Um rótulo para chamar de seu

Como muitos sabem, sou mãe de um menino de seis anos - que já está lendo praticamente tudo - com cachinhos incríveis e que necessitam de cuidados especiais, como todo o tipo de cabelo, ainda mais quando são crespos. Desde sempre, ele carrega consigo um orgulho imenso das "molinhas", como ele carinhosamente chama os seus cachos. Cada vez que cortávamos, ainda quando pequeno, ele olhava no espelho e dizia: "Ah, que saudade das minhas molinhas". E comemorava quando a primeira voltinha voltava a surgir.

Então, no alto da sua decisão de um 'menino grande' que já está no colégio, ele disse que gostaria de não cortar os cabelos agora. Com isso, decidimos ir atrás de produtos voltados ao tipo de cabelo dele, para deixar ainda mais lindo o que já é bonito por natureza. Daí que vem a história do texto de hoje.

Quando escolhemos um novo produto na prateleira, a marca e o design da embalagem fazem toda a diferença na hora da compra. Pois então, decidi, dia desses, pelo creme para pentear Seda para cachinhos e tal tal tal.

A minha surpresa se deu quando decidi ler a embalagem, já em casa, e me dar conta que SÓ falam para as meninas. O produto, que serve tanto para meninos ou meninas, é totalmente direcionado para elas no rótulo. Pensei comigo: sorte que meu filho ainda não pegou isso aqui pra ler.

Daí, hoje, fui comprar shampoo e condicionador e, com a ajuda de uma vendedora, chegamos à conclusão que o mais indicado era um de embalagem rosa (ah Grazi, deixa de bobagem, o que que tem?). Tanto não vi problema sobre a cor, que comprei. E o que está escrito no rótulo novamente? "Cacheadas", "poderosas" e por aí vai. Além disso, neste mais recente, da marca Salon Line, lembra o seguinte: "para facilitar a rotina das mães no cuidado...". Detalhe que, lá em casa, pelo menos, a tarefa de arrumar o cabelo do filho não é direcionada somente a mim. Nos dias da semana, a tarefa é muito mais dele do que minha. Ou pai não participa, como sugere o rótulo? Pelo visto não na mente de quem teve a feliz ideia de criar esses.

Criar estereótipos não estava tão fora de moda? Direitos iguais não é uma bandeira tão hasteada? Ou vale só para um lado? E os tais padrões da sociedade moderna? Tudo isso não me deixou ainda mais incomodada porque, por enquanto, não chamou atenção dos pequenos olhinhos curiosos de um menino que lê quase tudo que passa pela sua frente e que já toma banho sozinho, ficando a sós com os produtos que são "para meninas". Fica uma dica para ou tirar esse discurso de gênero ou então abrir os olhos dos publicitários e gerentes de produtos que os meninos cacheados (nem entrei no assunto de ser negro) também precisam de atenção e de rótulos que possam se identificar.

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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