O que não passa

Por José Antônio Moraes de Oliveira

 

"Nos dias quotidianos é

que se passam os anos."

Millôr Fernandes.

A comovente busca do tempo perdido de Marcel Proust desde muito não figura na lista dos livros mais-vendidos. E a febre de best-sellers e séries de TV do tipo 'As 1001 Coisas que você precisa fazer antes de morrer' já está esquecida. Mesmo assim, ainda permanece entre nós a angústia do que fazer com o Tempo, com as horas, dias, semanas que se escoam entre nossos dedos. Shakespeare definiu o Tempo como um ladrão enquanto Albert Einsten disse não passar de uma simples ilusão.

***

Mesmo assim, a mania de coisas a fazer enquanto estamos vivos funcionou como uma provocação, como uma tentativa de nos conscientizar de como negligenciamos o tempo. O que confirma uma sentença bíblica que diz:

"Nos dedicamos demais ao que passa e esquecemos o que não passa."

Alguns pensadores modernos sugerem uma reflexão sobre esta verdade, que nos conduza à compensação do tempo perdido em passatempos, através da dedicação a valores mais perenes, sejam espirituais ou materiais.

O respeitado historiador e crítico inglês Herbert Read costumava dizer que o melhor uso do tempo do homem moderno é a peregrinação pela História da Arte.            

Por coincidência, é o que nos sugere a coleção recentemente reeditada pelo Museu de Arte Moderna de New York, "A Arte que você precisa ver antes de morrer". A coleção nos convida a um passeio pela história da Arte, que se confunde com a própria cronologia do homem.

A jornada começa com os primeiros esboços rupestres, na época em que o homem das cavernas lutava contra intempéries, caçava para não ser caçado, tentando sobreviver em um mundo desconhecido e desprovido de tudo. Anda assim, encontrou tempo e inspiração para a criação artística. Mais tarde, a Idade Antiga nos legou algo inestimável: a escrita. Os símbolos e sinais criados pelos egípcios desenvolveram formas de comunicação que permanecem até hoje.

Por sua vez, os gregos do Século V mostraram aptidão em afrescos, monumentos e edificações, usando o homem como referência, que passou a ser considerado o centro da perfeição. Os romanos por sua vez, impactaram o conceito da arquitetura, através de construções perenes. Já na Idade Média, a Arte foi essencialmente religiosa, enquanto que no período renascentista, manteve a relação com o homem, incluindo o teocentrismo, com Deus como centro do mundo. A idade medieval foi um período da história que prevaleceu durante dez séculos. Com o Renascimento, a Europa se transforma e dá origem à Idade Moderna.

A historiadora Barbara W. Tuchman apregoa que os livros são os portadores da Civilização. Pode-se estender este conceito à Arte. Sem pintura, escultura e arquitetura, a história permaneceria sem voz, a criação e o pensamento, imobilizados. Sem a Arte, o desenvolvimento da civilização teria tomado outros caminhos. Assim como a literatura, a Arte abre janelas para as mudanças. A criação artística pode ser comparada a uma chama que ilumina os tesouros da mente.

Assim como os livros são a humanidade impressa, a Arte, como disse um poeta, é um "farol erigido no oceano do tempo". Ao longo dos séculos, dos tempos e dos anos, artistas famosos ou artesões anônimos tentaram cristalizar o tempo criando Arte. Foi o que fizeram Leonardo da Vinci e Ludwig van Beethoven. Ou o desconhecido pedreiro que cinzelou seu nome em um bloco de granito encravado nas fundações da Catedral de Notre Dame e predestinado a permanecer enterrado através dos séculos.

"O tempo é muito lento para os que esperam.

Muito rápido para os que tem medo.

Mas eterno para os que amam."

William Shakespeare.

***

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

Comentários