hemisfério Sul, a estação que sucede o verão, terá seu início hoje às 18h58min e seu final em 21 de junho, uma sexta-feira, às 12h54min. Algumas pessoas consideram o outono uma época de emoções mais contidas, de sentimentos em repouso, uma época de pausar os compromissos, de preferir o descanso, as tarefas em casa, o sossego, o relaxamento, os pés enfeitados por pantufas e os cobertores e mantas espalhadas pelas casas.

Particularmente, sou uma apaixonada declarada pelo outono. Porque nem sempre ocorre aquele frio de renguear cusco que se apresenta no inverno. Porque é menos frequente as pessoas caminhando pelas ruas expelindo rios de suor pelo calor excessivo que nos castiga no verão. Porque aquele vento instável da primavera que levanta saias e arrasa com os cabelos torna-se um habitante eventual. Mas, principalmente, porque a paisagem das folhas caindo e das árvores se desnudando me transmite uma sensação positiva de mudanças e de transformações.

Noites mais longas, alguma incidência de vento (não o minuano e nem aquele insano da primavera), a diminuição das temperaturas e, quem sabe, um pequeno, mas romântico, nevoeiro no nascer das manhãs devem inspirar os encontros, os passeios, os cinemas, os cálices de vinhos, as sopas fumegantes, as leituras entremeadas com o barulho da pipoca estourando na panela ou até mesmo uma simples sessão de filmes na televisão. O outono me traz uma promessa de vida, dias mais sombrios para fazer planejamentos para os próximos meses, a expectativa de passar alguns dias na Serra gaúcha, conversas com as amigas nos finais de tarde, cinemas nos fins de semana, um bom tinto cabernet sauvignon, bem acompanhada de outros e outras pessoas, ou simplesmente com a minha própria companhia.

O outono, nos seus dias mais instáveis, também propicia colocar em dia a leitura das obras que acumulam pó na estante da minha casa, umas sestas bem preguiçosas após os almoços nos sábados e domingos. E na estação que se inicia hoje que aproveito para ver bons filmes ou séries na Netflix. Agora ando fã da série Gracie and Frankie e vejo vários episódios nas noites. Vou renovar meu estoque de vinhos e me aprimorar nas comidas quentes para essa maratona de filmes e séries. Neste outono, cuidando para não ganhar quilos extras, vou me aprofundar nas delícias culinárias e me empaturrar de bolinhos de chuva, cuecas viradas, rapaduras de leite, brigadeiro de colher, sopa no pão, canjas e tantas outras guloseimas.

Pois no meio da tarde de sábado, ao retornar do shopping onde fui ao cinema ver o filme Suprema (aconselho muito), um ensaio de folhas caindo quase na esquina da minha casa, uma paisagem que esboçava um vento típico da nova estação, algumas pessoas já ostentando agasalhos, foram suficientes para me entusiasmar e desejar logo a chegada do outono, seu lindo. Venha que eu te espero, eu te acolho, eu te abrigo, eu te defendo, eu te protejo.

 

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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