Daniel Scola: Viver para trabalhar

Modéstia, inquietude e obstinação são as características mais evidentes do jornalista apaixonado pela sua profissão

Daniel Scola - Reprodução

A paixão de Daniel Scola pelo jornalismo nasceu da mesma forma que algumas das paixões mais arrebatadoras: por acaso. Foi na fila de inscrição para o vestibular que, de última hora, optou pelo curso sem saber exatamente o que essa escolha representaria em sua vida. Até então, não passava por sua cabeça a ideia de ser um jornalista. Hoje, não se imagina em outra. A área que antes era apenas uma opção entre diversas possibilidades tornou-se a sua filosofia de vida.

Modéstia, inquietude e obstinação são as características mais evidentes do repórter de Política e apresentador do programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha. Aos 33 anos, já participou de duas coberturas de eleições presidenciais americanas, em 2004 e 2008. E há dois anos, a convite do então diretor de Jornalismo da RBS TV, Raul Costa Jr., passou a fazer matérias também para a televisão.

A pauta do dia é que faz a sua rotina, que tem início às 4h da madrugada, mas que, na maioria das vezes, não tem hora exata para terminar. Daniel chega na Gaúcha às 4h30 e lá permanece até as 12h. Depois, segue para a RBS TV e de lá só sai por volta das 20h. Nas horas vagas, os momentos de lazer são destinados ao descanso ? o que não o impede de acompanhar os noticiários e de preparar sua pauta para a próxima semana.

Filho de Rubens, gerente de Recursos Humanos, e Cecília, dona de casa, o jornalista nascido em Caxias do Sul cresceu ouvindo rádio e rodeado de livros. O pai, mesmo sem uma formação superior, fazia questão de estimular o hábito da leitura nos três filhos: a casa da família Scola possuía um cômodo destinado à biblioteca, com cerca de mil títulos. Hoje, esta é uma atividade da qual não abre mão, e os livros dos mais diversos gêneros estão sempre à volta.

Uma pitada de sorte, duas de talento

Daniel contou com um pouco de sorte para dar os primeiros passos no Jornalismo, mas precisou de muito talento para manter-se nessa trajetória, que já dura 14 anos. Modesto, apesar do tempo de estrada e de alguns prêmios recebidos - como o de Jornalista do Ano 2008, concedido pela Revista Press -, ele considera-se um repórter em início de carreira.  "As coisas sempre deram certo para mim. É impressionante. Não posso reclamar de nada, nada mesmo", conta. Trabalho, trabalho e trabalho são as palavras de ordem, sempre pronunciadas e/ou ouvidas sob muito entusiasmo. Não por acaso, os planos do repórter para o futuro são consolidar a carreira e, claro, fazer grandes matérias.

O jornalista iniciou sua carreira, também, quase que por acaso, em 1995, na rádio Caxias do Sul, a convite de uma colega de curso. Ele estudava no terceiro semestre, na Universidade de Caxias do Sul, e a sua primeira função foi a de estagiário-produtor. Poucos meses depois, assumiu o cargo de repórter de Política, pois começaria o mandato do novo prefeito da cidade, e a emissora precisava de alguém que fizesse um trabalho de apuração e investigação. Na emissora, permaneceu até 1998.

A primeira experiência com o microfone ocorreu um pouco antes disso, quando, em um domingo, teve que substituir o plantonista da jornada esportiva. A tarefa seria fácil, apenas anunciar os resultados dos jogos, não fosse uma briga durante a transmissão do jogo do campeonato municipal que envolveu até mesmo a equipe de cobertura. A transmissão foi cortada e, como Daniel era o único que estava no estúdio, teve que ficar cerca de 40 minutos no ar até que aparecesse alguém para assumir o comando.

No penúltimo semestre da faculdade, em 1998, recebeu um convite do então chefe de Reportagem da Rádio Gaúcha, André Machado, para um freela na emissora. O jornalista não hesitou em aceitar a oferta. "A Rádio Gaúcha sempre foi companheira lá em casa. Meus pais adoram rádio. Meu pai, por exemplo, era muito mais ligado em jornalismo do que eu, apesar de ele não ter nada a ver com a área", afirma.

Novos horizontes além-mar

O trabalho temporário tornou-se fixo, mas, em 2000, partiu para um novo desafio além-mar, o qual, segundo ele, foi facilitado devido à cidadania italiana. O destino era País de Gales, na Inglaterra, onde, entre uns bicos e outros, tornou-se mestre em Jornalismo Internacional pela Universidade de Cardiff. Depois de três anos estudando, entregando panfleto, trabalhando em pubs e empurrando cadeiras de rodas em asilos, retornou a Porto Alegre. Em 2004, retomou suas atividades na Rádio Gaúcha.

E onde busca a inspiração para a constante renovação e pautas criativas? Ele responde de maneira bem simples e direta: "Eu gosto do que faço e não saio de casa sem vontade de trabalhar. Às vezes, saio meio sonolento, mas sempre com muita vontade de trabalhar." Daniel destaca que é o tipo do cara que quando sai de férias demora certo tempo até para desligar-se do trabalho, e que quando consegue já começa a pensar no que vai fazer na volta.

Se tivesse mais tempo disponível, provavelmente o dedicaria a três de suas atividades preferidas: correr, viajar e tomar uma cerveja com os amigos. A primeira tem conseguido encaixar em sua rotina, mas as outras duas? "Eu praticamente vivo para trabalhar, não que isso seja ruim. Mas infelizmente não consigo dar tanta atenção como queria para as pessoas ao meu redor", relata.

Por quatro anos, Daniel foi professor de disciplinas de rádio na Unisinos, mas teve que se afastar da função, no ano passado, quando tornou-se repórter da RBS TV. Hoje o repórter, que trabalha desde os 14 anos, assume o cansaço causado pela sua maratona jornalística. Entretanto, acredita que a diversidade de ambientes e de pautas seja benéfica para o seu cotidiano. Jovem e solteiro, não tem planos de ter filhos ou sair de Porto Alegre. Quer apenas consolidar sua carreira e, quem sabe um dia, voltar para onde tudo começou: a academia.

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