Somos mesmo essa coisa mais linda - e muito mais

Por Grazi Araujo

Ser surpreendida positivamente é uma das coisas que mais me alegra nessa vida. Seja em atitudes, resultados, novos sabores ou mesmo em um filme ou série sem qualquer prévia indicação. É bom também, claro, quando recebemos sugestões de amigos e sabemos que não será perda de tempo investir na experiência. Mas a surpresa é sempre uma delícia.

Neste último final de semana, deitada em frente à televisão e zapeando o controle remoto, decidi assistir à série brasileira 'Coisa mais linda', sem saber muito do enredo ou do que exatamente abordava. Tinha ouvido falar que se passava no Rio de Janeiro e que tinha música envolvida, mais nada. Então apertei o play e paguei pra ver o que estaria por vir. (Alerta de spoiler: estou contando os dias para saber quando se inicia a 2ª temporada).

Eu, que não sou daquelas que fala muito - abertamente - sobre as mulheres, as lutas, as desigualdades, os preconceitos e tudo que sabemos que há neste mundo, me encantei com a sensibilidade e a realidade que compõem o enredo. Está longe de ser uma história de "mimimi", o que alguns homens podem ter usado como desculpa para não assistir. Conselho meu? Meninos, façam isso: assistam! Aproveita o feriado de Páscoa e dá uma maratonada aí. 

Vivemos em uma sociedade que está querendo - pelo menos eu creio - ser melhor em tudo. Nossas crianças, quando não influenciadas por ambientes e pessoas desrespeitosas e preconceituosas, nascem e crescem entendendo que cada um ama, trabalha e se veste como, com quem e com o que lhe faz feliz. As campanhas de publicidade trazem, cada vez mais, a diversidade estampada. Em Nova Iorque, naquelas dezenas de telas luminosas na Times Square, é possível ver o quanto os diferentes perfis estão nas propagandas, coisa mais bonita de se ver. As redes sociais também mostram bem essa realidade, de uma forma diferente, mas cumprem um bom papel. Acredito que desde que o mundo é mundo, todas as opções sempre existiram, mas que de acordo com o grau de evolução de cada um, isso foi sendo trazido mais e mais para o mundo real.

Falando em mundo real, não há como negar que ainda existe muita herança daqueles pensamentos machistas lá da década de 50, como bem retratado na série. Diariamente, ainda nos deparamos com situações e com pessoas que são dignas de pena, não vejo outro adjetivo. Cabe a nós, mulheres, mostrarmos que não queremos ser comparadas com os homens, até porque somos bem diferentes. Não quero comparar salário, competência, inteligência. Quero o que for meu, por merecimento. Por que precisa ser igual? Posso querer mais? Menos não podemos mais aceitar, eu assino embaixo por essa luta. Só não escuto muito as mulheres que são mais engajadas nesta busca dizerem que querem o tanto que merecem e que, se for mais, não deve haver impedimento.

Ideologias políticas à parte, vi na imprensa, dia desses, que uma deputada federal negou uma flor de um colega que foi se desculpar ou algo assim. "-Não quero flores, quero respeito", ela disse. Ora, eu quero flores e respeito e chocolate e carinho e responsabilidade compartilhada com filhos, casa, contas. Quero tudo que eu tenho a vontade de querer.

Cada gênero tem suas vantagens e desvantagens, suas delicadezas e gentilezas, suas forças e fraquezas. Não precisa ficar tudo igual, perderia a graça, no meu entendimento. O que precisa é que os homens entendam que estamos aí, no jogo, na lida, no mercado de trabalho, no comando de tanta coisa e que nem por isso deixaremos de ser esposas, mães, namoradas, amigas e tudo aquilo que sabemos acumular, conciliar e administrar com a destreza que nós, mulheres, temos como vantagem e característica. Um dia ainda vou me dar o trabalho de escrever sobre o lado bom de cada um, ah vou.  Enquanto isso, vale conferir a criação dos autores que, com um embalo gostoso de bossa nova e samba, souberam retratar tão bem, nos sete capítulos de 'Coisa Mais Linda', as dores e as delícias de ser mulher. Baita série.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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