Solidão e silêncios - I

Por José Antônio Moraes de Oliveira

Edward Hopper se tornou conhecido por suas enigmáticas e muitas vezes assustadoras pinturas. Ele viveu como um personagem saído de seus quadros - um homem taciturno, pouco falante e introspectivo. Raramente concedia entrevistas e seu convívio social era protegido e vigiado pela esposa Jo. Quando a prestigiosa Academia Nacional de Arte e Letras lhe concede sua Medalha de Ouro, ele agradece com uma palavra:

"- Obrigado."

Quando Edward Hopper morre em 1967, apenas oito pessoas estavam presentes ao seu funeral. Mas não tardaria muito para que ele fosse reconhecido como o mais importante pintor realista da América do século XX. Sua visão extremamente subjetiva da realidade refletia seu próprio temperamento em paisagens desoladas, salas vazias ocupadas por figuras solitárias. Hopper demonstrou que o realismo não precisa ser uma mera cópia do que vemos, mas uma interpretação visceral e pessoal.

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Nos últimos 50 anos, especialistas e críticos de arte gastaram muita tinta e papel, procurando decifrar os significados da obra de Edward Hopper. Até construindo criativos paralelos com a literatura. Um crítico escreveu que suas pinturas retratavam o fracasso do American Dream, da mesma forma como F. Scott Fitzgerald em "O Grande Gatsby":

"Assim como Jay Gatsby passeia a solidão rodeado de multidões e festas em sua mansão, os personagens de Hopper são pessoas solitárias em salas e paisagens vazias."

Outros procuraram influências e motivações ocultas em sua vida pessoal, gerando controvérsias e nenhuma unanimidade. Sua biógrafa, Gail Levin, afirmou que seu famoso "Nighthawk" teria sido inspirado em "Le Café de Nuit a Place Lamartine", de Vincent Van Gogh, que, foi visitado várias vezes pelo pintor, quando esteve em exposição em New York.

Tese logo rejeitada por outros estudiosos da obra de Edward Hopper, que lembram que "Nighthawk" data de janeiro de 1942, quando os Estados Unidos estavam sob o impacto do ataque a Pearl Harbor. Assim, antes de refletir o fauvismo dos impressionistas, o quadro seria um retrato da angústia dos norte-americanos diante da ameaça da guerra.

Outros lembram que Hopper era um atento observador da reação das pessoas, em uma época em que o som dos discos, do rádio e do cinema estava onipresente no cotidiano em cada cidade norte-americana. O resultado, figuras anônimas que não se comunicam, olhando por uma janela ou perdidas em um mundo que está além do quadro, de paisagens melancólicas, iluminadas por luz quase fantasmagórica.

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O vazio dos personagens de Hopper está nos balcões de lanchonetes, nos quartos de hotéis, postos de gasolina, ruas e paisagens desertas. Cada quadro conta uma história muito particular sobre o cotidiano de homens e mulheres, sempre gente comum e solitária. Basta observar a leitora em "Hotel Room", as mulheres no café em "Chop Suey" ou o casal em "Room in NY". Todos eles têm muito em comum entre si.

Como os pescadores de "Ground Swell" a jovem tristonha de "Morning Sun" e as quatro melancólicas figuras na lanchonete de esquina no emblemático "Nighthawks".

Em 1925, pinta um de seus quadros mais admirados, "House by the Railroad", que é adquirida pelo Museum of Modern Art. Mostra uma mansão isolada, sem ninugém à vista, junto a uma linha de trem. Aqui, Hopper desnuda o lado misterioso e sombrio da cena suburbana, como um contraponto à euforia do consumismo do sonho americano e seu glamour multi-colorido. Não seria por acaso ou acidente que o diretor Alfred Hitchcock, ao criar o Hotel Bates no clássico "Psicose", reproduziu exatamente a mansão pintada por Hopper.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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