Anik Suzuki: Ela é mutante

Jornalista fala da satisfação pelo novo cargo e admite que nunca trabalhou tanto na vida

Anik Suzuki - Reprodução

Anik Ferriera Suzuki, 34 anos, é jovem, mas muito experiente. Já foi promotora de vendas, bancária, repórter e colunista de jornal, assessora de imprensa e hoje responde pela gerência de Comunicação Corporativa do Grupo RBS. Mais velha de quatro irmãos, a jornalista começou cedo. Aos 16 anos, já ganhava o próprio dinheiro vendendo cartões de crédito. "Meu pai sempre nos estimulou a trabalhar. Ele dizia que não adiantava ter um diploma e não saber o que significa hierarquia."

Neta de japoneses, Anik reconhece que sua postura agressiva para o trabalho, o jeito mais introspectivo e a rígida disciplina com os estudos têm a ver com sua descendência oriental. "Sinto que o aspecto cultural é muito forte na minha vida", diz, revelando que, com o tempo, desistiu de pensar em cometer harakiri (ritual japonês de suicídio) toda vez que algo não saía como o planejado. Brincadeiras à parte, ela explica que, com a maturidade, aprendeu a se perdoar. "Já fui muito mais crítica comigo mesma. Hoje consigo relaxar mais", pondera.

Pensando em relaxamento e bem-estar, ela introduziu a corrida em sua rotina há pouco mais de um ano. Nem mesmo o ritmo intenso de trabalho - costuma chegar às 9h na empresa e sai perto das 20h - a impede de praticar a atividade. Ela costuma correr na academia do prédio, após o expediente. As corridas no Gasômetro e no Parcão (Parque Moinhos de Vento) também estão em sua agenda sempre que possível. Mas deixa claro que não tem pretensão de disputar maratona. "Minha intenção é manter a cabeça e o corpo saudáveis", diz, explicando que escolheu o esporte pela flexibilidade que ele oferece. Se tem que ir a São Paulo a trabalho, por exemplo, o tênis vai na mala.

Gosto por mudanças

Além da corrida, Anik inclui às suas atividades de lazer as caminhadas com a cachorra Hanna, uma cocker de nove anos. Também gosta de ir ao cinema, a shows e reunir os amigos para cozinhar. Sua especialidade são os risotos. "A comida japonesa é muito complicada. Tentei aprender, mas desisti", confessa. Separada há um ano, é caseira, gosta do silêncio e curte ficar sozinha com sua cachorra. "Não me sinto só", diz, assumindo que reluta um pouco em aceitar os convites dos amigos para as baladas. "Quando eu já estou lá, me divirto muito, mas até ir bate uma preguiça", revela.

A jornalista também gosta de viajar, mas avisa que detesta 'indiada'. "Viagem de mochila nas costas, ir para albergue, não é comigo." Ela diz que não precisa de luxo, mas não abre mão de um banho quente e uma cama confortável. Sua próxima viagem é para Buenos Aires, em abril.

Apaixonada por mudanças, Anik não fica mais de sete anos na mesma residência. Aos 34 anos, já se mudou 11 vezes.  "Eu adoro mudar de casa, trocar móveis, organizar as coisas do meu jeito", conta. Ela até dá uma de arquiteta e arrisca desenhar os próprios armários. "Minha casa é fofa, querida, mas é funcional, não sou do luxo. Algo que me dê medo de sentar ou derrubar não é comigo".

Muito provavelmente ela sofra influência dos tempos de criança, quando se mudou com a família por diversas vezes em função da atividade do pai, Ulisses, que era bancário. Foi em busca de trabalho que Ulisses, natural de xxx???, no interior de São Paulo, chegou a Porto Alegre. Na Capital, conheceu e casou-se com Tânia (já falecida), com quem teve quatro filhos. Anik é irmã de Thiago, 32, e das gêmeas Denise e Berenice, 28. 

Embora não falem a língua e nem dominem a culinária japonesa, Anik e os irmãos são muito ligados às suas origens. Em 2008, ano do centenário da imigração japonesa no Brasil, ela e Denise, que também é jornalista, criaram o blog Planeta Japão. No espaço, os internautas encontravam informações sobre a cultura japonesa e pratos típicos do país. Como ficou difícil conciliar as atividades diárias com a atualização do blog, as irmãs decidiram encerrar a página ao final das comemorações do centenário. Mas Anik não descarta a intenção de dedicar mais tempo à cultura e tem planos de conhecer o Japão em breve.

Uma aventura

O gosto por mudanças e desafios a levou a trocar as redações pela Comunicação Corporativa. "Fiquei muito em dúvida de virar a mesa", revela. Ela estava na empresa havia apenas sete meses e realizava o sonho de trabalhar na Zero Hora, quando recebeu o convite de Lúcia Bastos, na época diretora de marketing da RBS, para ser assessora de imprensa do grupo.

No início da carreira como jornalista, porém, seu foco era outro. Depois de fazer frilas para as revistas Marie Clare e Instituto Vitta, passar pelo Correio do Povo, onde cobriu de desfiles de Carnaval a invasões do Movimento dos Sem-Terra (MST), e pelo jornal O Sul, onde assinava uma coluna de economia e outra de agronegócios, havia acabado de conquistar uma vaga na editoria de economia de ZH. Na dúvida, ela seguiu o conselho do pai que a estimulou a aceitar, porque "seria uma aventura" trabalhar com os Sirotsky. "Quando assumi a assessoria, me apaixonei."

A jornalista foi indicada para a vaga por Marcelo Rech, na época diretor de redação da Zero Hora. "A Anik me chamou atenção porque ela é uma excelente repórter. A Lúcia sempre me agradecia depois", lembra Rech, hoje diretor de produtos do grupo.  Ele diz que ela é um dos raros casos de unanimidade em excelência na empresa. "A Anik é sempre lembrada para diversas funções. Inclusive já cogitamos trazê-la de volta para a Zero Hora", comenta. 

Do zero

Convicta de que devia partir para o jornalismo, aos 23 anos deixou uma carreira promissora no banco para tentar a profissão. Ela começou a trabalhar no Banco América do Sul no final da adolescência, ainda quando morava em Joinville, Santa Catariana, com a família. Como passou no vestibular para Jornalismo na Famecos, pediu transferência para a filial do banco em Porto Alegre. 

Na agência bancária, esteve em todas as áreas, de escriturária a gerente. Quando se formou, não tinha experiência alguma na comunicação. "Não pude me dar ao luxo de largar o banco, porque pagava a faculdade com o meu salário", ressalta. A decisão ficou ainda mais difícil de ser tomada quando o Banco América do Sul foi vendido para o Sudameris, e ela conseguiu uma promoção. Após sete meses no impasse, arriscou e começou do zero para realizar seu sonho de adolescência. Não se arrependeu nem um pouco e admite que esse é o melhor momento de sua carreira. "É um grande privilégio trabalhar com os Sirotsky. Sinto que faço um MBA por ano", diz, afirmando que trabalha e estuda muito para dar conta do recado.

Anik está no novo cargo há apenas quatro meses. Com a saída de Lúcia Bastos, a área passou por reformulações e ela foi convidada a assumir a gerência do Comunicação Corporativa. Sob sua coordenação, hoje estão as áreas de assessoria de comunicação interna, eventos institucionais, gestão da marca corporativa, assessoria de imprensa, publicidade institucional e atendimento corporativo à diretoria executiva.

A jornalista afirma que seu maior desafio agora é formar a equipe, que passa por um trabalho de alta performance. "Meu sonho é começar a exportar talento", diz. Ela acaba de finalizar um MBA em gestão empresarial na Fundação Dom Cabral e já está disposta a estudar mais. "Estou apaixonada por finanças. Ainda vou fazer um pós nesta área", garante. Visivelmente influenciada pela sua experiência no banco, ela percebe que está usando tudo o que aprendeu. "É legal ver como as coisas estão se amarrando." 

É preciso ter dúvida

Pouco antes de assumir o novo cargo, Anik chegou a pensar num retorno às redações, mas acabou optando por seguir em frente. "Sempre fui uma jornalista muito de rua, amava ser repórter", conta. A escolha pelo ofício aconteceu aos 13 anos, quando comprou uma revista com um guia estudantil que descrevia o perfil das profissões. "Li todas e me interessei muito pelo Jornalismo", lembra. Ela explica que, estimulada pelo pai, sempre gostou muito de ler - aos quatro anos, possuía uma coleção de gibis da Mônica, da Luluzinha e do  Walt Disney - e tinha facilidade para compor as redações na escola.

Anik também pensou em ser professora. Na adolescência, deu aulas de catequese para crianças que se preparam para receber a primeira Eucaristia e a Crisma, sacramentos da Igreja Católica. Ela integrou o Curso de Liderança Juvenil (CLJ). Com o grupo, realizava ações sociais em prol de comunidades carentes. "Foi um período muito bom da minha vida. Quando conheci realidades diferentes da minha e comecei a dar mais valor ao que tinha", recorda. Ela só deixou o grupo quando começou a trabalhar, aos 16 anos.

Plenamente realizada com suas escolhas profissionais, Anik só fica chateada quando a chamam de workaholic. Ela reconhece que esta é a fase que mais trabalhou na vida, mas diz que procura preserva os fins de semana e feriados para viagens e entretenimentos. "Acho pejorativo uma pessoa que não consegue ir embora da empresa e tento não agir assim." Em sua opinião, é preciso manter o bom humor e buscar uma visão ampla das coisas, o que só se consegue com equilíbrio entre vida pessoal e profissional. 

"O que mais gosto é sair no horário e curtir meus momentos de lazer, que incluem barzinho, shows e cinema com as amigas." Entre suas distrações, também está a leitura. Anik acaba de finalizar o livro A chave de casa, de Tatiana Salen Levy. "Gostei muito do jeito de escrever da Tatiana", comenta. Sobre a possibilidade de ela própria escrever um livro, menciona que a hipótese não está descartada, mas que a ideia ainda a intimida um pouco.

Quando olha para o futuro, se imagina casada, trabalhando na RBS e, claro, estudando alguma coisa. "O estudo vai me acompanhar sempre." Todo o curso vence no prazo máximo de cinco anos. "Sou muito interessada em aprender e tenho muita vontade de acertar. Estou sempre buscando", orgulha-se. Ela, inclusive, tem um mantra que diz que é preciso ter sempre dúvida: "Quem tem dúvida erra menos, quem tem dúvida cresce mais".

Para os jornalistas que estão em formação hoje, ela pede que observem as leis básicas da profissão. "As novas tecnologias disponíveis devem se agregar a estas técnicas. Assim conseguiremos fazer um jornalismo de muito mais qualidade."

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