Sérgio Boaz: Autêntico e de bom coração

Entre os campos e os ringues, o jornalista revela detalhes da trajetória e como concilia a vida no trabalho e em casa

Sérgio Boaz | Divulgação

Por Gabriela Boesel

Nascido e criado em Porto Alegre, era nas rádios cariocas que Sergio Boaz Dias se imaginava trabalhando um dia. A lembrança da infância é clara: nas partidas de futebol de botão, era ele quem narrava os jogos, comentava, era repórter e, como se já não bastasse, técnico. "Eu transformava aquele imaginário em um grande espetáculo", recorda, ao revelar o desejo precoce de atuar com jornalismo esportivo.

No entanto, a decisão de fato se deu no momento em que se inscreveu no vestibular, quando, por influência de dois amigos, quase optou pelo curso de Direito. Abandonou a ideia momentânea ao verificar a probabilidade de concorrentes por vaga e decidiu, por fim, seguir seu instinto. "Além de Jornalismo ser o que sempre quis, era mais fácil de ser aprovado. Então, não vacilei e me garanti logo. Era o que eu tinha que fazer", afirma.

Com mais de três décadas de carreira, assegura que o melhor profissional que cruzou seu caminho foi Armindo Antônio Ranzolin. "Ele foi o primeiro e melhor chefe que tive. Um verdadeiro líder que me transformou no jornalista ético que sou hoje." Cria da rádio Gaúcha, à qual dedicou 31 anos, foi lá que teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes como Lauro Quadros, Lasier Martins, Ruy Carlos Ostermann e Wianey Carlet. Mesmo assim, eram os profissionais da Guaíba que o inspiravam na infância, além dos cariocas, claro.

Está no sangue

Boaz adotou o sobrenome da mãe, Yolanda Boaz Maciel Dias, de 83 anos, por ser mais incomum que o do pai, Joaquim Fialho Maciel Dias, já falecido. Talvez também por isso que era chamado assim na época do colégio Rosário, onde estudou. "Era Boaz aqui, Boaz ali. E ficou", resume. Não puxou dos pais o gosto pela comunicação - ele, economista e ela, profissional da finada Varig -, mas lista alguns jornalistas na família, chegando a contabilizar 10 deles, todos com um parentesco um pouco distante. Alguns são funcionários da Rede Globo em Brasília, outros em São Paulo, e, sem citar nomes, informa que atuam nas áreas de produção e edição. 

Formado pela Famecos, na PUC, em 1985, o irmão mais novo da engenheira química Miriam Dias Bolognese logo ingressou no mercado de trabalho, quando pôde realizar o sonho de atuar com jornalismo esportivo. Aos 25 anos, já entrava no ar pela rádio Gaúcha como repórter, podendo aplicar os conhecimentos que obtivera na primeira e breve experiência na antiga Difusora, hoje Band. "Comecei a desenvolver minha trajetória em uma época que era muito mais rigoroso, quando existiam mais critérios de qualidade e de qualificação", compara.

Lembra, ainda, que, na Difusora, não sabia exatamente o que queria da vida e sentia-se um pouco perdido. Não gostava de ser repórter, tampouco de fazer plantão. Viajar, então, nem pensar. "Não queria nada. Na verdade, não sabia o que eu queria." E foi na emissora da RBS que encontrou um ambiente com espírito profissional forte. "Ranzolin carregava a bandeira do profissionalismo, aí comecei a me endireitar", comenta. Da casa, que deixou em janeiro, carrega muitas amizades e uma atuação que considera exemplar, pois assegura nunca ter tido problemas disciplinares.

Lá, sempre foi repórter e até chegou a narrar alguns jogos, mas não seguiu na função por achar que não teve uma sequência boa. "Era mais forte na reportagem", analisa, embora acredite que, se tivesse tido mais oportunidades, teria se saído bem como narrador. No Grupo Band RS desde março, garante que já passou da época de se aventurar em outra atividade. "Quero fazer o que faço bem, que é apresentar e fazer reportagens."

Chegou a trabalhar na, hoje desativada, TVCom, mas prefere os microfones radiofônicos. Não é muito fã da tecnologia, no que se refere à fusão de todas as plataformas na hora da difusão da notícia. "Esses dias, ouvi que era melhor publicar a informação primeiro no online e, depois, no rádio. Isso vai totalmente contra minha formação", declara. Com 55 anos, conclui que, se fosse mais novo, teria investido em cursos de idioma para tornar-se repórter correspondente. "Ia morar no exterior, com certeza." Confessa que, mesmo gostando da profissão, pensa em se aposentar "para ficar numa boa" e poder tomar um café tranquilamente no meio do dia.

A vida é uma eterna luta

É casado com a relações-públicas Daniela Kraemer, responsável pela área de Relações Institucionais da General Motors. Da relação que já dura quase um quarto de século, nasceu Lívia, sobre quem, orgulhoso, Boaz logo fala: "Com 16 anos, já luta". A satisfação, explica, dá-se pela sua paixão pelas artes marciais, que pratica desde a juventude. Como resultado, é faixa roxa no Jiu Jitsu. Frequenta o tatame pelo menos quatro vezes por semana, inclusive, aos domingos e, para completar, vai à academia e pratica corrida. Mesmo com tudo isso, brinca, aos risos: "Só não diminui a barriga". As atividades físicas, além de saúde, lhe conferiram uma mania: não abre mão de tomar três banhos por dia, um pela manhã, outro à noite e o terceiro, claro, depois de cada treino.

Não sabe cozinhar, no entanto, admira quem o faz. Queria ser um bom assador de churrasco - seu prato preferido -, mas só sabe fazer massa com atum e salsicha, omelete e tapioca. Em casa, além de curtir a família, adora assistir televisão e alerta: "Não me liguem às 21h porque estou vendo novela". Cita 'A regra do jogo' e 'Império' como exemplos das que mais gostou ultimamente.  Também acompanha Big Brother Brasil - "Vejo mesmo, não vou mentir" - e Netflix, com destaque para a série Narcos.

Seu filme preferido é 'Fuga de Alcatraz', com Clint Eastwood, ator que muito admira por ser "antigo e casca-grossa". No celular, inclusive, tem os aplicativos Globo Play e Canal Combate para não perder nenhum detalhe do que gosta. Na programação televisiva, também constam os jornais Nacional e da Globo, para encerrar a noite. Embora tenha muitos livros em casa, não tem o costume de ler. Para compensar, busca acompanhar as notícias pela internet.

Quando a questão é time de futebol, brinca: "Aí tu queres me ver desempregado". Diz, para explicar, que foi criado para se despir de ter um time, mesmo que tenha. "Coloquei na minha cabeça que não deveria ter." Talvez, quem sabe, resolva abrir o jogo e revelar a referência quando deixar de trabalhar. Mas, por enquanto, considera essa postura antiética.

Com estatura mediana, voz suave e muito característica, Boaz é, ao mesmo tempo, sério e descontraído. Tanto que, algumas vezes durante a entrevista, fica difícil entender quando está fazendo alguma brincadeira ou falando com seriedade. Para compensar, é assertivo na hora de se autodefinir e, sem muita reflexão, dispara: "Tenho duas virtudes: sou autêntico e tenho bom coração".

Comentários