Diogo Olivier: Sobrevivente da profissão

Comentarista e colunista da RBS, ele confidencia que escolheu o Jornalismo para poder viajar e conhecer o mundo

Diogo Olivier - Fernando Gomes

Aos 10 anos, o jornalista e colunista do Grupo RBS Diogo Olivier já sabia o que queria fazer quando crescesse. Iria ser jornalista. Na época, assistia aos repórteres na televisão, sempre viajando para lugares incríveis para fazer matérias, e aquilo o fascinava. Era o que o irmão mais novo da psicanalista Catia Olivier Mello também queria: viajar e conhecer o mundo. "Acredito que já tinha alguma coisa de repórter aí", reflete.

O incentivo começou na escola, quando se destacava nos trabalhos de português e, já na primeira série, ganhou um concurso de redação. Ganhou como prêmio três livros da escritora Maria Dinorah. Aos poucos, foi descobrindo que sabia escrever bem e que para fazer isso ainda melhor precisava ler. Na adolescência, já era um leitor assíduo e a escrita era aprimorada cada dia mais pensando no sonho de um dia se tornar jornalista.

Mas, e se não seguisse nessa área? Talvez Diogo fosse músico, pois quando era adolescente, com pouco mais de 12 anos, estudou violão clássico no Conservatório Palestrina. "Cheguei até ler partituras. Não foi muito tempo, mas tocava umas peças, com unhas compridas, etc", compartilha. Porém, o Jornalismo falou mais alto e, quando começou a faculdade na Ufrgs, abriu mão das melodias, pois entendia que os estudos necessitavam de dedicação exclusiva.

A música ficou mesmo só como um hobby, pois, sempre que pode, está escutando alguma canção. A preferência, que está no seu Spotify, é de som brasileiro e a banda favorita é Legião Urbana. "Lembro que nos anos 80 fui num show no Petrópolis Tênis Clube, com umas bandas de Brasília, e entre elas estava ela. Foi memorável". Mais tarde, teve a oportunidade de encontrar o guitarrista Dado Villa-Lobos na bancada do SporTV e tal foi a sua surpresa quando ele lembrou do primeiro show que havia feito na capital gaúcha.

Contracheque futebol clube

Entre os defeitos, destaca que é esquecido demais e tem quase um déficit de atenção. No trabalho, porém, isso não acontece, pois está sempre focado, mas na vida pessoal já esqueceu até o dia do próprio aniversário. A insegurança também já foi tratada por ele como um defeito que o atrapalhava bastante, tanto é que chegou a emagrecer sete quilos em uma época, por medo de falar em público e, no início da carreira, não inscrevia suas matérias em prêmios. "Eu era muito inseguro e precisava sempre da aprovação das pessoas. Além do David Coimbra, que me ajudou muito nesta questão, fiz 10 anos de terapia, amadureci bem isso e, hoje, consigo encarar numa boa", desabafa. Já como qualidade, considera-se uma pessoa justa, que preza pelo que faz e assume seus atos.

Quanto ao time, o comentarista esportivo é categórico, "contracheque futebol clube", brinca, explicando em seguida que o jornalista tem que ter certo distanciamento. "Tu não vais mais ao estádio de futebol para torcer pelo time de quando era criança, porque está em outra função agora. É uma maneira de eu colocar um filtro entre o meu trabalho e a pessoa que está consumindo meus conteúdos. Pois, se tu falas o time às pessoas, sempre farão um julgamento, e o que eu preciso é que se faça uma análise do trabalho que eu faço", justifica.

Atualmente, diz que está bem sedentário, em função da rotina de trabalho, porém, quando era mais novo, jogava futebol, malhava, jogava tênis e praticava remo, o que deve ter ajudado para que hoje não fosse gordo. Dizendo-se um comilão, confessa que sua comida favorita é bem simples: arroz, feijão, bife, batata frita e ovo. "Quando era adolescente, eu comprava duas pizzas grandes, colocava uma em cima da outra e mandava ver. Sempre fui de comer bastante e sou piada nos churrascos, pois sou o último a sair da mesa", confidencia.

Hoje, Diogo se considera ateu e diz que não acredita em uma religião específica, mas na religiosidade e em planos espirituais. E olha que, quando era criança, acompanhava as missas das 10h, para ver a mãe, Joanna D'arc, tocar piano e chegou até a tocar violão na igreja, mas não se considera católico. Das leituras, relata que é fã do realismo fantástico e que talvez tenha lido todos os livros do escritor e jornalista colombiano Gabriel García Márquez. Além dele, gosta muito das obras da escritora chilena Isabel Allende e do escritor britânico Joseph Conrad. Entre os filmes, cita os que tenham uma mensagem tocante para te passar, e na lista de preferidos estão 'E.T. - O Extraterrestre', de 1982, e 'Blade Runner', que confessa que assistiu 16 vezes.

Paizão

Casado há 15 anos com a administradora de empresas Simone Vargas, compartilha que conheceu a esposa em 2000, quando ela trabalhava no administrativo de Zero Hora. "Animais se reproduzem em cativeiro", brinca. Da relação, nasceu Pedro, o estudante de 13 anos que adora andar de skate e que faz o os olhos do pai orgulhoso brilharem. "O negócio dele é o skate, então, sempre que podemos o acompanhamos até a pista do IAPI", diz. Como companhia, além da esposa, leva cadeira de praia e o chimarrão, assim fica mais divertido acompanhar o filho em suas manobras. A família se completa com a cadelinha da raça shitzu, de oito anos, Babaloo, e a gatinha Mia, de seis meses.

Nos dias de folga, adora ficar em casa, pois a rotina de trabalho diária é "muito punk". Acompanhado da esposa e do filho, gosta de assistir a algum filme ou série e de almoçarem juntos. "Procuro fazer coisas que não estejam atreladas ao trabalho. Sempre tive dificuldades em fazer isso, mas agora estou vendo que é uma questão de saúde mental, desopilar para depois qualificar o que tu fazes no dia a dia". Um verdadeiro paizão, Diogo faz questão de levar Pedro na escola e acompanhar sua rotina. "Sou um cara que vive para que o meu filho seja melhor que eu. Se conseguir fazer isso, filosoficamente falando, cumpri minha função como pessoa".

As demonstrações de carinho pelo herdeiro são muitas, talvez porque não tenha tido este tipo de relação com o pai, o securitário Antônio Paulo Ferreira de Mello, falecido em 2014. Porém, uma lembrança o emociona: "Meu pai não era uma pessoa muito afetiva e, por isso, acabava não demonstrando muitos sentimentos. Um dia, estava chovendo e, como eu era muito pequeno, não queria colocar os pés no chão, então, ele me levou no colo por uns 20 minutos. Volta e meia me pego lembrando esta imagem dele me protegendo da chuva, lá em Tramandaí", recorda.

Da Política para o Esporte

Formado em Jornalismo pela Fabico, em 1991, jamais imaginou que se tornaria um repórter multimídia, mas a profissão exigiu. A primeira vez que teve que fazer uma entrada ao vivo na televisão diz que chegou a ficar com dor muscular, de tão nervoso. O primeiro estágio também não esquece, foi no extinto jornal de bairro 'Expresso do Vale', de Canoas. Lá, aprendeu a fazer de tudo um pouco, até horóscopo. Em 1989, fez parte do primeiro grupo de estágio da Rádio Gaúcha. Após, participou de uma seleção para um curso de extensão aplicado de Jornalismo da RBS e, finalizando, foi contratado para ser repórter da editoria de Política de Zero Hora, mesmo ano em que se formou.

Sete anos depois, foi convidado por David Coimbra para fazer parte da equipe de Esportes. "Como eu já tinha dito não a ele em duas outras oportunidades, resolvi aceitar. Foi bem em um momento em que eu queria me reinventar, pois, na política, estava muito cômodo para mim. Fui para uma editoria onde ninguém me conhecia e pude fazer matérias com cunho social, que era o que eu queria. Fiz diversas matérias diferenciadas", comemora.

Aos poucos, foi sendo convidado para participar de programas esportivos da TVCOM e da Rádio Gaúcha até ficar fixo no programa Sala de Domingo, que era comandado por Nando Gross, e não parou mais. Hoje, sua rotina é dividida pela manhã com comentários nos Programa Redação SporTV e Globo Esporte, após, segue para Rádio Gaúcha (93.7 FM e 600 AM), começando no Sala de Redação, às 13h, e comentário no programa Gaúcha Mais, às 16h. Depois, na redação do jornal Zero Hora, escreve sua coluna e o Gaúcha ZH, além das escalas da jornada esportiva.

Entre as referências profissionais, destaca o professor Marques Leonam; o colega jornalista David Coimbra, a quem se derrete em elogios; o vice-presidente Editorial do Grupo RBS e jornalista, Marcelo Rech, além do jornalista Caco Barcellos, a quem se refere como o 'Gênio da Raça'.

Aos 50 anos de idade, Diogo já conseguiu viajar para muitos lugares a trabalho e diz que é um sobrevivente destes quase 30 anos de Jornalismo. "Considero-me assim, pois abri mão da minha zona de conforto para ir para o Esporte, e sobrevivi. Depois, na televisão, pensava que faria uma ou duas vezes, seria um fiasco lendário, e acabaria minha existência no Jornalismo. Ao contrário, estou aqui, sobrevivendo neste mundo multimídia", comemora.

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