Ribeiro Neto: Vidrado em futebol

Jornalista esportivo fala da carreira e admite-se um cantor de rock frustrado

Ribeiro Neto - Divulgação

Não é de hoje que o microfone faz parte da vida de Francisco Ribeiro Neto, diretor de Esportes da Sidon, um dos projetos da Rede Bandeirantes RS. O primeiro contato foi prazeroso, ainda na juventude, quando era vocalista de uma banda de rock. Não ficou famoso com a música, mas sua voz é bem conhecida por ouvintes e telespectadores que acompanham os noticiários e jogos de futebol, graças a sua atuação como jornalista esportivo.

Ele nasceu numa época em que as principais brincadeiras eram realizadas na rua, e por isto acha que nunca gostou de ficar em casa. Assim, não é de graça que entre as principais lembranças de infância estão as peladas que disputava com os amigos e as partidas de futebol que acompanhava pelo rádio ou pela TV. "Desde que me conheço por gente, a única brincadeira aceitável era o futebol. Se pudesse escolher uma lembrança feliz daquele tempo, seria correndo atrás da bola, do final da aula até a noite", sustenta. "Eu era um garoto vidrado em futebol."

No final da década de 70, jogou nas categorias de base e no infanto-juvenil do Grêmio, mas o tempo passou, e Ribeiro teve que decidir-se por uma profissão. Cursou dois anos de Engenharia Civil, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC), mas abandonou a tempo, quando sentiu que não era nada do que queria. Foi remexendo em documentos do tempo do colégio que descobriu um teste vocacional, em que aparecia a Comunicação como a melhor escolha. "Naquele histórico, dizia que eu tinha vocação para Jornalismo ou Relações Públicas. Resolvi fazer vestibular para esta área". Formou-se em Jornalismo, em 1992, pela Famecos.

Multifunção no Jornalismo

O começo nesta área foi atuando na Assessoria de Imprensa do Sindicato de Entidades Culturais, em 1985. Três anos depois, entrou para a Rádio Guaíba, para dar início à carreira de cronista esportivo. Entre estágios, freelancers e emprego efetivo, ficou na emissora por cinco anos, só saindo em 1993, para a TV Guaíba, onde compôs o time de Rogério Amaral no 'Camisa 2' por um ano. Em 1995, migrou para a TV Bandeirantes e a atração passou a se chamar 'Camisa 10'. Não saiu mais de lá.

Ribeiro Neto orgulha-se de ter exercido quase todas as funções possíveis, dentro da área esportiva. "Uma das poucas que me ocorre que eu não aprendi, mas deveria, é ser montador de imagens, porque o resto eu já fiz tudo." Foi narrador e comentarista, repórter, apresentador, produtor das rádios Band e da Band TV, além de gestor, função que exerce há oito anos. "Acho que já fiz de tudo aqui, e ainda tenho o que fazer, porque é o que me dá uma visão muito mais ampla da profissão", diz, acrescentando que acredita muito numa situação que é real e concreta, a multifunção. "O jornalista tem que estar preparado para atuar em todas as mídias", defende.

Em seu currículo está a cobertura de diversos campeonatos importantes e três Copas do Mundo fora do Brasil. Esteve na França, em 1998; na Alemanha, em 2006; e agora na África do Sul, mas ressalta que trabalhou em mais Copas. Ele explica assim: "Acho uma grande injustiça esta história de contar só as Copas do Mundo em que estivemos no local, já que trabalhamos muito estando nas redações também". Mas ressalta também que comemora o fato de o Mundial de 2014 ser no Brasil, pois dará oportunidades para muitos profissionais trabalharem efetivamente no evento.

Com tantos anos de profissão, não faltam situações inusitadas. Como a que viveu na Suíça, antes da Copa da Alemanha. Quando chegou a Zurique, antes de ir para Lucerna, teve um problema com a falta de vagas no hotel em que se hospedaria. A cidade estava lotada e não tinha vaga em nenhum lugar. "Acabei passando a noite na frente da estação ferroviária de Zurique, rodeado de punks. No final, foi uma experiência interessante que me ajudou a passar o tempo, e a descobrir que eles são punks domesticados", brinca.

Aprendendo em família

Da relação de 24 anos com Alessandra, psicopedagoga e professora de computação para excepcionais, nasceu João Pedro, 6, a grande alegria da vida do jornalista. "Minha família é tudo", derrete-se. O casal está junto desde 1987, quando se conheceu. "Acredito que uma relação dura se tiver que durar, mas principalmente porque se tem afinidade", ensina.

Acostumado a trabalhar nos finais de semana, diz que, quando está de folga, acaba se sentindo um pouco perdido, mas é neste momento que acaba passeando e cuidando do filho. "Preciso me adaptar a ter um tempo de folga, pois a vida não é só trabalho. Aliás, para produzirmos melhor temos que aprender a dividir o nosso tempo. Eu não sei ainda, mas estou determinado a me regrar e aprender", desabafa. Outra parte que, segundo ele, precisa ser melhorada é sua vida social.

O gosto por filmes existe, principalmente os épicos e de histórias, mas, cadê tempo para apreciá-los? "Preciso encontrar espaço na agenda para ir ao cinema, e quando for, tenho que aprender a desligar o telefone, pois sou escravo do celular", conta. Assim também deve ser para as leituras, já que não se considera o leitor assíduo que gostaria de ser. "Tirando as leituras obrigatórias para um jornalista, como revistas e jornais, não leio muito. Preciso me dedicar mais para a literatura, já que são obras importantes, e fundamentais para nos ajudar a formar nosso vocabulário e nos enriquecer culturalmente".

Ribeiro destaca que se atualiza pelas diferentes mídias que estão disponíveis hoje em dia. "Além da internet, temos que estar atentos e atualizados com as ferramentas que a tecnologia oferece, pois elas serão cada vez mais importantes no futuro da comunicação". Ele acredita que o jornalista deve trabalhar com responsabilidade, e o primeiro fato que tem que ter noção quando entra na profissão, é que ele tem um poder muito grande na voz, na caneta, na sua imagem e, por isso, é preciso ter cuidado e noção da responsabilidade com suas opiniões e atitudes.

Ligação com a música

O filho caçula do coronel militar Solon Tiago Ribeiro e da professora Nadir Zavaglia destaca como qualidade em sua personalidade o fato de ter bom caráter. "Mesmo com todos os meus defeitos, que são vários, me considero uma pessoa boa e sei respeitar os outros. Para mim, o primeiro passo para tu seres respeitado é saber respeitar o próximo."

Aos 45 anos, Ribeiro diz que está tentando reativar algumas situações em sua vida, incluindo lazer e aperfeiçoamento profissional, e que precisa dar sequência em alguma atividade. Destaca a culinária como uma terapia, e aí as massas despontam como seu prato favorito. "Desculpe os cozinheiros, mas massa com salsicha é minha especialidade. É um prato rápido, prático e gostoso de se fazer e comer", simplifica ele.

Na juventude, Ribeiro foi vocalista da banda Agulhas Selvagens, e por isto revela que se não fosse jornalista, seria músico. "Sou um cantor de rock frustrado", confessa. Nesta ligação com a música apresentou, por nove anos, o programa da Ipanema FM 94,9, 'A troca da guarda', especializado em Rock Inglês. "Sou fã do U2 e um colecionador de música. Pretendo deixar este legado para meu filho", orgulha-se.

Realizado na carreira e acreditando que já fez mais do que mereceu, diz que quando estiver com 60 anos quer estar trabalhando no Interior do Estado, de preferência na região da Serra. "Embora eu tenha vindo com um ano de Santa Maria para Porto Alegre, nasci no interior, e é para lá que eu quero voltar". Para isto, tem como meta levar uma vida mais tranquila e menos estressante, mas ainda trabalhando. "Quem sabe na área da cultura ou da música? O tempo é que vai dizer".

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