Jacques Fernandes: Fazer criativo 

Jacques Fernandes até poderia ter seguido os passos do pai na engenharia ou outro ofício relacionado à área de exatas, como fizeram os dois …

Jacques Fernandes | Crédito: Divulgação/Escala
Jacques Fernandes até poderia ter seguido os passos do pai na engenharia ou outro ofício relacionado à área de exatas, como fizeram os dois irmãos. Capaz de reunir em si as diferentes expressões de arte, a propaganda, no entanto, foi a forma escolhida para dar objetivo prático ao gosto pela música, desenho, leitura e outros elementos da cultura. Cara tranquilo - característica que, admite, pode se revelar ao mesmo tempo qualidade e defeito - e de objetivos definidos, o diretor de Criação da Escala recorda os 16 anos de mercado publicitário e se mostra feliz com a trajetória percorrida. "Me encontrei na publicidade. Faço o que gosto e acho que tive muita sorte em achar esse caminho cedo."
Nascido 13 de junho de 1979, escolheu a profissão quando ainda cursava a sétima série do Ensino Fundamental. Como estudante da Famecos, deu os primeiros passos na Comunicação como estagiário na ADVB e depois no Museu da PUC, onde pôde trabalhar com sinalização e identidade. O trabalho em agência, ele conheceu no início dos anos 2000, pela Acori, que mais tarde foi adquirida pela DCS. Lá, aprofundou-se na direção de arte e permaneceu por seis anos, antes de partir para a Live, hoje com sede em São Paulo. Um ano depois, chegaria à Escala, onde atua há cerca de sete anos.
Para inspirar
Diante da própria história na propaganda, Jacques prova que conhecimento não provém unicamente de experiência, mas também serviu de referências e do simples olhar ao lado. Na DCS, conheceu Régis Montagna, atual diretor nacional de Criação da Escala, a quem credita parte de sua formação, e também muitos profissionais do mercado que serviram de inspiração por trabalhos e atitudes. "Na época, eu era diretor de arte jr. e sempre que eu olhava pra um lado, tinha diretor de arte fazendo um trabalho bom. Pessoas como Rafa Bohrer, que hoje está liderando a Global, João Pedro Vargas, na DM9Sul. Sempre teve gente para me espelhar."
O trabalho de artistas e profissionais de fora do mercado gaúcho também serviram de referência ao longo da carreira, que ganhou um novo marco quando, em 2006, venceu o Young Lions. Com a crença de que para crescer, muitas vezes, é preciso estabelecer metas, decidira alguns anos antes que queria ser Young. Trabalhou na montagem da pasta e o resultado veio com a conquista da etapa regional do concurso. "Tenho um perfil mais low profile. Pra mim, o Young Lions foi uma vitrine muito grande", explica.
Através do concurso, conheceu pessoas como o publicitário Felipe Anghinoni, que foi responsável pelo convite para integrar a equipe da Live. O período na agência também é lembrado pela evolução profissional, uma vez que marcou a transição de uma empresa de propaganda tradicional para outra mais voltada a ações digitais e contemporâneas. "Na Live, vi outros caminhos de comunicação, ampliei meu conhecimento e trouxe um pouco dessa expertise", relata.
Crescimento e reconhecimento
A ida para a Escala também, segundo conta, representou um novo momento na carreira, por torná-lo um dos principais diretores de arte de uma conta grande, as Lojas Renner. "Não tinha no meu histórico profissional muitos filmes e aprendi a fazer peça eletrônica trabalhando com a Renner, aqui", conta. Há três anos, também ganhou a missão de atender à conta do Governo do Estado, o que exige outra expertise. E a tarefa veio acompanhada de outro desafio, o de exercer a direção de Criação na agência, trabalho que desempenha ao lado de Juliano Faerman.
Alcançar o posto é, para o criativo, um grande reconhecimento e, principalmente, uma etapa de aperfeiçoamento de habilidades gerenciais. Jacques considera-se em outro estágio de carreira, em que também carrega a responsabilidade por manter a qualidade criativa da agência e apontar caminhos. "Estou numa fase de desenvolvimento, tenho muitas qualidades e também muitos defeitos. Sei dos meus pontos fracos para a direção de Criação e trabalho por isso, para melhorar sempre."
Com pensamentos e metas próprias, diz que trabalha com a expectativa de colocar na rua trabalhos que façam a diferença, tarefa a cada dia mais difícil, pela diversidade de mídias e formatos de comunicação, que exigem não só conhecimento de aspectos com fotografia e ilustração, mas principalmente de comportamento. "A boa ideia, que faz a diferença na vida das pessoas e mexe com o negócio do cliente, é o que estou sempre buscando. Quando a gente vê essas ideias acontecerem e serem reconhecidas, brilha o olho."
Um porto seguro
Natural de Porto Alegre, é o primogênito do engenheiro Jacques e da dona de casa Marlene, a quem define como suas referências de vida. A família se completa com os irmãos Matheus, 31 anos, também engenheiro, e Bruno, 25, economista. Do tempo de criança, estão entre as memórias as visitas à casa da avó, que tinha um grande pátio para brincadeiras, bem em frente ao Estádio Beira-Rio, e muitos de união da família. "Se a infância é onde começa tudo, só depende de mim. Tive um backup para a vida inteira."
O trabalho na propaganda também rendeu um amor. Foi no tempo de DCS que conheceu a esposa, Ângela, hoje atendimento na DM9Sul. Do relacionamento que já dura 10 anos, nasceu Mathias, de nove meses, hoje o principal foco de toda a atenção do casal. Como moram próximo ao trabalho, fica mais fácil acompanhar o dia do pequeno em casa, no horário do almoço, por exemplo. "A gente não quer perder nenhum passo", diz.
Uma paixão fora da propaganda está na gastronomia. Curte acompanhar o tema em leituras e gosta de reproduzir os pratos que experimenta por aí. O interesse pela culinária é tanto que o apartamento em que vive foi escolhido justamente pela cozinha. De descendência italiana, cresceu vendo a cozinha como um centro da casa, lugar que sempre teve a família reunida. "Cozinhar pra mim é quase uma terapia, um outro mundo, que eu gosto muito", enfatiza.
Aprecia das combinações estranhas aos pratos mais simples, e garante que não se importa em ficar uma manhã inteira na cozinha. "Gosto de todos esses rituais da cozinha. Se é uma carne de panela e precisa de três horas para cozinhar, acho superlegal", ressalta.
De tudo um pouco
O estilo musical é variado, mas os gêneros favoritos passam pelo indie, folk, soul e jazz, neste caso, especialmente as canções dos anos 1940 e 1950. Também opta por listas diferentes no Spotify e é capaz de ir da música contemporânea, francesa a clássicos como Frank Sinatra. As referências antigas, aliás, também o atraem na arte. Um exemplo é o trabalho de Saul Bass, designer gráfico reconhecido por imprimir a estética  pelos cartazes para o cinema.
Com as idas ao cinema mais raras com a chegada do filho, assistir a filmes tornou-se um programa mais caseiro. Sem restrições de gênero ou estilos, aprecia dos roteiros complexos aos mais simples. A preferência, no entanto, está nas produções seriadas. Mad Men, House of Cards e Game of Thrones são algumas das quais se diz fã, mas também acompanha séries mais antigas como Sopranos . "Assisto mais séries do que filmes, mas gosto de tudo, de drama a suspense. Gosto de uma boa história", afirma.
Na Literatura, as obras de não ficção, como as biografias, são os que mais o atrai. Finalizou recentemente a biografia de Steve Jobs e, atualmente, tem como livros de cabeceira ?Homens difíceis?, que trata sobre os bastidores de processos criativos de séries como Breaking Bad, Mad Men e Sopranos, e ?Os criadores?, sobre os grandes criadores da História em áreas que vão da arte, música a moda. Para organizar as leituras na internet, utiliza o aplicativo Flipboard, que, a partir de critérios estabelecidos pelo usuário, cria diariamente uma revista digital personalizada. É assim que confere os principais artigos relacionados à área de atuação.
Manter o portfólio da Escala e dos criativos da agência recheado de trabalhos de destaque é hoje um dos objetivos profissionais do publicitário, que também quer trabalhar para capacitar a equipe. "Quero que as pessoas que trabalham comigo aprendam e estejam felizes e motivadas. Isso tem que estar dentro da equipe para a organização crescer junto.Como diretor de Criação, tenho esse papel e essa responsabilidade." No âmbito pessoal, as atenções são todas da Ângela e Mathias. "Minha meta é cuidar bem da família, cuidar da minha esposa e acompanhar o crescimento do Mathias. Quero dar uma infância tão boa para o meu filho quanto a que eu tive."

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