Magali Moraes: Uma curiosa insaciável

Apaixonada pelo trabalho, a publicitária Magali Moraes conta sua trajetória e garante: o sucesso está em separar o trabalho da vida pessoal

Magali Moraes | Acervo pessoal
Por Gabriela Boesel
Publicitária apaixonada pelo trabalho, mãe dedicada aos dois filhos adolescentes e esposa que tem na pele, em forma de tatuagem, a marca do amor que já dura há 25 anos. Assim é Magali Moraes, ou Maga, como é carinhosamente chamada por colegas e amigos. A correria do dia a dia da agência W3haus, onde há três anos atua como diretora de Criação, não tira a animação da publicitária que, ao falar, expressa no olhar todo o seu entusiasmo com a profissão que escolheu ainda na juventude, por influência de um tio que atuava na área de Marketing. "Não foi uma escolha divina. Teve até um momento em que cogitei desistir, mas ele me convenceu a ficar. Ele diz que o mérito dele é ter me orientado. E deu certo", conta.
A filha do dentista Francisco, já falecido, e da dona de casa Valy, não esconde que teve dúvidas no momento de escolher para qual curso iria prestar vestibular. Por causa do pai, pensou em seguir carreira na Odontologia, "mas aquele cheiro de consultório" a fez desistir. Arquitetura também foi uma opção, mas o fato de não gostar de exatas excluiu essa possibilidade. Hoje, Magali garante que não se imagina em outra profissão. Diz que talvez pudesse ser jornalista, o que ela justifica com o gosto pela escrita, porém, hoje consegue conciliar as duas funções, já que, desde abril deste ano, escreve uma coluna no Diário Gaúcho três vezes por semana. "A Coluna da Maga me proporcionou explorar mais esse lado de escrever crônicas, que gosto muito".
Mesmo focada quase que as 24 horas do dia no trabalho, Magali afirma que nunca abriu mão dos momentos de folga e não gosta de envolver trabalho com a vida pessoal. Ela, inclusive, acredita que o sucesso na carreira e no casamento é resultado dessa separação. "Preservo minha vida particular, os respiros que tenho ao longo do dia para sair, almoçar com meus filhos. Tão importante quanto minha carreira é minha família".
 "A crônica me define"
Simples e objetiva. É assim que Magali enxerga a si mesma. Exatamente como sugere o estilo de texto conhecido como "crônica". Da infância carrega lembranças de Porto Alegre e do verão na casa da avó na praia. Época em que já exercitava a criatividade, pois sempre gostou de desenhar e de brincar. Mas confessa que a veia criativa que tem hoje foi aguçada apenas na faculdade.
Porto-alegrense de nascimento e publicitária de formação, graduada pela Famecos, sua primeira experiência foi na área de mídia, fazendo clipping de anúncio. E, em apenas um mês, soube que não queria aquele tipo de atividade. Queria ação. Foi então que começou na área da Criação. Sua trajetória é pautada por experiências em diversas agências, onde colecionou amigos e vivências. Hoje, com uma rotina "virada em reuniões", como ela mesma diz, busca ter um bom relacionamento com todos os setores da agência. "Não é um trabalho solitário, precisamos dos outros para trabalhar", explica.
Entre os vários desafios que enfrentou nos 28 anos de carreira, as demissões pelas quais passou em 2008 foram os mais significativos. "Fui demitida duas vezes no mesmo ano", revela, acrescentando que, ao mesmo tempo em que foram momentos difíceis, foi também um grande aprendizado. Como resultado, Magali, inclusive, publicou a obra "Diário de uma demitida", que conta como foi passar por essas situações e superar a rejeição.
Ainda no mundo da literatura, a publicitária conta com mais duas publicações: "Buffet", uma coletânea de crônicas, e a novela feminina "Quem nasceu para cintilante nunca chega à francesinha". Ela quer mais. "Quero poder dar palestras sobre os livros que eu ainda vou publicar", projeta. Magali segue alimentando planos mesmo que já se considere uma profissional realizada, e quer continuar fazendo o que faz. E cada vez melhor. A essa informação, acrescentou que não seria feliz se ficasse sozinha em casa, apenas escrevendo. "Estar transitando no mundo me alimenta muito. Tem tanta pessoa interessante para a gente conhecer", conta.
Entre essas pessoas interessantes, está Telmo Ramos, a quem Magali tem como uma de suas inspirações na carreira. A sorte de ter iniciado no mundo da Propaganda com ele fez com que ela percebesse a importância das palavras e o cuidado e atenção que se deve ter com elas desde cedo. "Aprendi lá no começo da carreira e levei para a vida, tanto que hoje sou conhecida como a redatora que sabe escrever bem. Como se todos não devessem saber", brinca. Mesmo carregando esse "título", diz que nunca se deslumbrou com a profissão e que ganhar prêmios não é seu ideal de vida. "Faço o trabalho para me divertir e para o público gostar, não para os meus pares aprovarem."
Com quase três décadas dedicadas à Publicidade, foi há poucos meses que recebeu o elogio que jamais esquecerá. "Maga, eu amo o teu entusiasmo", disse a colega Fernanda Tegoni. Também ouviu críticas, claro, e lembra que "as próprias demissões foram uma forma de crítica". Acredita que a maior satisfação da profissão foi ter saído da zona de conforto para experimentar novos ares. Foi quando deixou a Competence para encarar o desafio de trabalhar na W3haus. "Me joguei sem medo. E deu certo."
Do lado de lá
Mesmo separando trabalho de vida pessoal, Magali revela que, nos momentos de folga, aproveita as horas de lazer para ler e escrever. "Gosto tanto de fazer minhas crônicas que não me importo em fazê-las nas horas vagas", diz. Curtir o final de semana em família também está entre as atividades preferidas. Viajar, então, é uma tradição que não pretende perder. "Ainda temos o costume de ir os quatro para algum lugar nas férias, não quero perder isso", conta.
No que se refere a futebol, confessa que cresceu gremista, mas, por influência do marido e dos filhos, virou colorada. A saúde é uma preocupação, tanto que pratica pilates algumas vezes na semana, prática que ajuda a acalmar a agitação decorrente do dia a dia. Caminhada e corrida também fazem parte da rotina . Católica de criação, não costuma ir à igreja, mas tem fé e acredita em Deus. E, por ser uma curiosa insaciável, acaba transitando pelas outras crenças, mas, quando precisa, sempre recorre ao "fiel escudeiro Santo Antônio".
Conversar, sempre
Além de escrever, ir ao cinema é um dos seus hobbies preferidos, mais pelo programa em si, em sair com a família. Mas com a correria, é difícil conciliar tempo e disponibilidade de todos. Por isso, as séries de televisão, como Narcos, que conta a história do traficante Pablo Escobar, passaram a ocupar esse espaço, "mas só assisto as que valem a pena. Não gosto de perder tempo". O mesmo acontece com as novelas, que hoje só assiste quando uma produção ou uma cena específica estão sendo muito comentadas nas redes sociais. Em matéria de filmes, prefere os mais simples, ideais para relaxar, como as comédias românticas, por exemplo. Com livros, segue a mesma linha. "Leio qualquer coisa, mas não sou chegada em coisas muito antigas ou "cabeça". Prefiro algo mais contemporâneo, como Verissimo, Martha Medeiros, Scliar". Mas o que gosta mesmo é de ler revistas. "Abrir o lacre de uma revista eu acho mágico". Gosta tanto que, por ser apaixonada por temas ligados a comportamento e universo feminino, tem diversas colaborações para publicações como Claudia, Claudia Bebê, Nova Cosmopolitan, Lola e Women?s Health.
Conversar também figura entre suas preferências, o que justifica por ser curiosa. "Qualquer conversa me interessa. Sou aquele tipo de pessoa que gosta de ficar ouvindo a conversa alheia em restaurante", fala, em tom de brincadeira. E diz que está sempre com o "radar ligado" em tudo o que está acontecendo, principalmente por causa da publicidade.
Sensibilidade e espontaneidade são atributos que possui e considera como qualidades. Quanto aos defeitos, se diz controladora e indecisa, característica que atribui ao fato de ser libriana. A ferramenta de música na internet, Spotify, é sua mais nova companhia, pela qual transita pelas playlists de pop e lounge, principalmente quando o trabalho exige concentração, ou quando escreve seus textos para o jornal. "Música anima, é como uma ferramenta de trabalho."
Ao se definir, é simples e objetiva, como as crônicas que escreve: "Eu gostaria de tomar um café comigo mesma. Acho que sou uma pessoa fácil de conviver, boa companhia, e interessante. Não só pelo trabalho, mas pelo conjunto da obra."

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