Nas pegadas das minhas sapatilhas e dos meus dois pares de tênis

Por Márcia Martins

Nestes mais de 45 dias de residência nova no bairro boêmio da Cidade Baixa, desenvolvi pequenos hábitos que permitem arriscar que, muito em breve, serei uma conhecedora exímia das belezas, dos encantos, dos bares, dos cafés e de tudo mais que o local tem a oferecer. Claro que será preciso um longo tempo de caminhada (talvez nem tenha mais tanto a somar assim na minha existência já beirando os 60 anos) para alcançar o nível de sintonia que tinha com o Bom Fim, bairro que, como citei em colunas anteriores, me acolheu e me abrigou por quase 27 anos, em períodos intercalados da adolescência e da fase adulta ou quase madura (como alguns preferem dizer). Mas sou persistente e não desisto assim tão fácil, não.

E, de carona na música de Bebeto Alves, até posso cantar que "nas pegadas das minhas sapatilhas e dos meus dois pares de tênis", trago algumas ruas do bairro novo (pelo menos para mim) e na cidade dos meus versos o sonho dos meus amigos. Pelo menos uma vez por dia, caminho por toda a extensão da Avenida Venâncio Aires, sempre sem muito dinheiro (até porque não o tenho sobrando) e com aparelho de celular bem escondido que é para não facilitar a vida para os tais amigos do alheio. Com calma e observando cada porta, cada mercadinho, cada café, cada janela escancarada ou não, vou anotando as peculiaridades da via. Assim, desenho na mente a avenida que começa na Rua José do Patrocínio e encerra sua vida na Avenida Osvaldo Aranha.

Agora, cantarolando uma música do Almir Satter e Renato Teixeira, aviso que "ando devagar porque já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais" e me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, para encarar o desafio de recomeçar e redescobrir novos andares, saberes, lugares e quereres. Para isso, conto com o auxílio luxuoso e indispensável das amizades que têm sido incansáveis em indicar e sugerir recantos do bairro onde o papo pode rolar solto, as gargalhadas alcançarem volumes absurdos e os finais de tarde serem regados com cafés, guloseimas ou uma cerveja bem gelada. Desde que toda e qualquer caloria extra adquirida nestes encontros seja queimada nas caminhadas diárias pela Redenção.

Por indicação de duas queridas, uma estabelecida lá no México, e outra parceira nas rotinas diárias do sindicalismo e feminismo (e não vou citar os sobrenomes porque não pedi autorização das gurias para tanto), a Monica e a Jeanice, conheci dia destes o tal do Café do Avesso. Local pequeno, ambiente simpático, de boa receptividade que fica ali na muvuca da Rua da República. Na frente do café, a loja Sirius, de artigos esotéricos, que já havia sido apresentado pela sempre antenada filha Gabriela, e onde voltei numa destas andanças pela Cidade Baixa para renovar o meu estoque regulador de incensos. E ao lado da minha casa, na Venâncio, visitei o Barulhinho Bom 210, da simpática Sylvia, que se mostrou uma afável anfitriã.

Tenho anotada cada sugestão que me é passada. E, na medida do tempo disponível e do dinheiro necessário (aposentada vive sempre fazendo as contas para sobreviver até o final do mês), vou conhecer e apreciar outras indicações. Como o café falado pela Thaïs, ali na Rua Santa Terezinha, onde o cusco #QuincasFernandoMartins pode me acompanhar. Se é que ele vai querer voltar da guarda compartilhada (mas isto é assunto para outra coluna porque estou já com meu coração despedaçado pensando que tal hipótese existe). Tenho algumas indicações do Yago, do Jorge, da Marisa (de quem sempre vivo afeiçoada), da Vera Daisy e de outros frequentadores e moradores da Cidade Baixa ainda a serem conferidas. Novas ideias de passeios, cafés, restaurantes, locais para se renovar os assuntos no bairro, por favor, aqui neste guichê.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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