Mulheres atuantes em todos os lugares do mundo, do planeta, da terra...

Agenor de Miranda Araújo Neto, um dos poetas mais geniais do século passado, conhecido como Cazuza, que teria completado 60 anos no último dia 4 de abril, já disse: "dias sim, dias não, eu sou sobrevivendo sem um arranhão", na sua música "O Tempo Não Para". E eu pego carona em parte da sua canção e escrevo: dias sim, dias não, eu tenho que voltar a escrever sobre o machismo, o preconceito e a discriminação, ainda tão presentes na nossa sociedade e, principalmente, dentro dos veículos de comunicação social, onde, imaginava-se, vejam só, que as mentes já estariam mais abertas. Mas, dentro de redações de jornais, revistas, assessorias, agências, estúdios de rádio e de televisão, escondem-se disfarçados de feministas, alguns dos mais preconceituosos. Claro que existem exceções. Muitas, diga-se de passagem.

Pois há pouco tempo, falei aqui no portal sobre o movimento #DeixaElaTrabalhar e também afirmei, categoricamente, que lugar de mulher é onde ela quiser. É só olhar na busca e ler as duas colunas citadas acima. E pensei que este tema seria deixado de lado, pelo menos por um tempo. E eis que na semana passada (e perdão se o assunto já envelheceu um tantinho), ao vivo, no programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, a jornalista Duda Streb foi destratada pelo seu colega, o também jornalista Eduardo Bueno, que responde pelo apelido de Peninha. Pois não é que o Peninha, que diz também ser historiador, resolveu mandar a Duda de volta para a cozinha, de onde, segundo o genial jornalista, ela nunca deveria ter saído. Mas, em que mundo nós estamos vivendo?

Mais estranho é que um dia depois do tal comentário machista, visivelmente contrariado, Peninha pediu desculpas para Duda e piorou a situação. De maneira homofóbica e apenas reafirmando seu preconceito, ele disse, entre tantas bobagens, que havia feito uma piada. "Eu estou convidando a Duda para almoçar para me desculpar pela piada, não porque era uma piada assim tão ruim, mas era velha, antiquada...Eu mesmo morei em Gramado por anos e deixava minha mulher trabalhar". Sinceramente, era melhor ter ficado calado, quieto, ter sido colocado no cantinho do pensamento pela empresa, como as escolas infantis fazem hoje em dia quando algum aluno faz alguma arte. Sabem quando a emenda fica pior que o soneto?

Depois de ouvir o pedido de desculpas, Duda afirmou ter encarado a fala de Peninha como uma brincadeira, porém infame (veja matéria aqui no portal). E concluiu: "ela não tem graça, pois nós, mulheres, sabemos o tamanho da nossa luta e do nosso esforço, e em como esse mundo esportivo é machista e preconceituoso". Pois é, colega Duda, justamente por isso é que tal comentário não foi uma brincadeira infame. Sabe porquê? E tenho certeza que sabes, Duda! Porque são estas brincadeiras infames que perpetuam o machismo na nossa sociedade. O que Peninha disse é reflexo de uma sociedade patriarcal que ainda vê a mulher como um ser inferior, sem condições de competir com igualdade no mercado de trabalho, tanto que ele se acha no direito de "deixar a sua mulher trabalhar". Mas que peninha deste Peninha.

Sei lá, vai que alguém ainda não sabe, prefere não saber, finge não saber, até por ser mais conveniente, vamos reforçar. Principalmente, porque, quando vemos declarações assim tão homofóbicas e misóginas, nós feministas, entendemos que a luta precisa prosseguir, cada dia com mais força e mais adesão. Então, vamos repetir. Lugar de mulher é onde ela quiser. Nunca onde pensam que ela só deve ficar. A mulher pode estar nas redações sim. E, hoje, representam mais de 70% da mão de obra empregada nestes locais. A mulher pode ser comentarista de futebol sim. E, hoje, elas comentam melhor que muito homem e sabem sim o motivo de um jogador estar em posição de impedimento. A mulher pode estar em todos os cantos. Dentro e fora do mundo da comunicação. Cuidado, elas estão dominando o mundo.

Que peninha. Vejam só. Em 2018, temos mulheres atuantes em todos os lugares do Brasil, do mundo, do planeta, da terra e de onde mais elas desejarem. Nos veículos, nas editorias, nos sites, nas agências de publicidade, nas assessorias, nas faculdades, nos bancos, nas creches, nas festas, nas baladas sozinhas inclusive, bebendo e não caçando, nos estágios, nos estádios, nos jogos de todos os tipos de esportes, nas arquibancadas ou nos campos. E se ela quiser, mas só se ela assim desejar, e não obedecendo uma ordem de outro ou outra qualquer, ou pela bondade de alguém que pensa ter este privilégio por ser marido ou companheiro, até na cozinha. Mas só se ela quiser e se sentir realizada assim.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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