Alfredo Fedrizzi: Um diploma na mão e mil ideias na cabeça

Alfredo Fedrizzi foi eleito Publicitário do Ano, em 2011, pela Associação Riograndense de Propaganda

(Coletiva.net reproduz o Perfil de Alfredo Fedrizzi, publicado originalmente em novembro de 2002, como uma homenagem a sua eleição como Publicitário do Ano 2011)
Os esotéricos diriam que foi força do destino. Os psicólogos tratariam de encontrar alguma complicada explicação freudiana. O fato é que os conselhos do pai não foram suficientes para jogar um balde de água fria na vocação de menino. Nestor Fedrizzi, jornalista da velha guarda, dizia que os filhos podiam seguir qualquer profissão, "desde que não inventassem de ser jornalistas".
Alfredo Fedrizzi, o segundo da prole de cinco, fez bem mais do que isso. Com o diploma na mão, trabalhou em todas as áreas da comunicação: de produtor a chefe de jornalismo em TV, chegou à presidência de uma emissora, trabalhou em rádio, redação de jornal, assessoria de imprensa, marketing político e foi arte-finalista em agência de publicidade 'no tempo em que se amarrava anúncio com lingüiça'. "Nunca trabalhei fora da comunicação", resume.
Aos 49 anos, o diretor da Escala orgulha-se da experiência acumulada em diversas áreas, e não pretende parar tão cedo. É um dos candidatos a Publicitário do Ano 2002. Parodiando a bebida que "dá asas", sua agência criou uma campanha de Internet que destaca a trajetória de "Fred Bull".
"Estava escrito"
Alfredo Fedrizzi nasceu em Joaçaba/SC - onde seu avô tinha uma fábrica de papel -, mas foi criado em Porto Alegre. Durante a juventude passada na Tomás Flores, esquina Independência, ia à missa das 10h na Igreja da Conceição e curtia matinê no Cinema Vogue nas tardes de domingo. No Colégio Rosário, junto com seu colega Daniel Herz, fazia um jornalzinho de mural rodado em mimeógrafo. Mas essa não é a sua memória mais remota do contato com a futura profissão.
Desde muito pequeno, acostumou-se com a cena do pai, Nestor Fedrizzi, chegando da Zero Hora - da qual foi diretor de redação - de madrugada, com o jornal do dia seguinte debaixo do braço. Antes ainda, na época da Última Hora, na rua Sete de Setembro, já convivia com grandes figuras do jornalismo local, como Paulo Gasparotto, Carlos Bastos, Tarso de Castro, Dante de Laitano, Assis Hofmann. Quando chegou a hora de fazer a escolha para o vestibular, não deu outra. "Aos 16 anos, decidi que queria parar de ganhar mesada", lembra.
A primeira experiência profissional, de dois meses, foi na criação da Inter Propaganda, de onde foi para a Mercur, a segunda maior agência local da época. "Naquele tempo, arte-finalista tinha que desenhar lay-out, títulos de anúncios e vinhetas, era bem mais trabalhoso". Começou a se aproximar do jornalismo ao ser convidado por Carlos Bastos - então chefe de jornalismo da TV Gaúcha -, para dirigir o departamento de arte da emissora, uma espécie de agência de propaganda que fazia ilustrações para os telejornais, vinhetas e cartões de identificação na era pré-gerador de caracteres.
Mais tarde, já como repórter, trabalhou ao mesmo tempo na TV Gaúcha e na Folha da Manhã, sob o comando de Iara Rech, editando uma página de Propaganda, RP e Marketing que saia duas vezes por semana. "Comecei na propaganda, fui para o jornalismo, e depois acabei misturando os dois. Quando me dei conta disso, decidi buscar experiência em absolutamente tudo".
Mil e uma utilidades
Ainda com o mesmo objetivo, aos 25 anos de idade parou tudo, arrumou as malas e foi passar um ano na Itália, fazendo pós-graduação em marketing. Ao retornar ao Brasil, diante de uma proposta de trabalho em TV e outra em rádio, optou pela segunda, firme na proposta de se tornar um multimídia.
Na Rádio Gaúcha, foi coordenador de produção e depois chefe de jornalismo. Os mais jovens com certeza não sabem que houve uma época em que o Jornal do Almoço tinha duas horas e meia de duração, e o Fantástico tinha um bloco local, onde eram apresentados um videoclipe, uma reportagem especial e o noticiário do dia. Pois nessa época, início dos anos 80, Fedrizzi era gerente geral de produção da RBSTV, sendo responsável por toda a programação local da emissora, que produzia 22% do que ia ao ar. Galpão Crioulo, TV Mulher e diversos especiais surgiram sob a sua batuta.
Trabalhou em televisão até acontecer a primeira campanha eleitoral em que a legislação permitiu que a propaganda política fosse além do 'santinho', quando Ibsen Pinheiro e Carrion Júnior o convidaram para coordenar os programas do PMDB. Foi aí que acabou conhecendo Antônio Marcus Paim - o então dono da Escala -, que lhe propôs que assumisse a diretoria operacional da agência, com 1% das ações. Já na Escala, coordenou a campanha vitoriosa de Pedro Simon ao Governo do Estado em 1986, que lhe rendeu um convite para ser presidente da TVE, época em que foi inaugurada a rádio FM Cultura.
Paralelamente, sempre manteve o envolvimento com atividades empresariais. Foi vice-presidente da ADVB, e atualmente cuida da área de marketing da Federasul, com o desafio de introduzir o marketing no meio empresarial. "O empresário gaúcho é ainda muito focado para a área da indústria, sabe fabricar e sabe vender, mas precisa aprender a valorizar mais a sua marca".
Nos papéis de cidadão, publicitário e empresário ao mesmo tempo, procura dedicar-se a obras sociais. É vice-presidente do conselho curador do Projeto Pescar, iniciativa que se propõe a sensibilizar o empresariado quanto à importância de incorporar novas pessoas para a cidadania. Abriu espaço na Escala para o projeto Grandes Causas, onde campanhas são criadas voluntariamente para entidades como Banco de Sangue do HPS, Fundação Thiago Gonzaga, Aldeia SOS.
Lado B
"Sou um cara bastante inquieto e curioso", define-se Fedrizzi. Curiosidade que fez nascer a paixão por viagens exóticas, e que o levou a atravessar o mundo para conhecer a Índia e o Nepal. Inquietude que não teme esportes radicais, como pára-quedismo, rafting e montanhismo.
Comprador compulsivo de CDs e livros, tem um gosto bem eclético, que vai de óperas a rock. Não tem tempo de ler tudo o que leva para casa, mas a simples companhia de uma pilha de obras já o deixa feliz. Em cinema, tem preferência pelos trabalhos de diretores europeus, principalmente italianos, alemães e ingleses. Admira a retomada do cinema brasileiro, citando Cidade de Deus como um dos melhores filmes dos últimos tempos.
Costuma passar as manhãs de sábado na Hípica, na companhia da filha Laura, 12 anos, apaixonada por cavalos. A mais velha, Lissa, está se preparando para o vestibular. Quando está em casa, na Zona Sul, divide-se entre o cultivo de orquídeas e muita leitura. Também gosta de receber visitas em casa, reunir amigos de círculos diferentes para trocar idéias. Mais recentemente, descobriu as artes plásticas, passando a freqüentar um espaço de discussão e criação de arte contemporânea. "Eu me interesso muito por arte contemporânea, porque ali está a vanguarda da comunicação. A arte contemporânea tem inovado a linguagem de televisão, fotografia, a estética como um todo, está bem mais na vanguarda do que a propaganda".
Citando Washington Olivetto, diz que "a propaganda deve andar no pára-choque traseiro da vanguarda. Ela não pode ser a vanguarda. Se a linguagem é muito vanguardista, o público não entende; se é retrógrada, passa sem ser notada."
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