Cris De Luca: Inquieta e descomplicada como só ela

A jornalista e aspirante a relações-públicas veste bem o ser sagitariana com todas as dores e delícias que existe

Por Cinthia Dias

Sagitariana, com ascendente em Câncer e Lua em Peixes. Mas o que isso significa? Para Cris De Luca, batizada de Cristiane, as informações de seu horóscopo dizem muito sobre ela. Os exageros de quem nasceu entre 22 de novembro e 21 de dezembro são equilibrados de uma forma bem simples: através da prática budista Reyukai, cuja base está nas orações diárias aos antepassados. Mesmo criada nos preceitos da igreja católica, com todos os sacramentos de iniciação à vida cristã, encontrou-se na crença de que Deus é uma grande energia que move tudo.

A pluralidade da coleção de mais de 100 DVDs reúne títulos como Cleópatra, Curtindo a Vida Adoidado, Dançando na Chuva, Flash Dance e Noviça Rebelde, até os shows que assistiu na época em que atuou como coordenadora de redação no Atelier 523. Nesse período, curtiu as apresentações de várias bandas nacionais e internacionais da adolescência, em razão do trabalho. Entre elas, Djavan, Paul McCartney, Pearl Jam, Ringo Starr, Roberto Carlos, Roxette, Tears for Fears, além dos sertanejos Luan Santana, Victor & Leo, e Zezé di Camargo e Luciano. "Sendo que meu último trabalho foi o do Roger Waters no Beira-Rio", destaca, realizada.

Pertencente a uma família de gringos, reconhece que a teimosia se deve não somente ao signo, mas a algo que está no sangue. Considerada por ela como um defeito, e também uma qualidade, avalia que a parte boa é que isso a torna mais perseverante e determinada. Hoje, aos 37 anos, garante que o amadurecimento fez dela uma pessoa mais tranquila ao reconhecer quando não tem razão.

Quando o assunto é time de futebol, isso aflora. Há 14 anos em Porto Alegre, ela não escolheu um clube da dupla Grenal para torcer. Longe de ser o Criciúma Esporte Clube, da cidade natal, o time do coração é o Flamengo. Em uma das partidas do 'Jogo contra a pobreza', aguardou ansiosa pela participação de Zico. Sempre às gargalhadas ao se dar conta de que está na contramão, recorda o que um amigo lhe disse: "Só podia ser catarina".

Como havia de ser

Constituída por diversas paixões, pode-se dizer que a primeira foi pelo trabalho do fotógrafo italiano Oliviero Toscani, que assinou as campanhas publicitárias mais polêmicas da empresa de acessórios, calçados e vestuário Benetton, onde era diretor criativo da marca. A admiração pela trajetória do profissional fez a criciumense, então recém-chegada em Porto Alegre, correr para levantar grana e conferir de perto a presença do ídolo no 14º Festival Mundial de Publicidade de Gramado. "Não tinha roupa de Inverno nem dinheiro, mas dei um jeito e fui", diz, animada, ao recordar a oportunidade em que pode vê-lo pessoalmente.

Desde a infância, em Criciúma, na Região Sul de Santa Catarina, a Publicidade e Propaganda chamou sua atenção. Embora dissesse aos colegas de oitava série que seria jornalista, a desistência chegou junto à notícia de que Toscani havia fundado uma escola criativa na Itália. "Pronto, era o que eu queria fazer." Decidida, aos 17 anos, inscreveu-se para prestar vestibular na área desejada na PUC da capital gaúcha e em Jornalismo - única opção de curso de Comunicação Social, na Universidade Federal de Santa Catarina -, para agradar o patriarca De Luca.

Aprovada nas duas, escolheu vir para o Rio Grande do Sul. O que ela não imaginava era que, um dia antes de embarcar, seu pai, Cezar Paulo, diria que não queria que ela viajasse. "Ele rasgou o cheque da matrícula na minha cara e me mandou para Florianópolis." Aos risos, conta que, como boa sagitariana, acatou a ordem e, por quatro anos, aguardou pela concretização do sonho de morar em Porto Alegre. Vontade esta que se realizaria em 2003, quando pôs um mochilão nas costas e se mudou para um pensionato no bairro Menino Deus.

Ao ingressar na graduação, confessa que tinha certeza de que não seria uma jornalista de redação. Durante a faculdade, a mais de 190 quilômetros da família, buscava, em cada disciplina, uma proximidade com o que realmente desejava, também como reflexo da rebeldia. Lá, passou a executar funções de edição e produção e a participar de projetos de pesquisa. Como passava o dia inteiro envolvida com a universidade, conquistou experiência em assessoria de imprensa.

Feminista desde sempre

A aceitação do corpo, segundo ela, acontece desde muito cedo. Ainda na escola, lembra que era a menina da turma com mais atributos. Por ser uma pessoa grande, teve de se adaptar e aceitar o próprio corpo para não sofrer. Sem dietas malucas, descobriu que podia usá-lo a seu favor. "Nunca serei Gisele Bündchen e nem quero", assegura. A relação de amor consigo mesma se reflete nas redes sociais e no comportamento no dia a dia.

O que é natural na vida da Cris tornou-se uma causa para que outras pessoas também se aceitassem. "É uma luta constante", afirma, referindo-se ao combate diário aos reflexos do machismo. Parte dessa consciência se deve aos exemplos femininos de sua família, que indiretamente presenciava, como a avó paterna que enviuvou e ficou com 10 filhos para criar sozinha e a independência da bisavó materna que morou sozinha por muitos anos, por exemplo. A própria dona Soraia, mãe da jornalista e de outros dois filhos, Leonardo e Marina, deixou de trabalhar para estar junto dos herdeiros em casa. Entre os conselhos, ressalta que ter filho e marido pode ficar em segundo plano se essa for sua vontade. "Introjetei esse discurso para minha vida."

Outra referência é a artista norte-americana Madonna, pela força e defesa aos direitos das mulheres. Apaixonada pela cantora, leu duas de suas biografias e viajou até Buenos Aires, na Argentina, em 2008, para venerá-la. No ritmo das leituras deste gênero, conferiu as histórias de Marilyn Monroe, Sophia Loren e Nicole-Barbe Ponsardin. A próxima já está em sua cabeceira: a obra sobre Vivienne Westwood, adquirida no Natal do ano passado.

Sem complicar

Mesmo intolerante à lactose e ao glúten, não deixa de ter prazeres gastronômicos. Um risoto ou um prato de carne, não importa, contanto que seja acompanhado de uma taça de vinho. O gosto pela bebida credita às reuniões de família em que faltava suco de uva e misturavam o líquido alcoólico com água e açúcar. Outra combinação indispensável é com pipoca, no estilo da protagonista Olivia Pope, interpretada pela atriz Kerry Washington em Scandal, série norte-americana que retrata escândalos e gestão de crise no cenário político norte-americano.

Depois de anos e anos indo ao supermercado e comprar os mesmos rótulos argentinos e chilenos, decidiu investir. Contratou o clube de assinaturas da Wine.com para receber dois vinhos por mês, que só descobre quais são quando eles chegam em sua residência. A ideia é deixar o paladar mais apurado e, quem sabe, tornar-se uma enófila de carteirinha. Até cogitou fazer um curso, no entanto, com mais conhecimento passaria a sentir o aroma, conferir a cor, botar na boca e sentir o gosto por notas. "Vinho tem que ser descomplicado."

No apartamento que divide com sua irmã Marina, pouco para, mas quando sobra um tempo, divide-se para assistir às novelas da Rede Globo e aos episódios da série House Of Cards, na Netflix. Entre estar em casa e em uma balada eletrônica, acerta quem já a encontrou dançando por aí. A necessidade de se embalar é resquício das aulas de ballet, que foram interrompidas devido à falta de turmas para garotas da sua idade. "Sou uma bailarina frustrada. Até por isso tenho uma dançarina tatuada na panturrilha." Além desta, tem outras sete imagens espalhadas pelo corpo. Todas com significados, como as frases no braço esquerdo You're enough, que significa Você é suficiente em inglês - e Quae transit, do latim Tudo passa; e a das costas, cujo texto a descreve em sua essência - Cada um sabe a dor e a delícia de ser quem se é.

Adeus definitivo à Publicidade

Continuar os estudos e dar início à carreira. Na procura de uma vaga de emprego apostou no envio de seu currículo via correspondência para todas as agências listadas em um encarte da revista Vogue. Sem sucesso, decidiu focar em sua formação e iniciou um MBA em Marketing, com especialização em Comunicação, na ESPM-Sul. Pouco mais de um ano, assumiu um cargo em comissão na Secretaria de Educação do Estado (Seduc), onde ficou seis anos e meio responsável pela assessoria de imprensa e pelas questões publicitárias.

Inquieta, concluiu a especialização e logo se organizou para fazer o mestrado. Selecionada na PUC, tinha ideia de, finalmente, focar em Publicidade de moda pelo viés da construção de marca e de imagem. Nesse processo de pesquisa e elaboração da dissertação, descobriu que grande parte do que fazia na Seduc pertencia à área de Relações Públicas. Foi então que começou a sentir falta de conhecimentos que no Jornalismo, no MBA e no mestrado não havia aprendido.

Em paralelo às percepções, cogitava ser diplomata, como Vinicius de Moraes, e entrar para o Instituto Rio Branco. O plano era fazer isso até os 40 anos. No ápice da aventura, estabeleceu que, como não tinha dinheiro, cursaria Relações Internacionais (RI). Tempos depois, com os pés no chão, questionou a si mesma pela loucura. "Um dia acordei e vi que tinha uma carreira e um caminho construído. Quer saber? Desisti de RI e me joguei em RP. Muito mais a minha cara", comenta. Em 2015, ingressou na Fabico, na Ufrgs, onde aprendeu que a área tem muitas possibilidades. Não é à toa que, hoje, ainda como estudante, já integra a diretoria da Associação Brasileira de Relações Públicas, seccional gaúcha e catarinense.

Com o título de mestre, também pode realizar o propósito de compartilhar com outras pessoas aquilo que a vivência de mercado havia lhe agregado. Foi professora das disciplinas de Cultura Organizacional e Gerenciamento de Crise e Comunicação Integrada na Unisinos e no Senac, respectivamente. Ambas as oportunidades integravam os cursos de especialização das instituições de ensino. Desde 2012, após passar por órgão público e por uma assessoria cultural e gastronômica, está na equipe da CDN Sul, antiga BH Comunicação, onde atende às contas da Vinícola Salton e da Faculdade Imed. "Minha entrada na Comunicação foi meio atrapalhada, mas deu certo", constata, satisfeita.

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