Revendo conceitos sobre importância das notícias

Na semana passada, a colega jornalista Balala Campos escreveu um excelente artigo em Zero Hora sobre a valorização das boas notícias, citando o caso …

Na semana passada, a colega jornalista Balala Campos escreveu um excelente artigo em Zero Hora sobre a valorização das boas notícias, citando o caso da obra do Hospital de Clínicas - que está com prazo adiantado e terá redução de custo. Eu também vi a notícia e li a reportagem. Merecia mesmo destaque, assim como outras que passam em branco pelos nossos jornais, rádios, internet e televisão.
Não sei por onde começará o debate, mas, certamente, leitores e jornalistas não podem deixar que uma decisão de tal importância fique restrita às redações. Sempre ouço a velha e esfarrapada desculpa quando os diretores de redação querem justificar sobre a predominância de notícias negativas: "o leitor quer saber, porque assim ele fica sabendo que não está envolvido na tragédia, nem seus amigos e parente". Ah! E porque notícia boa não vende. Balela.
Realmente, as notícias ruins podem predominar, mas é preciso buscar informações positivas, ficar atento ao que acontece e, puxa, se dar conta. Claro que ninguém vai deixar de dar manchete de uma tragédia sem precedentes, de um fato envolvendo autoridades, etc e tal. Mas em muitos casos, uma notícia ruim pode ficar em plano secundário.
Precisamos sim, nós, jornalistas, por meio de nossas instituições, sejam sindicatos, associações, federações e mesmo entidades civis, discutir esses rumos da comunicação. Se deixarmos para as empresas, o objetivo não será alcançado. Vou citar dois exemplos recentes de notícias positivas que não ganharam destaque, enquanto outras foram motivo de manchete.
No sábado, leio uma notícia comovente, mas cheia de alegria e peculiaridades, perdido no meio do Caderno Vida de Zero Hora - pelo amor de Deus, não venham me dizer que estou perseguindo ZH com críticas excessivas - que uma menina mexicana estava voltando para casa depois de fazer um transplante de pulmão na Santa Casa. Estava curada e deu de presente ao Dr. Camargo um quadro que pintou. Putz! Essa notícia me comoveu, pois era a última esperança da menina. Uma vida foi salva. Será que não haveria um espaço para dar destaque?
Outra notícia interessante que deveria ter recebido manchete: o advogado Dallagnol, de Passo Fundo, que ludibriou milhares de clientes e ficou um tempo preso, depois foi solto e a notícia seguinte revelava que a punição da OAB era de um ano e ele poderia advogar. Pois mais tarde, na semana seguinte, li que ele teve sua licença cassada. Pelo menos por ora não pode advogar. Esse advogado e outros, que cometem crimes contra clientes ou contra o Estado, deveriam ter a licença cassada definitivamente. Mas a notícia não teve a repercussão que merecia. Uma pena.
Nem vou citar outra notícia que me chocou: está ruim, mas que deveria ser repercutida com todas as áreas envolvidas, entidades, parlamentares etc, etc: o Governo Federal está estudando uma forma de ajudar as empreiteiras a sair da crise em que se encontram após as denúncias da operação Lavajato, proporcionando algum tipo de empréstimo em condições especiais. Coitadinhas, não! Agora estão sem dinheiro para honrar seus compromissos. A justificativa é que foram "pessoas" e não as "empresas" que cometeram os crimes de corrupção. Ora! Essa ninguém repercutiu.
Mas também quero elogiar uma ação muito positiva: as emissoras de rádio veiculam um anúncio-notícia (acho que posso denominar assim, ou publieditorial como preferem outros) bem no espírito otimista. A RDI, Rede de Transporte Interestadual faz um "foguetinho" e destaca, creio que semanalmente, uma notícia positiva: ou uma empresa que está abrindo uma nova unidade e gerando empregos; uma rede de supermercados abrindo nova loja; uma indústria lançando um produto inovador; ou mesmo um novo serviço colocado à disposição da comunidade. Parece até um puxão de orelhas nas redações: "Olha aí, pessoal, tem coisa boa acontecendo".
E é verdade, mas é preciso procurar. Há muita coisa boa sendo feita por aí, e os jornalistas não sabem. As coisas ruins vão continuar acontecendo e merecendo manchete? Sim, faz parte da natureza do jornalismo, mas as coisas boas também precisam ter espaço.

Autor
Júlio Sortica é jornalista formado pela Ufrgs. Foi repórter do Diário de Notícias, Zero Hora, Folha da Tarde, Jornal do Comércio, Correio do Povo, Revista Consumidor, editor da Plástico Sul, diretor de O Sul e coordenador de Comunicação da Secretaria de Planejamento do Estado do RS. Fez várias coberturas internacionais, editou publicações segmentadas.

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