A expectativa dos gaúchos com 2019

Por Elis Radmann

Para entendermos a expectativa de uma sociedade, precisamos compreender a influência dos padrões estabelecidos, as práticas cotidianas e, principalmente, os juízos de valores externados por meio da opinião pública, inclusive, a tendência do que é postado e compartilhado nas redes sociais.

O contexto em que vivemos se comporta como um poderoso influenciador de nossa percepção de mundo e, por consequência, de nossas ações e capacidade de persistir ou empreender em um objetivo. Quanto maior a crença, maior a possibilidade de sonhar, de ter um propósito e de correr atrás dele.

Por princípio, se temos bons exemplos, motivações, orientações o caminho se torna mais fácil e temos mais chance de progredir. Entretanto, quando o caminho é cheio de percalços, frustrações e dificuldades, maior é a possibilidade de indignação e de desistência.

Quando se estuda a opinião pública, observa-se que as escolhas e o comportamento de um indivíduo podem ser influenciados pelo condicionamento cultural a certas situações, a palavras, a sons/músicas, a imagens ou até outros estímulos. Quanto mais informação ou educação formal, maior a capacidade de um indivíduo analisar um contexto de forma mais ampla. Porém, a capacidade de empatia e a visão dialética estão mais associadas aos valores, à compaixão, à espiritualidade e à religiosidade.

Tendo em vista os novos líderes eleitos (presidente, governador e deputados) o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião verificou a expectativa dos gaúchos com a possibilidade de estes novos representantes melhorarem a realidade dos gaúchos.

Quase metade dos gaúchos (48,9%) não espera melhorias em seu cotidiano. A outra metade se divide entre os que têm expectativa de melhoria (24,9%) e os que são pessimistas e acreditam que a vida irá piorar (21,4%). Sendo que 4,8% não têm opinião formada sobre o novo cenário.

A pesquisa indicou que quanto mais jovem, maior é a crença, a expectativa com dias melhores. Ao contrário, quanto maior a idade, maior é a desesperança.

Os que acreditam em melhoria depositam esperança na renovação política que ocorreu no Estado e no País. Os que avaliam que não haverá mudança, acreditam que não há interesse dos políticos para resolver os principais dilemas da sociedade e citam os interesses pessoais dos políticos e a corrupção como o principal motivador das práticas vigentes. Os pessimistas têm uma visão unânime em torno da corrupção como empecilho para melhoria de vida da população.

Os entrevistados relatam que corrupção se manifesta por meio do exercício de uma prática não legitimada em termos morais, políticos e até religioso, "não é certo, mas quem tem o poder faz". A corrupção está presente em todos os âmbitos da sociedade e, na maioria dos casos, está disfarçada de "jeitinho", é alimentada pela ideia de tirar vantagem de algo ou de burlar uma burocracia.

Os entrevistados são participativos em pesquisas que avaliam a realidade em que vivem. Muitos entrevistados fazem análises complexas e apontam o que acontecerá no cenário político brasileiro, citam as artimanhas dos políticos tradicionais e a tendência dos eleitos se tornarem reféns dos conluios políticos ou serem absorvidos pelo sistema político brasileiro, incluindo a judicialização da política.

E, assim, entramos o ano com expectativa relativa e com o desejo de que os líderes sejam líderes e os vícios da cultura política sejam suprimidos pelas virtudes da democracia, que deve visar ao bem comum.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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