Carnavalha

Este Carnaval não foi igual a nenhum que passou: sabe-se que os Três Poderes ficaram revoltadíssimos com as críticas a eles nos enredos de várias escolas de samba do Rio.

Significa que as autoridades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário vestiram as carapuças oferecidas pelos carnavalescos.

Belíssimas carapuças, aliás: confeccionadas em lamê, cravejadas de strass e bordadas com lantejoulas, deram um luxuoso destaque aos governantes, políticos, juízes e policiais.

Se não assimilaram tão glamoroso figurino foi apenas por timidez ou modéstia, duas das mais conhecidas falsas virtudes dos nossos poderosos homens públicos.

A revolta deles todos, citados indiretamente nos temas e sambas-enredos, dessa vez não ficou apenas na espuma raivosa na boca dos protagonistas da roubalheira e da safadeza nacional. Eles já se reuniram e já decidiram como acabar com esses dois tipos de acusação, a fantasiosa e a fantasiada.

A estratégia é a mesma que Juscelino adotou em 1960: transferir todos os desfiles carnavalescos de 2019 em diante para Brasília. A Esplanada dos Ministérios viraria uma imensa Sapucaí e a Apoteose e o Palácio do Planalto seriam uma coisa só.

Com essa concentração geográfica, os temas e os sambas seriam criados em saudável e amigável parceria entre sambistas, carnavalescos e homens públicos.

Imaginem a harmonia dos interesses: as entidades receberão todo apoio dos Três Poderes, com vultosas verbas para alegorias e adereços, e os Três Poderes terão em troca um desfile a exaltar a ordem, o progresso, a pujança da economia, a segurança reinante no país, enfim, as belezuras da realidade social.

A única coisa ainda discutível é a ideia de mudar a data do Carnaval, de fevereiro pro 7 de Setembro.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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