A volta de Poirot

"O mundo está cheio de gente boa que faz coisas terríveis." (Agatha Christie)  Quando Agatha Christie, faleceu em 1976, tudo indicava que a era …


"O mundo está cheio de gente boa

que faz coisas terríveis."

(Agatha Christie) 

Quando Agatha Christie, faleceu em 1976, tudo indicava que a era dourada da moderna literatura policial estava chegando ao final.   Um ano antes, a Rainha do Crime publicara Cai o Pano, a última novela de seu memorável detetive Hercule Poirot. Enquanto isto, do outro lado do Canal da Mancha, chegava às livrarias de Paris Maigret e Monsieur Charles, de Georges Simenon, a derradeira aventura de outro grande detetive, o Comissário Jules Maigret.

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Agora, em 2014, Hercule Poirot mostra que não está morto nem enterrado. Um editor inglês, Peter Strauss, em um golpe de ousadia (ou seria um golpe de marketing?), conseguiu convencer os herdeiros de Agatha Christie que uma jovem escritora, Sophie Hannah, possui o talento necessário para trazer o detetive belga de volta à ativa. E em pouco tempo, chega às livrarias a novela Os crimes do Monograma, onde o detetive investiga um triplo assassinato, ocorrido em um hotel de luxo em Londres. As reações do mercado não demoraram, com alguns críticos proclamando o renascimento do verdadeiro Hercule Poirot.
Outros, mais comedidos, viram um romance sombrio, neo-gótico, que difere do estilo quase vitoriano da Rainha do Crime. A novela remete a aventuras anteriores de Poirot, incluindo cenas em um cemitério e um inspetor da Scotland Yard, que convoca o detetive para atuar no caso do triplo homicídio. Só que, agora, o capitão Hastings é substituído por um Edward Catchpool, que faz o mesmo papel. Na procura por verossimilhança, Sophie Hannah usa outro truque - situar a trama em 1929, a mesma época de algumas das mais famosas investigações de Poirot.
No entanto, as comparações entre o Poirot original e o novo Poirot são e serão inevitáveis. Leitores inconformados inundaram a caixa postal dos jornais ingleses com protestos, considerando Os Crimes do Monograma um sacrilégio à memória da grande dama da novela policial.

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Sabemos que os ingleses são dedicados apreciadores de chá e de romances policiais. Mas mesmo depois da era Agatha Christie, não ficaram desamparados. A escritora Ruth Rendel, sem pretender replicar o célebre detetive das células cinzentas, publica, desde os anos 60, as aventuras do Inspetor Wexford, que vendeu centenas de mihares de exemplares e gerou uma série de TV, que ainda faz sucesso nos países de língua inglesa.
A escritora ganhou prêmios literários e condecorações e até mesmo o título de baronesa. Podemos especular que sua morte recente, em 2015, pode ter inspirado o ousado editor Peter Strauss e sua jovem escritora Sophie Hannah a procurar preencher a lamentável - e rentável - lacuna. Nos romances clássicos de Agatha Christie, os criminosos quase sempre agiam motivados por vingança ou dinheiro. No entanto, os vilões de Ruth Rendel são movidos por motivações mais obscuras e complexas. A jovem escritora, Sophie Hannah, parece trilhar o mesmo caminho:

"Nunca conhecemos alguém de verdade, até conhecer seu lado sombrio. Eu escrevo histórias sobre as sombras, onde está o mais interessante da alma humana."
Deve ter se inspirado no Inspetor Wexford, o detetive de Ruth Rendell, que dizia:

 "As facas do ciúme e da inveja são afiadas todos os dias."
Ou apenas repetindo a conhecida reflexão de Hercule Poirot: 

"São justamente as mais tranquilas e suaves pessoas que às vezes cometem as mais súbitas e inesperadas violências.               Quando perdem o controle, são capazes de tudo."

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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