O avanço da terceirização na grande imprensa

Não sei se é possível ou adequado fazer um juízo de valor sobre uma tendência que se acentua entre as grandes empresas de comunicação: …

Não sei se é possível ou adequado fazer um juízo de valor sobre uma tendência que se acentua entre as grandes empresas de comunicação: a terceirização dos serviços jornalísticos. Digo que não sei se é bom ou ruim para o mercado, pois, para a maioria dos jornalistas, o importante é estar fazendo jornalismo, foi para isso que "nasceram" e estudaram. A forma do relacionamento pode ficar em segundo plano.  Muitos acham que não é bom, porque quebra um ciclo de relacionamento entre empregado e patrão, no qual o patrão procura cada vez mais ter menos responsabilidades na relação de trabalho, concentrando seu relacionamento com foco na ação jornalística.
Demorei um pouco a escrever sobre esse assunto, mas, diante de uma evidência clara do maior jornal da Região Sul e um dos mais conceituados do Brasil, Zero Hora, não foi mais possível ficar calado: o processo começou pelo caderno de gastronomia, o Gastro, que foi concebido pela redação de ZH e  hoje é responsabilidade total do grupo Destemperados, formado por alguns jornalistas, alguns chefs e outros especialistas em gastronomia, culinária e bebidas? e em comercialização de publicidade também.
Pois o Gastrô sumiu, evaporou. Desde o início de março, o caderno Destemperados, de boa qualidade, em termos jornalísticos não é mais responsabilidade de Zero Hora/RBS. Perdemos dois grandes talentos, a Bete Duarte e o Anonymus Pinheiro Machado Gourmet. Uma pena! Espero que possam ser aproveitados em outros veículos.
Busquei algumas fontes, mas não consegui descobrir exatamente, em detalhes, como foi feito o acordo entre as partes. Por alto, alguns amigos bem informados me disseram que toda a produção jornalística e a comercialização é feita pelos Destemperados, e o caderno é encartado e distribuído pela Zero Hora que? leva uma fatia generosa do faturamento. Mas existe um custo básico impositivo: por acaso, se não venderem nenhum anúncio, os Destemperados terão que assumir um custo fixo de "x".
Bem, independente do tipo de acordo, esse caso mostra que a terceirização avança forte nas grandes empresas. Não se trata de encartar um caderno produzido por alguma editora. Nem mesmo aqueles que a Diretoria de Comercialização de Zero Hora costumava - e ainda faz em alguns setores. Agora é diferente. Vamos comparar com o que muitos criticavam na antiga TV2 Guaíba ou o atual sistema de NET, da TV Urbana e até mesmo em alguns espaços da Band, Pampa e outras com os programas religiosos: o loteamento dos espaços. Quanto é? Negócio fechado!
Bem, pelo que me disse uma andorinha, um dos temas que a editora Marta Gleich foi tratar em recente evento internacional, também tinha este foco: a terceirização. Essencialmente para reduzir custos. E essa mesma andorinha assoprou que outros cadernos de Zero Hora estão em avaliação, aqueles cujo foco pode ser bem administrado por grupos independentes, como o Campo e Lavoura, o Viagem.
Vejam que esse direcionamento pode ser um filão para outro setor de comunicação que está se expandindo: as Agências de Conteúdo. O problema destas agências é que elas são competentes e habilitadas a produzir ótimas matérias, conteúdos, como diz o nome, mas não tem o feeling, o timing e o cacoete da comercialização. E aí não dá certo: as grandes empresas querem é ganhar dinheiro e não pagar por matérias.
Como disse, se isso é bom ou ruim para o mercado jornalístico, vamos saber no futuro. Os próximos capítulos devem ir ao ar ainda neste 2015.

Autor
Júlio Sortica é jornalista formado pela Ufrgs. Foi repórter do Diário de Notícias, Zero Hora, Folha da Tarde, Jornal do Comércio, Correio do Povo, Revista Consumidor, editor da Plástico Sul, diretor de O Sul e coordenador de Comunicação da Secretaria de Planejamento do Estado do RS. Fez várias coberturas internacionais, editou publicações segmentadas.

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