Cidade abandonada à mercê de uma péssima administração

A chuva intensa que se abateu sobre o céu de Porto Alegre no início da noite desta terça-feira, 27, e que em questão de minutos alagou as principais ruas e avenidas da cidade, trancou os cruzamentos mais importantes, derrubou árvores e deixou alguns bairros sem energia elétrica por várias horas, fez eu me lembrar de como a capital gaúcha está abandonada. Carece de um prefeito com outro perfil. Alguém que não se preocupe apenas em programar sessões de dança nos bairros, afastando a população para não reclamar da ausência de políticas e cercado de puxa-sacos oficiais. Alguém que mostre um mínimo de preocupação com a falta de vagas nas escolas, com o gosto horrível da água que sai das torneiras, com o péssimo transporte coletivo, com o lixo que se acumula na rua, com as praças e parques sem iluminação.

Nas gestões anteriores dos ex-prefeitos José Fogaça e José Fortunati, as chamadas administrações FoFo, os recursos eram desviados para outros setores, mas eles ainda existiam. Ainda que de forma insignificante. Sem grandes obras, sem grandes viadutos, sem grandes estações de bombeamento de água, sem a construção de escolas, sem cuidado especial com o meio ambiente e sem a compra de lâmpadas para a iluminação pública. Os investimentos foram reduzidos, mas apareciam pulverizados em alguma obra mal inaugurada para a Copa do Mundo (dinheiro, na maioria dos casos, federais) ou no corte da fita de um pedaço ridículo de alguma ciclovia ou no anúncio da pintura de alguma faixa de pedestre.

Desde que Nelson Marchezan Júnior (PSDB), tomou posse como prefeito de Porto Alegre, em 2 de janeiro de 2017, a cidade está entregue às traças, ao abandono, à falta de administração comprometida com os reais problemas da cidade. Triste. Cruel. Melancólico. Injusto para um município que já foi reconhecido pela ONU como a melhor metrópole para se viver no Brasil. Feio para uma cidade que foi eleita modelo de gestão e participação e que já teve a melhor empresa de transporte coletivo, a Carris, escolhida pela Associação Nacional dos Transportes Públicos. Desagradável para uma Porto Alegre que foi reconhecida como a Capital Ambiental do Mercosul e, em 2001, apareceu como o melhor atendimento do SUS no Brasil em uma pesquisa com usuários feita pelo Ministério da Saúde.

Hoje, vive em Porto Alegre quem não tem opção para fugir para outras cidades, seja por motivos familiares, profissionais ou qualquer outro, porque tudo o que não se encontra na capital gaúcha é qualidade de vida. A segurança é caótica, os serviços de capina e varrição deixam muito a desejar, a iluminação pública é insuficiente nas ruas, nas avenidas, nas praças e nos parques. O transporte coletivo é um jogo de loteria. Com muita sorte, o usuário consegue uma vez por semestre um ônibus que cumpra a tabela de horários. E água? O que dizer da água de cor escura, cheiro ruim e gosto duvidoso que jorra das torneiras e dos chuveiros? Fala sério. A água para beber até pode ser resolvida com a compra de garrafas de água mineral, mas e o banho? Às vezes, tenho a impressão que saio mais suja do banho do que quando entrei.

Nunca antes na história a cidade esteve tão mal cuidada, tão suja, tão abandonada, tão às escuras, tão mal administrada, tão jogada às traças. Fico a pensar com meus botões porque uma pessoa, sem as mínimas condições, candidatou-se a um cargo de prefeito. Não consigo encontrar resposta. Talvez a resposta possa ser dada pelos eleitores do atual prefeito de Porto Alegre. Mas agora que a cidade está um lixo, parece que sumiram os eleitores e eleitoras do Júnior.

Saudades do tempo em que eu tinha orgulho de ter nascido, crescido e de viver em Porto Alegre.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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