Marielle, presente!

Fiquei um tempo relutando se deveria escrever sobre isso ou não. Se iria acertar ou errar a mão. Se tentar me colocar no lugar de tantas pessoas tão diferentes de mim seria o correto. Se não iriam achar que eu estava me aproveitando da situação. Foram muitos ses pelo meio do caminho nestes últimos dias. Mas este foi um espaço que me foi concedido para que eu pudesse colocar as minhas impressões, aflições e o que eu mais tivesse vontade a público. E agradeço a cada semana pela confiança da equipe do Coletiva.net por isso.

Na última quarta-feira, dia 14, saí da agência ansiosa em direção a Arena para me divertir um pouco e cantar meus hits popzinhos queridos. Foram três shows de mulheres incríveis, cada uma com seu jeito, seu estilo e sua maravilhosidade. Valéria Houston, seu suingue brasileiríssimos e suas letras incríveis. Bebe Rexha, sua calça de vinil e suas músicas ótimas de cantar gritando. E, claro, Katy Perry e seu um zilhão de sucessos, uma produção incrível e uma queridisse com seus fãs sem tamanho. Usei toda a bateria do celular que podia no show e quando cheguei em casa consegui abrir o Twitter, só consegui pensar "que P**** é essa?" e comecei a ler aquela enxurrada de posts e notícias sobre o assassinato da Marielle Franco. E até hoje não parei.

Entre as matérias de veículos tradicionais e alternativos, as reflexões de amigas e amigos têm feito uma grande diferença para tentar entender tudo o que está acontecendo e o que está representado na morte de Marielle. Como muitas pessoas, não conhecia o trabalho que era desenvolvido por ela, nem antes, nem depois de ser eleita. Mas busquei em fontes seguras, amigos nos quais eu confio muito, saber mais sobre o que ela fazia, como pensava e que linha seguia. Uma mulher, negra, mãe, lésbica e, como ela mesma se definia, cria da favela da Maré. Socióloga com mestrado em Administração Pública, eleita vereadora no Rio de Janeiro pelo PSOL. E que o mais provável é que tenha sido morta pelo o que defendia e o que denunciava. Assim, fui descobrindo que, além de uma política que realmente se importava com a parte da sociedade que a tinha eleito, era uma mulher e tanto.

Mas além de ficar assustada com o assassinato da Marielle, acho que fiquei ainda mais espantada com que as pessoas são capazes de inventar e vomitar nas redes sociais sobre um assunto como este. O tal "defendia bandido, olha como acabou" é fichinha perto do tanto de asneira jogada no vento e falta de empatia. Mas o suporte positivo veio de tantos lados, que a gente até tende a esquecer os idiotas que disseminam ódio e fake news por aí. Deputados no Parlamento Europeu pararam uma sessão para homenagear a vereadora carioca. Ela foi tema de um painel no SXSW. As principais capitais do País (e também algumas cidades fora do Brasil) tiveram manifestações homenageando Marielle. Na formatura dos cursos de Comunicação do UFRGS, no dia seguinte ao crime, teve minuto de silêncio, teve coro de um Salão de Atos cheio e tiveram discursos de oradoras de turma incríveis. Das seis formandas (sim, todas mulheres) que falaram por seus colegas, quatro eram negras. Meus olhos transbordaram algumas vezes.

Agora boa parte da população está de olho no andamento da investigação para saber, principalmente, quem foram os mandantes do crime. Mas será que irão conseguir descobrir? Tenho minhas dúvidas. E são muitas. Enquanto isso, a gente segue vendo, lendo e ouvindo as manifestações dos familiares de Mariele Franco, de figuras públicas, do meio político e artístico (Katy Perry levando a filha e a irmã de Marielle para cima do palco para um minuto de silêncio foi lindo), assim como de pessoas anônimas ou nem tanto falando sobre o que ela representava e ainda vai representar por um bom tempo.

Vou usar um post de um amigo muito querido, morador do Rio de Janeiro e que tinha um relacionamento próximo com a Marielle Franco fez no dia seguinte da sua morte para finalizar este texto, porque quem está de fora nunca consegue alcançar a dor de quem está próximo da situação:

"Foi uma noite terrível, eu tentava dormir e não conseguia, a tristeza me consumia, como há muito tempo não acontecia.

Tenho a certeza que a forte ventania de ontem foi Iansã te recebendo de braços abertos. Guerreiras se reconhecem.

Aos culpados, que o machado de xangô caia sobre eles.

Que honra que você nos deu no seu curto tempo por aqui. Honra maior será poder explicar ao Jotavê e Malu quem você foi, mais que nos livros de história, você vai estar sempre dentro de nós.

#mariellepresente"

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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