Seja muito bem-vindo senhor mês de fevereiro

Por Márcia Martins

Só tenho motivos, e dos mais diversos, para saudar fevereiro, que se inicia nesta sexta-feira, quando os calendários espalhados pela casa, nos notebooks, no tablet e nos celulares apontam para o dia 1° do segundo mês de 2019. Ao contrário de janeiro, que passou enjoado, arrastado, sem graça e derretendo qualquer tentativa de raciocínio e lazer com as temperaturas elevadas ao extremo, seu sucessor promete fortes emoções. Pelo menos para esta que vos escreve. Aqui em casa, comemoramos um ano da chegada do Quincas Fernando Martins, cachorro vira-lata que diverte os nossos dias. No dia 9, ocorre a formatura da minha filha Gabriela em Relações Públicas na Fabico. E no dia 12, embarco uma semana de férias para a Bahia.

Um período assim que nasce planejado para dar certo só pode ser saudado e aguardado. Por isso, seja muito bem-vindo senhor mês de fevereiro. Prepare-se. Nós, aqui na casinha de Marcinha, vamos lhe usar. Na próxima segunda-feira, 4 de fevereiro, iremos comemorar um ano de convivência com o Quincas Fernando Martins. O cão que adotamos no Brique da Redenção no primeiro domingo de fevereiro de 2018 e que, segundo a cuidadora que nos entregou, seria de porte médio (ledo engano, hoje ele tem mais de 12 quilos e é um cão enorme para um apartamento), transformou mais uma vez as nossas vidas. Ressignificou. Porque elas já tinham adquirido um novo sentido com o cão Dalai (que nos deixou em novembro de 2017) e era preciso sair do luto.

Quincas não nega a sua origem. É um legítimo SRD (Sem Raça Definida). Eu me pego a olhar para as travessuras que ele faz, os latidos que emite, os pulos imensos que dá para nos exigir carinho, e o seu olhar de pedinte, e sei que ele é 100% vira-lata. Embora, ao caminhar com ele pelo entorno do bairro, nas raras vezes em que o preguiçoso aceita deixar o conforto de casa e ser conduzido pela sua Vóvis Marcinha, algumas pessoas apostam ser um galgo. Confesso que Quincas tem um porte atlético, posso dizer até esquisito. Umas patas enormes e assustadoras, algumas costelas aparecendo, apesar dos seus 12 quilos e umas orelhas grandes sempre levantadas. Olhando bem, Quincas tem alguma mistura. Talvez seja um vira-galgo.

Mas é preciso comemorar muito. Saudar o dia em que passeamos pelo Brique e nos comovemos com o seu olhar afetuoso. Esquecer as primeiras noites do filhote conosco e seu choro insistente porque não queria ficar sozinho. Fingir que não vimos as quinas dos móveis comidas, os fios puxados na manta que encobre o sofá e nem a capa do CD que ele destruiu. Simplesmente tudo desaparece quando retornamos da rua e somos recebidas com tanto carinho que parece que ocorreu uma ausência de um ano. Tudo some quando ele acomoda seu corpo grande e desajeitado no sofá e se instala no meio de nós duas (eu e Gabriela). É necessário, sim, comemorar. Nada se compara à felicidade de uma casa com cachorro.

Fevereiro também me proporcionará ver a minha filha recebendo seu diploma em um curso superior. Gabriela passou em seu primeiro vestibular na Ufrgs, em 2012, para Relações Públicas. Teve algumas decepções com a faculdade, com algumas disciplinas e com certos professores. Trancou a matrícula. Voltou para a Fabico. Trancou de novo. Voltou. Pensou em desistir do curso. Resolveu terminar. E, no dia 9 de fevereiro, ela, que não é mais a minha pequena, abanará lá do palco do Salão de Atos, o seu canudo. E a mãe Márcia, que é uma chorona sem salvação, não conseguirá deter as lágrimas de emoção. Lembrarei cada momento da filha até chegar aos dias de hoje e não conseguirei esconder meu orgulho ao ver a mulher que ela se tornou.

Gabriela é uma pessoa com a vibe inquieta. É uma moça muito questionadora. Uma mulher que luta todo o dia para mudar o mundo, para que todos sejam iguais, para que os direitos humanos sejam respeitados, para que exista justiça social e que todos tenham um mínimo de dignidade para viver. Ela não sossega nem um minuto. Em constante mutação. É ação, é música, é deslumbramento de alegria, sinônimo de beleza, ser humano em ininterrupto e desafiador aperfeiçoamento. Por isso, a moça recém-formada em RP, inicia um novo curso na Ufrgs (foi aprovada novamente no último vestibular) e será estudante de Políticas Públicas. Ela quer mais. Ela busca mais conhecimento. Ela planeja novos voos. Ela é um eterno desassossego.

E, alguns dias após a formatura, embarco para uma viagem de férias para Porto Seguro, na encantadora Bahia. E tudo, tudo lá na Bahia faz a gente querer bem, a Bahia tem um jeito que nenhuma terra tem. Vou visitar a Cidade Alta, suas igrejas, as ruínas do primeiro colégio jesuíta do Brasil, o Paço Municipal. Depois, conhecerei Arraial D'Ajuda, suas areias fofas e suas falésias, Trancoso e suas praias, foz de rios, coqueirais e as casinhas construídas em linha reta. Serão apenas sete dias. Serão apenas sete noites. Em que irei conhecer uma filial do Paraíso. Tem como eu não estar ansiosa para fevereiro?

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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