Guerreiro das gôndolas

Por Flávio Dutra

(Vagamente baseado em fatos reais)

- Alguém viu o Hailander?

Quem pergunta é a Cyntha Prescila.

- Parece que tá lá no depósito.

Quem responde é Ricarlison.

- Não mesmo, vi o Hailander lá pros lados do vestiário.

A interferência foi da Kimberly

- Bah, este cara vive sumindo.

A queixa é do Uillian.

(- Já tá merecendo um corretivo)

O resmungo, quase inaudível, é do Dionathan.

- Este guri não tem mais jeito.

 O repique é da Qelly Maria

Vocês estão autorizados a pensar que o Hailander, o guri do supermercado, recebeu o apelido por causa do personagem dos filmes e séries Highlander, conhecido como o Guerreiro Imortal,  o escocês que, mesmo ferido mortalmente em combate, ressuscitava tempos depois. Nosso Highlander das gôndolas teria o dom de desaparecer durante o expediente para reaparecer tempos depois, lépido e faceiro, pronto para novas batalhas de empacotamento nas caixas.

Nada disso, no crachá do garoto mirradinho, de cara espinhenta e cabelo espigado que lembra o primeiro ministro inglês, está escrito Hailander José da Silva.

O pai era fã do herói, mas a mãe não abriu mão de juntar o nome  do pai, seu Zé, homem respeitável no pedaço, ao nome do guri, que não fez jus à fama do avô nem à coragem do Highlander, mas tão somente à capacidade de sumir e reaparecer. Para não dizerem que não tem nada mais a ver com o personagem, o garoto é meio vesguinho como Cristofer Lambert, o Highlander original. Aliás, por pouco não recebeu o nome de Kristobert em homenagem ao ator, mas a mãe achou que aí já era um exagero.

Quem revela esses histórico sobre o  garoto é o gerente do mercado, um sujeito simpático e amigo da família, de nome estranho para aquele ambiente:

- João Carlos da Silveira, às suas ordens.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

Comentários