Carlos Henrique Esquivel Bastos: O contador de histórias

Ele completa meio século de profissão com a certeza de que ainda tem muito trabalho pela frente e divide as atenções entre quatro paixões: o jornalismo, a família, a política e o Grêmio.

O jornalista Carlos Henrique Esquivel Bastos possui um currículo de dar inveja. Do alto de seus 71 anos, dos quais 51 são dedicados à profissão, trabalhou nos principais veículos de Porto Alegre, fez a cobertura de fatos que entraram para a história e construiu bons relacionamentos no meio. Orgulha-se por ter levado para a TV nomes como Flávio Alcaraz Gomes, Ana Mélia Lemos e Lauro Quadros e por sua atuação diversificada no mercado. Passou por jornais, rádios e TVs, trabalhando em todas as editorias, de polícia a política, sendo a última sua especialidade. A vasta experiência, a boa memória e o grande número de contatos o transformaram em um verdadeiro almanaque do jornalismo gaúcho, através do qual é possível conhecer histórias inusitadas e surpreendentes.


Um fato que o emocionou foi ter assistido a uma edição do Jornal Nacional, da Rede Globo, em que apareceram nada menos que dez repórteres gaúchos dos quais apenas Caco Barcellos não havia trabalhado com ele. Para citar alguns casos, Bastos levou para o jornal A Hora Flávio Tavares e Ibsen Pinheiro, que, mais adiante, também encaminhou para o Jornal do Almoço, na RBS. Foi quem deu a primeira oportunidade para o senador Sérgio Zambiasi, ainda muito jovem, na rádio Difusora, e foi quem incentivou Maria do Carmo a estrear na TV.


Jornalista por vocação


Caçula de quatro irmãos, ele viveu a "meninice", como denomina, em Passo Fundo , onde nasceu. Lá, descobriu o gosto pelas notícias e passou a ler diariamente os periódicos locais e o jornal porto-alegrense O Diário de Notícias, do qual seu pai, Brasileiro Araújo Bastos, mantinha assinatura. Filho da argentina Rosa Esquivel Bastos, ele se interessava por emissoras de rádio do país de origem da mãe e, com entusiasmo, ouvia também o Repórter Esso na Rádio Nacional. Na época, estourava a 2ª Guerra Mundial, contexto que aguçou a curiosidade do garoto pelo mundo da informação.


Mudou-se com a família para a capital gaúcha em 1950, aos 16 anos, e, em pouco tempo, fez do jornalismo o seu ofício. Iniciou a trajetória profissional no Clarim, impresso de Leonel Brizola, em 1955, onde fazia a cobertura do setor sindical na coluna intitulada Porta de Fábrica. O veículo teve vida curta, apenas um ano, e Bastos deu continuidade ao seu trabalho no jornal A Hora, no setor de circulação. Em 1957, passou para a redação a convite do então chefe de reportagem, José Silveira, e do secretário de redação, Lauro Schirmer. "Conheci o Silveira quando servimos o Exército. Naquele tempo, ele já era jornalista e acabou me abrindo portas na profissão", relembra, citando um exemplo do círculo de amizades que o ajudou a deslanchar na carreira.


Quando veio a política


Dois anos depois, em 1959, a convite de João Aveline, falecido recentemente, Bastos foi para a Rádio Gaúcha apresentar o programa Tribuna Parlamentar, que reunia os principais pronunciamentos do dia na Assembléia. "Daí foi um pulo para a editoria de política dos jornais Última Hora e O Dia", relata, identificando o momento em que se aproximou da área para a qual até hoje dispensa maior atenção. Neste período, teve a oportunidade de cobrir a campanha de Jânio Quadros à presidência, a de Brizola a governador do Estado e também o Movimento da Legalidade, vivências profissionais que exibe como troféus. 


Sempre em busca de desafios, o jornalista deixava os periódicos em 1964 para começar na TV Gaúcha - novamente, com um empurrãozinho do colega Lauro Schirmer. Assumiu a chefia de reportagem da emissora e participou, inclusive, do lançamento do Jornal Nacional, em 1969. No ano seguinte, ingressou com o mesmo cargo em Zero Hora , veículo que, na época, passava a ser administrado por Maurício Sirotsky. Assim, durante um ano, acumulou as chefias de reportagem de ZH, da Rádio e da TV Gaúcha. A partir de então, o ritmo alucinante de trabalho se tornou constante para Bastos, que entrou e saiu da RBS diversas vezes. Nos intervalos da atuação na empresa de comunicação, testou suas habilidades em outros veículos e também em assessorias.


Novos vôos


Em 1971, coordenou o departamento de Jornalismo da rádio e da TV Difusora - atualmente rádio e TV Bandeirantes. De 1977 a 1979, atuou na Rádio Guaíba e chegou a chefiar a equipe durante a saída de Antonio Britto da emissora. Em 1990, esteve à frente da campanha de Alceu Collares (PDT) ao governo do Rio Grande do Sul, sendo chamado pelo político, posteriormente, para ser secretário de Comunicação Social, cargo que exerceu até 1993. Bem-sucedido na nova empreitada, foi convidado para chefiar a assessoria de imprensa da Assembléia Legislativa durante a gestão do presidente João Luiz Vargas, em 1997.


Com o destaque que ganhou na área política, Bastos foi contratado pelo Jornal do Comércio, em 1998, para assinar uma coluna diária, que batizou de Cenário Político e mantém até hoje. "Tenho muito carinho pela minha coluna no JC. Lá, eu brinco de fazer política", comenta. Como está acostumado a ter mais de um emprego de forma simultânea, em 2003 passou a dirigir também o setor de Jornalismo da TVE-RS, onde deve permanecer até o fim do mandato do governador Germano Rigotto (PMDB). "Dentro da minha carreira, na maior parte do tempo, dirigi departamentos e eu gosto muito de fazer isso. Além disso, a equipe da TVE é muito qualificada", destaca satisfeito.


Para o futuro, ele prefere não fazer planos, mas alimenta a expectativa de receber convites para atuar em outros lugares, como sempre aconteceu ao longo de sua vida profissional. Convicto e bem disposto, diz ainda ter muito trabalho pela frente e projeta, entre suas idas e vindas, escrever um livro onde possa contar as intermináveis situações que presenciou em seus 51 anos de jornalismo. A obra ainda não tem nome nem data para ser redigida, entretanto, é o maior desafio do experiente repórter no momento. "Meus amigos estão me cobrando", ele explica.


Com o Grêmio, sempre


Bastos coleciona títulos. Orgulha-se de ter sido o único não-publicitário a receber o título de Publicitário do Ano, prêmio promovido pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). É também Cidadão Honorário de Porto Alegre e de Itacurubi, onde ele e a esposa possuem uma propriedade rural, além de Cidadão Emérito de Passo Fundo. No ano passado, ganhou o Prêmio Press Homenagem Especial, por sua contribuição ao jornalismo gaúcho.


Outra condição da qual se orgulha é a de conselheiro do Grêmio, seu time do coração. Neste ano, ele completa 26 anos de fanatismo tricolor. "Nunca assumi um cargo diretivo no clube, mas participo ativamente de sua política interna", revela o torcedor.


Seu tempo é dividido com outra paixão além do jornalismo, da política e do futebol: a família. Casou-se duas vezes, tornando-se pai de três meninas e um menino no primeiro matrimônio. Atualmente, está às vésperas de completar bodas de prata com a segunda esposa, Ana Maria Lopes de Almeida Bastos, 60 anos, que também é jornalista. Os filhos, distribuídos entre o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro e a Áustria, lhe visitam com freqüência e trazem para o seu convívio suas três netas: Raíssa, Vitória e Chiara.


Ele brinca ao dizer que suas férias são fatiadas. "Desmembro um mês em quatro semanas distribuídas ao longo do ano", esclarece, contando que aproveita essas oportunidades para refugiar-se com a esposa em sua fazenda, próxima a São Borja. Lá, tem criação de gado e ovelhas. Ainda cria cavalos, que assegura montar muito bem. "Eu campereio quando vou lá fora", fala, sibilando os termos interioranos. Além das aptidões no meio rural, ainda gosta de cinema e literatura e aproveita o sábado, único dia de folga, para se dedicar aos hobbies.


O sucesso que conquistou na carreira atribui a muito esforço. "Sou agnóstico. Só acredito no sucesso quando ele vem acompanhado de muito trabalho", alerta. Embora a afirmação possa transmitir a imagem de um homem durão, Bastos indica como seu maior defeito a falta de pulso firme no seu trabalho de chefia e define-se como uma espécie de pai-patrão, acreditando que deveria ser mais impositivo. Seus atuais e ex-colegas de trabalho, com quem mantém amizades sólidas a curto e longo prazo, não vêem demérito em tal comportamento, já que, como o próprio Bastos destaca, a lealdade é sua grande qualidade.

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