Daniela Sallet: No vídeo e na realidade

Expansiva e independente, ainda menina traçou seu rumo. Adora conhecer a fundo os personagens e suas histórias reais, tanto que agora investe no mundo literário

Daniela Sallet - Reprodução

Dedicação é a capacidade de se entregar à realização de um objetivo. Pois esta é uma constante na vida da comunicadora Daniela Sallet, que começou no telejornalismo há 21 anos, acumula passagens pela RBS TV e Band TV e atualmente está no canal legislativo TV Assembléia RS. Nunca teve dificuldade para enfrentar uma câmera de TV já que sempre foi assim, expansiva e desprendida. Tanto que, ainda menina, com apenas 16 anos, começou a trabalhar no estúdio auxiliar da Rádio Navegantes, de Porto Lucena, a convite do prefeito, que conhecia sua desenvoltura na escola. "Eu fui muito precoce, pois, apesar de tímida, sempre fui muito comunicativa", define. Para conquistar a vaga, o teste proposto foi gravar um comercial. Quando estava voltando pra casa, já pôde conferir seu trabalho no ar.

"Meu pai conta muito que eu, desde pequena, brincava de entrevistar com um gravador que ele tinha, com microfone e tudo. E eu me lembro que sempre gostei dessa coisa de perguntar", acrescenta. "E eu tenho consciência deste meu processo de superação, de uma infância tímida, interiorana, pra vir pra este mundo da comunicação onde tu não pode, de jeito nenhum, ser tímida", avalia. Hoje, apesar de não se imaginar morando fora da Capital, adora fazer reportagens no Interior. "Eu amo as minhas origens!".

Daniela manteve o mesmo perfil que, ainda na infância, delinearia sua trajetória. Gosta de atuar como repórter, produzir e apresentar, mas o que ela adora mesmo é entrevistar. A Daniela repórter se envolve com os personagens e suas histórias da vida real. "Eu amo entrevistar. Tenho maior prazer em descobrir curiosidades? e eu acho que eu tenho esta facilidade de conversar e fazer as pessoas se sentirem à vontade pra contarem as coisas. Isso é muito gratificante", assinala.

Menina repórter

Daniela nasceu em Santa Rosa, em 25 de agosto de 1969, mas cresceu em Cândido Godói, onde viveu até os 17 anos. No ano seguinte, tornou-se independente. Foi morar sozinha, já que havia surgido a oportunidade de atuar na reportagem da RBS TV Cruz Alta, sucursal Santa Rosa. Como ainda faltavam poucos dias para completar 18 anos, seu pai teve que assinar uma autorização. Diverte-se relembrando as gravações das primeiras entrevistas. Para fazer contra-planos, era um problema: não parava de rir. "Eu achava muito engraçado ter que repetir as perguntas e a pessoa me olhando", lembra. Outra dificuldade foi o fato de transmitir credibilidade sendo tão jovem. Para isso, sempre procurava se vestir da forma mais adequada, que a fizesse aparentar um pouco mais de idade. "Para impor respeito, eu incorporava uma pessoa muito séria. Porque no fundo tu tens todas as inseguranças de quem está iniciando", ressalta.

Passados dois anos em meio, foi para a sede da emissora em Cruz Alta. Não demorou muito e passou a ser, eventualmente, apresentadora substituta e depois titular de programas como Jornal do Almoço, Campo & Lavoura e RBS Notícias, além de atuar como repórter. Em 1995, foi para Santa Maria com o sonho de estudar Jornalismo. Mas logo seu plano foi interrompido: um convite para atuar na Band TV trouxe Daniela para a capital gaúcha, em 1996. Começou realizando reportagem e, logo em seguida, passou a apresentar os programas Primeira Hora, com Affonso Ritter e Helio Gama, e Acontece. "Foi onde eu tive prazer de entrevistar pessoas muito especiais, como Paulo Autran", destaca. A experiência durou oito anos.

Atualmente, na TV Assembléia, é âncora do programa de debates Democracia, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 23h, além de produção, edição, transmissões ao vivo, reportagens, documentários e programas especiais na área do turismo. De 2004 a 2007, apresentou o programa de entrevistas Personalidades. Neste período, participou de dois projetos: em 2008, o Conversa de Casa, da TV Record, programa idealizado pela empresa Móveis Kappesberg; e, de 2005 a 2007, o Câmera 2, na antiga TV Guaíba, ao lado de Clóvis Duarte. "Foi uma experiência gratificante, porque sempre é bom fazer ao vivo: tem informação instantânea e a adrenalina dos imprevistos", relata.

Tem formação em Direito, que nunca exerceu. Quando viu que sua vocação era diferente, logo tratou de correr atrás. Daniela tem resgistro de radialista e MBA em Marketing com ênfase em Comunicação pela ESPM.

Algumas tragicomédias

Daniela relata, com prazer, algumas histórias engraçadas que aconteceram ao longo de sua trajetória. No dia do aniversário de 30 anos, estava programada a apresentação de um programa, na Band, sobre "a crise dos 30". Dos quatro entrevistados, um não apareceu. "Com esse meu sentimento enorme de responsabilidade, eu fiquei muito nervosa, e tive uma crise medonha de choro pouco antes de o programa entrar no ar", lembra. Foi quando entrou na ilha e expôs a situação pra editora, que a autorizou a, se necessário, chorar no ar. Depois disso, Daniela acabou se tranqüilizando e tudo deu certo.

Outro episódio foi em um dia de chuva no Mercado Público, numa matéria sobre o aniversário do plano Real. "Eu disse para uma mulher e outras raras pessoas que estavam lá: vamos entrar ao vivo, podemos lhe entrevistar? Expliquei onde ela deveria ficar, mas não combinei tempo ou perguntas. Eu disse: vamos ver o que as pessoas estão achando? a senhora é dona-de-casa?, e ela, enfurecida: "Tô aqui te esperando!!!"", diverte-se contando. "Tenho esta fita, é muito engraçado, caímos todos na gargalhada no estúdio", relembra.

Ainda na Band, foi entrevistar um senhor de óculos escuros, que estava parado, numa carroça, aparentemte esperando alguém. "Perguntei se podia gravar entrevista, ele concordou e desceu normalmente. Na época, a orientação era os entrevistados olharem para a câmera. Expliquei isso ao senhor e começamos a gravar, mas ele não olhava de jeito nenhum na direção do cinegrafista. Parei a entrevista dizendo: o senhor pode olhar para a câmera, por favor? E ele, todo constrangido, como que se desculpando, respondeu: "é... é... é... que eu sou cego!"".

Multiplicidade de afazeres

É divorciada e mora sozinha. De vez em quando, vai à academia e gosta de patinação. Uma de suas atividades de lazer mais rigorosas é caminhar com seu amigo e companheiro inseparável, um daschund, raça tradicionalmente conhecida como lingüicinha. "Passear com o Tommy é mais que aproveitar as horas de folga. É ele que me tira da indisciplina para as atividades físicas, já que falto muito à academia e à patinação. Ele está comigo há nove anos", conta.

Apresentar eventos é outra coisa que faz há muito tempo, desde a época em que começou a trabalhar, ainda menina. Daniela atua como mestre de cerimônias para empresas e instituições como a Federasul e seu Tá na Mesa, a ADVB e seu Top de Marketing, ou a Abracomp e seu Prêmio Colunistas, entre outros. A partir de sua experiência pessoal, ainda orienta cursos para entrevistados. "Ali mostro que tem muita gente desperdiçando a oportunidade de vender uma idéia por detalhes simples, por não conhecer a linguagem adequada para cada veículo."

A par do trabalho, Daniela ainda dedica um pouquinho do seu tempo a boas causas. Há cinco anos, apresenta o Corrida pela Vida, do Instituto do Câncer Infantil. Também ajuda a divulgar o trabalho de instituições como o Instituto de Prevenção ao Câncer do Colo do Útero e a Bichoterapia, entre outras.

Literatura e percepções

É autora do livro "Crianças Lesadas", lançado em 2001 com a colega de Band Christina Krueger Marx. A obra fala sobre experiências que viveram juntas na emissora: a cobertura do caso das gêmeas suíças que foram abandonas pelo pai, em 1996, na casa de um engenheiro da Varig, em Porto Alegre Juntas, elas desvendaram o caso; e a história de Iruam, o menino gaúcho retido em Taiwan pela família paterna.

Também publicou crônicas, no jornal Oi, e poesias, em livros de Antologias de alunos da Oficina Literária com Charles Kiefer, projeto em que atua há três anos. Um dos seus planos para o futuro é investir nos três gêneros da produção literária: conto, crônica e poesia. "Mas para isso, preciso aproveitar as horas de folga para escrever e, principalmente ler, o que é essencial", reconhece. No momento está lendo Valsa para Bruno Stein, de Charles Kiefer, e contos de Tchekhov e Cortázar.

Também gosta muito de viajar. Como o pai mora em Bombinhas, em Santa Catarina, a mãe em Cândido Godói, no Rio Grande do Sul, e o irmão em Maringá, no Paraná, sempre que pode pega a estrada e tenta fugir da rotina. As últimas férias, passou em São Paulo. Já visitou a Europa, África do Sul, Estados Unidos e Rússia, entre outros. "Viagens são um grande prazer nas horas de folga, pode ser perto ou longe. É um dos grandes investimentos da vida", define. E ainda pretende conhecer muitos novos lugares na América do Sul e até mesmo no Brasil e interior do Rio Grande do Sul. Em música, cinema e artes em geral, considera-se uma apreciadora. "Não sou uma especialista, e também sou muito eclética."

Acha que um defeito seu é "dar valor demais para os detalhes e achar que eles comprometem o todo. Nem sempre precisa ser assim". Uma qualidade é a preocupação com a valorização dos detalhes, o que permite "que a gente faça sempre melhor". Sobre sua maneira de levar a vida, ensina: "Eu acredito muito na circularidade da vida. Tem princípios que independem da religião, como generosidade, compartilhar, ser uma pessoa boa, do bem? e eu procuro muito respeitar as diferenças. Então, quanto mais generosa tu for, mais generosa a vida será contigo".

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