Cícero Aragon: Visão e persistência

Produtor audiovisual, Cícero acreditou na ideia de difundir o conteúdo nacional pelo mundo

Cícero Aragon
A visão empreendedora está presente na vida de Cícero Aragon, 44 anos, desde a sua infância em Lajeado. Com pouco mais de 10 anos, o fundador da Box Brazil já vendia jornais e garrafas velhas para fazer "algum dinheirinho", apesar da estável situação econômica dos pais, Sidnei dos Santos, gerente da CEEE, e Noemy Araújo dos Santos, empresária. Da família, ele tirou lições que o inspiram até hoje: persistir e ter coragem para fazer o correto, priorizando a honestidade. Seguindo esses aprendizados, criou aquela que é hoje é a maior programadora independente e multicanal do Brasil, mesmo ouvindo muitas opiniões negativas no início da empresa, quando apresentava a ideia de construir um empreendimento que programasse e distribuísse nacional e internacionalmente canais de TV e conteúdos brasileiros.
Nascido em 4 de janeiro de 1971, em Osório, no litoral gaúcho, Cícero cresceu em Lajeado e é o caçula de três irmãos. Aos 13 anos, mudou-se para Porto Alegre, onde montou sua primeira empresa. Colocava som e atuava como DJ em festas. Aos 17 anos, abriu uma empresa de gravação de eventos e aos 19, agregou ao negócio os serviços como finalizadora de conteúdo audiovisual. Aos 20 iniciou sua produtora de publicidade, a Infoco Filmes, passando a produzir e dirigir também curtas e longas metragens. Para ingressar na faculdade, optou pelo caminho do Direito, curso que concluiu na PUC e que, hoje, acredita que poderia seguir, se não fosse o seu encontro com a produção audiovisual.
Em 1997, participou de um concurso do canal Universal e ganhou um curso de Direção e Roteiro de Cinema na New York Film Academy, nos Estados Unidos. Lá, teve a oportunidade de estagiar na emissora e produzir o longa "A Agenda", que teve em seu elenco figuras como Chico Anysio, Gabriela Alves, Lug de Paula e Supla. Por uma temporada, trancou a faculdade de Direito e foi se especializar no que seria a sua área no futuro.
Motivação para conquistar
Criar a Box Brazil, uma empresa que, atualmente possui seis canais de TV, com mais de 13 milhões de assinantes no Brasil e no mercado internacional, foi um desafio para o profissional, que enfrentou imprevistos no começo da empresa. O início da programadora esteve relacionado com as discussões que geraram a Lei da TV por assinatura, que estimula a produção de conteúdo audiovisual brasileiro. Entretanto, a demora na aprovação do projeto, sancionado em setembro de 2011, trouxe apertos financeiros para a empresa nascida no final de 2010, o que não desmotivou Cícero. "Eu sentia, como produtor, diretor de cinema, que era necessário ter mais espaço para exibição desse conteúdo e que a oportunidade existia", conta.
O empreendedor também recorda dos obstáculos que encontrou quando optou por começar um trabalho independente e no Sul do País. "Eu não venho de nenhum grupo de comunicação. Foi um desafio bastante grande empreender do zero e fazer isso no Rio Grande do Sul, porque as principais geradoras de canais nacionais estão no eixo Rio de Janeiro/São Paulo", explica.
Nos primeiros anos, Cícero não contou com apoio de investidores em seu projeto. Ao lado de sua esposa, a designer de moda Letícia Aragon, não desistiu da ideia, mesmo ouvindo diversos "nãos" e encontrando dificuldades financeiras para manter as atividades da empresa. "Eu só fiz porque não me disseram que era impossível", brinca.
Acaso que deu certo
Foi um encontro inusitado em uma concessionária de automóveis que mudou os rumos da Box Brazil e da vida de Cícero. Enquanto procurava um carro, encontrou Carlos Batista da Silva, empresário que foi o único a acreditar na ideia do produtor, falecido no início de 2014. "Nesse período, eu tinha assistido ao filme "O Segredo", que diz para não pensar na situação, mas viver o que se quer ter. Então, eu fui comprar uma BMW, queria uma X6, e nisso chega o Batista, que adorava carros. Eu estava buscando um investidor e ele estava querendo vender uma X5. Moral da história: a gente acabou fazendo um negócio onde eu fiquei com o carro dele e ele acabou sendo o investidor."
Hoje, o produtor lembra com carinho da atitude. "Se eu tivesse sido racional, provavelmente eu não teria encontrado o Batista e não estaria aqui com a empresa", revela.
Empreendedorismo e política
Antes da Box, Cícero já havia se dedicado a outras empresas na Comunicação. Começou montando uma produtora de publicidade, a Infoco Filmes, que atuou por mais de 20 anos no mercado gaúcho, atendendo a marcas como Coca-Cola, Tramontina, Gerdau, RBS, Banrisul e outras organizações. Naquela época, Cícero já vislumbrava o mercado audiovisual, que iria seguir alguns tempos depois. Desde os anos 2000, acreditava que o modelo tradicional de publicidade passaria por transformações. Também foi sócio-diretor  por cinco anos da Movie Arte Cinemas, que possuía salas de cinema no interior do Estado, nas cidades de Erechim, Bento Gonçalves e Santa Maria.
Além da carreira de empreendedor, Cícero tem orgulho de sua trajetória na política audiovisual gaúcha e brasileira. Ele foi por seis anos presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual (Siav), por mais seis foi presidente da Fundacine, diretor da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), membro da diretoria do Congresso Brasileiro de Cinema e ainda coordenou por dez anos o processo de julgamento do Festival de Publicidade de Gramado.
Parceria fundamental
Na vida, acredita que teve que tomar decisões arriscadas para alcançar seus objetivos. Muitas vezes, enfrentou o "tudo ou nada", mas hoje se vê orgulhoso do que passou. "Os vikings, quando chegavam para conquistar um lugar, queimavam seus navios para que fosse impossível retornar. Era conquistar ou conquistar. Quando tu realmente está em um momento muito desafiador, pensar assim te ajuda bastante", explica.
As decisões e vitórias sempre foram compartilhadas com Letícia, que está ao seu lado há 25 anos. A parceria vem desde o tempo em que ele colocava som em festas na Capital. "Certamente, eu não teria chegado onde estou sem esse companheirismo, sem esse trabalho. Essa não é uma conquista minha, é nossa", confessa Cícero. Casados há 13 anos, ter filhos está nos planos dos donos da Box.
Para o futuro, o empresário quer consolidar sua empresa no mercado internacional. Hoje, a programadora, situada no Tecnopuc, outro parceiro importante para os negócios construídos por Cícero, realiza transmissões de dois canais de TV para países como Moçambique e Angola, e investe em trabalhos nos Estados Unidos. "É um desafio de consolidar um movimento de exportação de canais nacionais, uma inversão da lógica que o Brasil está acostumado", defende.
Simplicidade e honestidade
Uma das preocupações de Cícero como diretor da programadora é manter a transparência com o seu grupo de trabalho. As decisões são sempre tomadas com os líderes de cada área da empresa, valorizando a equipe como um todo, atitude que reflete suas posições como gestor. "Invisto muito em escolher boas pessoas para estarem aqui e me dedico a motivá-las. A Box Brazil é o resultado de um trabalho em equipe. Sozinho, eu não chegaria onde estou. Um ambiente que as pessoas curtam, participem e cresçam é essencial para mim", argumenta.
Na rotina, o trabalho está presente até em momentos de lazer. Quando está assistindo a filmes, programas de televisão ou comerciais, se pega analisando aspectos técnicos dos canais e suas produções. Apesar de não acompanhar as partidas de futebol, é gremista, apreciador do churrasco gaúcho e acompanha a religião espírita. Na música, gosta das bandas de rock, como Paralamas do Sucesso e Capital Inicial. Do cinema nacional, aponta o filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, como seu preferido e, entre os internacionais, aprecia a simplicidade de "Forest Gump", dirigido por Robert Zemeckis. "Ele é um cara que sempre acredita que é possível e, de forma simples e sincera, vai lá e faz", explica Cícero sobre o personagem favorito, com quem muito identifica sua vida.

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