Profissionais e estrelas

Por Flávio Paiva

A exemplo de uma organização, também em times de futebol existem profissionais e estrelas. A final da Copa do Mundo 2018 deixou muito claro isto.

Nossos jogadores - não preciso citar um em especial - comportaram-se como estrelas. Chiliques, pitis, quedas, simulações. Além disto, reclamações acintosas e de enfrentamento e bate-boca com árbitros. Para mim, jogadores assim não são profissionais no sentido estrito da palavra, mas estrelas, no mau sentido que esta palavra pode carregar.

Já jogadores como os da Croácia comportaram-se como verdadeiros profissionais: lutaram pelo objetivo obstinadamente e no limite de suas forças até o fim, até que não pudessem mais. Sem grandes altercações, sem simulações, sem reclamações acintosas contra o árbitro, acatando suas decisões (concordassem com elas ou não), num exemplo de respeito à hierarquia e até de humildade. Que fique o exemplo para o mundo corporativo e público.

Fazendo paralelo com organizações, tanto públicas quanto privadas, saltam aos olhos no Brasil comportamento de estrelas (mesmo em cargos de baixo escalão). Falta de respeito e cumprimento às decisões superiores ou práticas estabelecidas pela empresa/órgão público. As coisas andam assim: "Não concordo e ponto, ajo de outra forma, da forma que bem entendo". E estes indivíduos, na medida em que vão atingindo cargos de chefia (não chamo de liderança, pois, para mim, um líder é alguém com um comportamento ético), pioram estas características, se tornam cada vez mais estrelas e cada vez menos profissionais. Acessos de fúria, assédio moral ou até sexual, dentre muitas outras reações. E um jeito próprio e em desacordo com os padrões da empresa de fazer a gestão.

Jogadores de futebol muito mais, mas também chefes de organizações são formadores de opinião, estão em posições que tendem a ser imitadas por muita gente. Não é preciso ir muito longe: Donald Trump está se mostrando um presidente absolutamente instável, intempestivo e boquirroto. E se trata apenas da presidência do país mais poderoso do mundo.

É preciso uma reformulação total no âmago da sociedade, em suas raízes profundas: a hierarquia e o respeito devem ser restabelecidos, valores resgatados, conduta ética de pronto retomada. Mas é preciso que os cidadãos brasileiros sejam parte disto, valorizando o que merece valor. Recentemente, houve o episódio de um youtuber/influencer que disse que o jogador Mbappé promoveria um belo arrastão na praia. Só que um indivíduo destes tem milhões de seguidores. Felizmente, com a repercussão negativa, perdeu patrocinadores e foi amplamente criticado, a exemplo de outros youtubers e influenciadores que extrapolaram.

Não acho que o humor tenha que ser politicamente correto, pois esta é uma praga que se alastrou na sociedade nos últimos anos. Mas há um limite tênue (mas importantíssimo) entre fazer graça, brincadeira até com algum fato ou característica de um indivíduo ou situação ou desrespeitá-lo de forma acintosa.

Espero que nossos jogadores tenham aprendido uma lição nesta Copa do Mundo (embora duvidando que a tenham aprendido, pois não aprenderam depois dos 7x1 da Alemanha): é preciso ser muito mais profissionais e muito menos estrelas. Guarde-se uma pequena porção para o estrelismo, mas predomine - e muito - o profissionalismo.

Igualmente nas organizações: que colaboradores, servidores, chefes e até líderes adotem condutas profissionais, não de estrelismo. De alguma forma, o estrelismo está na moda, o que não seria um problema em si, se não resultasse esta adoção na corrosão de valores como trabalho, seriedade, respeito e caráter.

DICAS DO GUION

Com todas estas mudanças de clima, chovendo ou não, fazendo frio ou não, um pilar do bom cinema, gerido com ética e respeito, está o Guion do alto dos seus 23 anos. Pois ele novamente prepara uma seleção extremamente digna e atraente para esta semana:

Estreia nacional:

'Orgulho' (França-Bélgica, Comédia-Drama, direção de Yvan Attal, 95min)

'Bergmann' - 100 anos (Suécia, Documentário-Biografia, direção de Jane Magnusson, 117min)

Primavera em Casablanca (França, Drama, direção de Nabil Ayouch, 119min)

'Egon Schiele' (Áustria-Luxemburgo, Drama-Biografia-Histórico, direção de Dieter Berner, 110min)

Pré-estreia:

'A festa' (Reino Unido, Drama-Comédia, direção de Sally Porter, 71min)

Em cartaz

E seguem em cartaz os excelentes: 'Hannah, 50 são os novos 30' e 'Uma casa à beira-mar'.

Vinte e três anos construídos com ética, com respeito, com qualidade. Vinte e três anos não são dois anos. São dias décadas dedicadas à Sétima Arte e aos gaúchos. Além de delícias no café, uma seleção de livros, obras de arte, CDs, tudo de primeiríssima qualidade, mantendo o padrão! O que está esperando? Vá hoje mesmo conferir as estreias!   

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