Karina Fernandes: Uma louca do bem

Entusiasta de uma visão leve sobre a vida, Karina Fernandes respira o mundo dos eventos

Karina Fernandes | Divulgação
Por Márcia Christofoli
Karina Giovana Fernandes, ou apenas Kaká, como prefere ser chamada, é o tipo de pessoa que fala com os olhos - os seus, muito azuis e brilhantes, daqueles que são capazes de dizer muitas coisas sem a necessidade de palavras. Natural de Sarandi, mora em Porto Alegre há mais de 30 anos, mas continua considerando a cidade natal a "sua casa", para onde retorna com frequência. É formada em Relações Públicas pela PUC e considera o Grupo RBS a grande escola profissional - e não poderia ser diferente, visto que suas passagens pela empresa somam mais de 20 anos.
Gerente de Eventos e Entretenimento Engage/Grupo RBS, ela se orgulha da vivência que tem de mercado, especialmente ao recordar um pouco da trajetória durante cerca de uma hora e meia de conversa. Sobre isso, reflete: "Muitos eventos que fiz me dão orgulho, mas nem todos dão tesão, pois já os fiz muitas vezes. Gosto de ser provocada para novos desafios e é isso que me motiva", explica, com sinceridade.
Kaká foi apresentada ao mundo dos eventos logo no início da faculdade, quando foi estagiária de Claudinho Pereira, a quem considera um dos grandes mestres e que, ao final dos anos 1980, havia assumido a gerência de Eventos das rádios da RBS. Lembra como se fosse hoje: "No mesmo dia que fui para fazer apenas uma entrevista, ele me passou demandas e disse que eu podia começar a trabalhar naquele instante".
Foi nessa época que a relações-públicas começou a trajetória que a fez circular intensamente por um mundo cheio de cultura. Nem os dois afastamentos da empresa - um no início da década de 1990 e outro no ano passado - mudaram seu caminho por essa área. As experiências longe da RBS incluíram uma passagem por produtora de shows e por uma gravadora de discos, e mais recente como consultora em projetos e eventos. O último afastamento, aliás, se deu apenas por querer novos desafios em carreira solo, mas a decisão durou apenas seis meses, tempo que o grupo teve para seduzi-la novamente e convencê-la a voltar.
Dedicação total
Kaká garante que a boa relação com as pessoas da empresa a fez deixar muitas portas abertas. Só optou por sair para realizar desejos pessoais de empreender, além de buscar um ritmo mais desacelerado, mas não conseguiu as proezas por muito tempo. Desistir delas? Nem pensar. São sonhos que ainda pensa em realizar e que se unem ao desejo de dar aula, mas não a ponto de se dedicar à vida docente, apenas como forma de compartilhar conhecimento.
A profissão, ela comenta, traz um certo glamour e muitas conquistas, mas pondera que isso vem junto com muito estresse e sacrifício. "É uma atividade como a de médico, pois o celular precisa ficar o tempo todo ligado", compara, ao contar que, naquele dia, havia acordado às 5h30 e lembrou-se que a promessa para as próximas horas era de temporal, e que estava montando um evento ao ar livre. "Fui direto para a internet pesquisar todos os sites de previsão do tempo, me deu um desespero, comecei a mandar e-mails enlouquecidamente para minha equipe e fornecedores", conta, aos risos.
A dedicação que oferece é também uma postura que cobra da equipe, mas se engana quem pensa que tem algo a ver com cumprimento de horário. O que Kaká quer mesmo é resultado. "Estou sempre me desafiando, buscando entregar o melhor, superar expectativas, então instigo a minha equipe a fazer o mesmo. O que me importa é eles me entregarem, e se isso vai acontecer de forma presencial ou remota, eu não ligo. Dou liberdade, mas quero o retorno", garante a gerente, que ainda ressalta aprender muito com os liderados. Para ela, eles são muito próximos, algo que permite uma admiração mútua, pois tem certeza que só trabalha com quem gosta e confia.
Os preferidos
Toda essa confiança na equipe e com os superiores resulta em muitas marcas importantes da carreira, como ter participado da construção do primeiro Planeta Atlântida, em 1996. "Desde lá até hoje, participei de todas as edições", lembra, com carinho. Ainda se orgulha de ter construído o departamento de eventos da rádio Gaúcha, pois, em meados dos anos 1990, ainda não se via a possibilidade de fazer entretenimento em veículo de informação. Após criar uma série de eventos, alavancou uma receita significativa e permitiu que os diretores entendessem a área como alternativa de negócio e relacionamento.
Outro projeto que merece destaque entre os "preferidos" de Kaká foi a Copa do Mundo Escolar, realizada em 1998, como uma réplica da Copa do Mundo oficial. "Foi uma competição entre escolas - e cada uma delas representava um país - com os mesmos moldes do evento internacional, inclusive a taça foi igual e a partida final foi narrada ao vivo na Gaúcha", detalha, destacando ainda ter participado da concepção de projetos como Cidade Elétrica, Atlântida Festival e Caravana do Gauchão.
Em sua fase na Engage Eventos, as marcas ficam por conta do show do Paul McCartney, da inauguração da Arena do Grêmio, da reabertura do Beira-Rio, com a Festa Gigante, entre outros mais diferenciados, como o Brilha Porto Alegre. As recordações fazem Kaká admitir que o ritmo frenético já está naturalmente integrado à vida. Tanto que, em um passado não muito distante, ficar sem fazer algo no final de semana era uma tortura, parecia que faltava algo e tinha até um ar de depressão. "Estava acostumada a trabalhar 24 por dia. Hoje, graças a toda minha dedicação, valorizo quando tenho alguns dias livres, pois posso curtir a família e os amigos", conta, um pouco aliviada.
Viver de sentimentos bons
É quando fala nos bastidores da correria que aparecem o marido Edu Sá, jornalista e músico, com quem é casada há 15 anos, e a filha Giovana, de 19, que cursa Psicologia, fruto de um relacionamento anterior. A dupla é extremamente reservada, por isso Kaká evita falar muito neles, mas, mesmo assim, faz questão de elogiar: "São meus parceiros, me respeitam, admiram, me dão apoio. Só dizer a palavra "evento" em casa que não há brigas nem questionamentos", pondera. Apesar de reforçar o quanto o companheiro é discreto, se derrete: "Ele não gosta de exposição, mas é a pessoa que eu amo, que é meu amigo, meu companheiro, que ajudou muito na criação da minha filha. Minha família é muito legal", encerra.
A filha do bancário Gelson e da professora de Artes Laura tem ainda um irmão que, assim como a mãe, mora em Sarandi, cidade de suas raízes, lembranças e um profundo amor por tudo o que deixou lá. Os 17 anos vividos no Interior são marcados por uma recordação que faz as lágrimas aparecerem imediatamente: os avós maternos, seu Luiz e dona Irene. Os mesmos olhos brilhantes e alegres dão lugar a um olhar de saudade daqueles com quem passou muito tempo na infância. "Como meus pais trabalhavam muito, ficávamos na casa deles, colhendo (e comendo) bergamota, jogando vôlei, brincando com os amigos. Serão sempre meus amores", afirma, se desculpando pelo momento de forte emoção.
E por falar em sentimentos, ódio não faz parte da vida de Kaká, que, mesmo se considerando muito mandona, diz que "gosta muito de gostar das pessoas". Quando isso não acontece - mesmo que raro - apenas procura não se aproximar e, se for inevitável, tenta trabalhar bem isso dentro dela, pois acha a palavra ódio muito feia, prefere outras como animação e bom humor. "O que me move é a psicologia positiva", resume.
Ao contar que acorda todos os dias agradecendo pela vida, também revela que as senhas de tudo são sempre frases positivas e que preza pelas energias boas, ou seja, "fazer o bem para colher o bem". Foi motivada pelo ritmo frenético misturado com alto astral que diz ter aprendido o que leva para vida: o que é urgente e o que é prioridade. "Não deixo os problemas me afetarem, isso me fortalece a cada dia", garante.
Nos bastidores, sempre
Noveleira assumida, Kaká considera o folhetim das 21h da Rede Globo seu "momento de defecação mental", isso porque é acostumada a acompanhar desde a infância, mas se autocritica por não parar de assistir. "Sou daquelas que vê e reclama que está vendo, mas não largo", confessa, rindo. Mas nem só de novelas vive a televisão da relações-públicas, que adora as séries do Netflix, algo que, reconhece, acaba afastando a família do cinema tradicional. Esporte completa a lista do que gosta de assistir, e pode ser qualquer modalidade. Coloradaça, como se diz, não chega a ir muito ao estádio, mas faz questão de acompanhar todos os jogos pela TV, nem que seja para implicar com os amigos gremistas depois.
Caminhar, caminhar e caminhar, é isso que vem à cabeça dela quando o assunto é lazer. Infelizmente, confessa, é algo que faz bem menos do que gostaria. Lado a lado com o gosto pelo esporte, está a culinária, seja para comer ou para fazer, o importante é estar na cozinha, mesmo que com pouca criatividade, conforme admite. "Se alguém me ensina uma vez, é suficiente para fazer igual, mas não sou daquelas que olha o que tem em casa e inventa algo", explica. Dois pratos estão entre os preferidos da família: rocombole de carne e salmão no forno.
Ler biografias também está entre seus passatempos preferidos, especialmente de artistas, é claro. Música, aliás, está por todos ao lados da vida dela, que, além de ser um dos ofícios do marido, trabalha com muitos shows, a mãe dava aula de piano e ainda possui instrumentos espalhados pela casa. Os últimos livros, por exemplo, foram sobre a vida de Erasmo Carlos e Ozzy Osbourne. E qual é o título de cabeceira atual? Sem nenhuma surpresa: Keith Richards, músico e compositor, considerado um dos grandes nomes do rock do século XX.
Um sonho antigo é viver entre três e seis meses fora do Brasil. Se diz apaixonada pelos Estados Unidos, mas brinca que "não ficaria deprimida em passar esse tempo na Europa". Entre as viagens já feitas, as melhores, ela garante, são quando Giovana está junto, pois assim se sente tranquila e mais completa. Os últimos destinos foram Nova Iorque e Itália e, desse último, guarda uma imagem marcante: ver o pôr do sol em Firenze (Florença/Itália) ao lado da filha e do marido, com uma música ao fundo e uma cidade histórica vista de cima, "agradecendo a Deus por aquele momento".
Kaká Fernandes é assim mesmo: grata pelo que tem, pelo que conquistou e pelas oportunidades diárias de ser feliz. Como ela mesmo se vê? "Uma pessoa totalmente louca, mas uma louca do bem", brinca novamente, para, em seguida, completar: "Eu falo palavrão, tomo cerveja, levo a vida de forma leve, agradeço pelo que tenho e pelo que conquistei. Mas não sou normal. E gosto disso".

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