Alexandre Appel: Tudo pelo consumidor

De presidente do Procon RS a apresentador de TV, o administrador e comunicador esbanja bom humor e disposição para ajudar

Alexandre Appel - Divulgação

Um cara sempre inquieto, emotivo, que emite cada opinião com tanto entusiasmo que parece ser a mais definitiva do planeta. Alexandre Appel é um sanguíneo por natureza, que toca no braço do interlocutor para enfatizar sua crença no que está dizendo. Responde com emoção a cada pergunta, chegando a embalar uma história na outra sem perceber que o assunto já havia mudado. Mas frequentemente a filha Fernanda o faz retomar o tema original.

Formado em Administração há quase 40 anos, Alexandre Appel nasceu em Porto Alegre e cresceu, mais precisamente, no bairro Teresópolis, com uma infância que define como extraordinária, "nos tempos da Revolução". Há 11 anos trocou o apartamento na Capital por uma casa em um terreno de quatro mil metros quadrados em Viamão, a qual divide com a esposa, a psicóloga Marli, três cachorros, dois da raça Pastor Belga de Mallinois e uma Shiba Inu, e 10 gatos.

Embora a residência em Águas Claras seja sua menina dos olhos, antes de se estabelecer sobre o aquífero do Guarani, Appel percorreu o Brasil: morou em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, e fez o caminho inverso até se fixar, novamente, no Sul. "Não imaginei que voltaria para casa", comenta, ao registrar que as andanças pelo País se deram por motivos profissionais, quando foi diretor da Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil (Aplub).

E foi em uma dessas passagens pelo Rio de Janeiro que se viu tendo que, de um dia para o outro, criar, sozinho, duas crianças. A ex-esposa, que mora na Bahia, decidiu que queria ir embora e deixou Fernanda, à época com dois anos, e Renata, com quatro, aos seus cuidados. "Ela simplesmente disse para buscá-las e nunca mais tivemos contato. Caí no conto do Vigário", relembra, ao mesmo tempo em que enfatiza que Marli assumiu as duas como mãe.  

Função de pai e mãe

Presente na entrevista, a caçula conta que não tem recordações da mãe biológica e que tem pelo pai um amor duplo, de pai e mãe. Ele, por sua vez, lembra com carinho de quando passou a ser responsável pelas pequenas.
"Eu morava em um apartamento minúsculo de solteiro e vieram as duas gurias medonhas, mal educadas, sem horário para nada", conta, melancólico.

Das histórias da época, relembra quando, ao atender a um pedido das filhas que estavam com desejo de comer doce, colocou uma lata de leite condensado no forno, que explodiu. Sem empregada, precisava lavar as roupas da família e dar banho nas crianças. "Foi difícil, mas tenho história para contar", diz, visivelmente emocionado. Hoje faz as vezes de figura paterna da neta Júlia, de 14 anos, filha de Fernanda, que também é separada e não tem relação com o ex-marido. "Criei duas filhas e estou criando a neta", menciona, e logo acrescenta: "Neto é filho com açúcar".

O segundo descendente de Isolina Appel e Carlos Borba da Silva, ambos falecidos, tem mais três irmãos. O mais velho, Guilherme, mora em São Paulo, onde cria cachorros da raça Australian Cattle Dog. Depois, vem Marcelo, que reside no Rio de Janeiro e é engenheiro. O temporão André Luís, que tem 11 anos de diferença para Marcelo, é o único que vive na mesma cidade que Appel, onde atua como funcionário público na Caixa Econômica Federal.

O cara da TV

Desde 1998, está no comando do Jornal do Consumidor, programa concebido a partir de sua experiência enquanto diretor do Procon RS por duas vezes. A ideia partiu de um ex-colega que atuava na mesma função no órgão do Paraná e que apresentava uma atração de TV sobre o assunto. "Ele me incentivou muito, dizendo que o público gostava desse tipo de informação", explicou. O quadro integrou a grade do extinto canal 20 - hoje Canal Bah! - por mais de 15 anos e, há três, migrou para a programação da TVU. 

A história do jornalístico o faz recordar o jornalista Flávio Dutra, a quem atribui o fato de tê-lo lançado na TV no Rio Grande do Sul. Ele lembra que, quando Flávio era diretor na TVE convidou-o para estrear um quadro com o apresentador Cláudio Andrade, para falar sobre defesa do consumidor. "A partir daí, a carreira desabrochou", comenta. Também faz questão de esclarecer que, mesmo com diploma de administrador pela PUC SP, qualificou-se, no final da década de 1990, com o curso de Comunicação na Fundação Padre Landell de Moura, para atuar legalmente na área.

Estar na TV, para ele, é um prazer, mesmo nunca antes ter imaginado que um dia estaria à frente de uma atração televisiva. Atualmente, apresenta o jornal ao lado da caçula Fernanda, que assumiu o posto da irmã há quatro anos. A advogada diz adorar trabalhar com o pai e é a responsável pelas questões jurídicas. "A comunicação me conquistou e o Direito ficou em segundo plano", assume a filha. Renata, por sua vez, é jornalista e deixou o País para abraçar uma oportunidade em Los Angeles. "Ela é nossa correspondente internacional", completa Appel.

Voltado à linha de educação e direito do consumidor, o programa é o xodó de Appel, que garante não abandonar a vida de comunicador tão cedo. "Nós que estamos nessa área, morremos comunicando", relata, ao frisar que, além de informação, gosta de dar sua opinião na atração. "Não sou muito a favor do politicamente correto. Essa filosofia é muito ruim, porque faz com que as pessoas digam o que os outros querem ouvir, e não o que pensam de verdade."

A presença na Comunicação vem da década de 1980, quando teve uma breve passagem pela finada TV Rio, no Rio de Janeiro. Na emissora, orgulha-se ao dizer que foi dirigido por Maurício Sherman, que foi diretor de programas humorísticos e infantis da Rede Globo. No entanto, credita sua introdução na área quando, em São Paulo, integrou a equipe da extinta Gazeta Mercantil, onde trabalhou ao lado da jornalista Lillian Witte Fibe.

Quando deixou o jornal, passou a atuar na Editora Brasileira de Informações Dirigidas (Ebid), por meio da qual foi transferido a Porto Alegre. Com a falência da empresa, viu-se "pendurado no pincel com mulher e duas crianças". O sufoco passou quando foi aprovado em um concurso no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, graças à pós-graduação em Administração Hospitalar que cursou na PUCRS. No hospital, foi assessor do ex-ministro da Saúde Carlos Albuquerque na época em que este foi presidente da casa de saúde. Na sequência, atuou como secretário-substituto da Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social no governo de Antonio Britto. Mais tarde, viria a assumir o Procon RS pela primeira vez, de 1997 a 1998.

A fim de levar o conhecimento que disseca no jornalístico da TV para o universo da web, Appel lançou o portal Consumidor RS, em 2002. Por meio do site, resolve muitos problemas do público e que, desde que está no ar, já atendeu a mais de 60 mil. As passagens pelo Procon RS - a segunda foi de 2003 a 2006 durante a gestão do então governador Germano Rigotto - foram essenciais para o sucesso na TV e na internet e o administrador garante que levou para o portal as boas relações que conservou desde o tempo que presidia o órgão público.

Santuário

Kanzan e Keith são suas companhias mais amadas. Os cachorros, mesmo de raça feroz, são dóceis e muito companheiros quando estão com Appel, que os tem como fiéis escudeiros. Enche o peito ao contar que o macho veio de um canil de Gaspar, em Santa Catarina, e a fêmea é oriunda do Rio de Janeiro, filha de um cão do Batalhão de Operações Especiais (BOE) que liderou a invasão ao Morro do Alemão, em 2010.

"Toda vez que chego em casa eu suspiro como os cães quando estão relaxados", relata, e completa que a casa é "meu cantinho mágico, meu repouso, meu santuário". Fernanda apressa-se em concordar, relembrando a fase em que dividiu o mesmo teto, a qual considera a melhor de sua vida. Depois que se mudou, Appel conta que, inclusive, deixou de sair à noite, por ter tudo o que precisa em casa.

Quando está em Águas Claras, além de cuidar dos cães, gosta de cozinhar e se diz um especialista em assados e risotos. Carnívoro assumido, enxerga na preferência gastronômica sua essência gauchesca. Também passa bastante tempo nas redes sociais, o que a filha assegura: "Ele ama o Facebook". Em sua defesa, Appel alega que busca acompanhar as notícias por meio da plataforma, o que também faz através da televisão. Na telinha, assiste a telejornais e, claro, ao futebol. O time do coração é o Grêmio, escolha que está estampada em uma minibandeira tricolor no mural da sala de trabalho. Costumava ir ao Olímpico com as filhas, mas, desde que surgiu o pay per view não frequentou mais o estádio por conta da comodidade, da tranquilidade e da segurança.

A tecnologia fez com que Appel abandonasse o hábito de escutar música, mas, se precisar escolher um gênero que lhe agrade, ópera e cantores líricos estão no topo da lista. Dos nacionais, cita a banda Paralamas do Sucesso e o cantor Roberto Carlos. Para contrabalancear, gosta de Sertanejo, dos antigos ao universitário. Aí, a lista é mais longa, e vai de Daniel, Chitãozinho e Xororó a Bruno e Marrone, Victor e Léo e Simone e Simaria. "Meu pai é romântico", fala a filha. Ele explica: "Sou pisciano", ao fazer alusão às características do signo. No que se refere aos livros, logo diz que não tem favoritos e que costuma ler obras sobre Administração. No momento, entretanto, está lendo Bosque da Solidão, do médico Nilson Luiz May.  

Na infância, evoca a memória de quando frequentava na Paróquia da Ascensão Igreja Episcopal Anglicana. Lá, cantou no coral Pequenos Cantores da Ascensão que chegou a se apresentar no programa do Vovô Guerra, apresentado pelo pai do Guerrinha, na extinta TV Piratini. A criação na igreja católica deu lugar à curiosidade da religião evangélica, a qual buscou conhecer mais quando estava no Rio de Janeiro. "Essas igrejas tradicionais têm um viés político muito grande e uma veia comunista que me deixa chocado", declara. De volta a Porto Alegre, passou a frequentar a Primeira Igreja Batista Brasileira de Porto Alegre, a Brasa, em frente ao estádio Olímpico, mas abandonou o hábito com a mudança para Águas Claras. "Continuo lendo a bíblia e acreditando em Deus", assegura.

Uma pessoa determinada, do bem e disposta a ajudar os outros são as características que o definem, em uma autoanálise. Acrescenta a isso fé e esperança, e Fernanda transmite emoção ao complementar: "Meu pai é uma pessoa muito leal. Parece um cão quando se fala em amizade. Se ele te tirar para amigo, é para o resto da vida".

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