O que pode por limite um poder exuberante?

Por Flavio Paiva

O título não é de minha autoria, mas de um amigo e antigo colega meu de faculdade. Ele fez um ensaio em que tratava de questões filosóficas e psicológicas, em especial, abordando a questão da potência de Nietzsche. E fazia ainda uma relação com os limites de cálculo, da engenharia. Apesar da pretensão do título, o ensaio saiu muito bom.

Pois bem, aqui não quero abordar estes já abordados aspectos, mas quero relacionar à tecnologia, que se pode, por um lado, nos assustar, pode, por outro, (e, principalmente, este está em curso) fazer com que nos tornemos pequenos deuses, quando entra então o poder exuberante. Não foi encontrado, ainda, a exemplo do limite de cálculo da engenharia, o limite do limite da tecnologia. IoT, AI, learning machine, Big Data, além é claro do desenvolvimento estupendo de hardwares cada vez mais poderosos.

Aonde isto vai terminar, no sentido de qual o seu limite. Não podemos saber neste momento e fica até difícil imaginarmos, pois as variáveis se modificam com o processo em curso. Está valendo a velha máxima de que estão mudando as regras do jogo com o mesmo em curso. "Não vale!", diriam as crianças e mesmo os adultos. Pois agora vale, porque como estabelecer regras rígidas para algo em mutação? Não é tarefa fácil.

A ética nos oferece uma referência neste sentido, pois apesar de tudo continuamos a ser humanos, com valores, até mesmo dogmas e referências morais. Ainda assim, estas referências variam de cultura para cultura e de tempos em tempos. Porém, existem referências que acabam sendo adotadas por todos ou pelo menos pela maioria. E, sejamos justos e sinceros, pela maioria que manda, quer estabelece as (talvez novas) regras do jogo.

Assim como foi muito difícil entender a teoria da relatividade de Einstein, os preceitos de Stephen Hawking, estamos em um momento de fazer um esforço intelectual e enxergar o amanhã, apesar de vivermos em um mundo onde quase tudo é relativo ou líquido (Zygmunt Bauman). O esforço é grande e nem mesmo sabemos se teremos êxito. Mas não há alternativa. Jacaré parado vira bolsa de madame.

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