Mauren Motta: Aceite-me se puder

Há três décadas na estrada, Mauren Motta revela como uniu a paixão pela Comunicação com a moda.

Por Juliana Freitas, em 18/07/14
Inquietude, curiosidade e olhar visionário são características que podem ser utilizadas para identificar a publicitária e jornalista Mauren Jacobsen Motta. Com sede de conhecimento e experiências por diversas áreas destes dois segmentos da Comunicação, ela ainda se destaca pelo seu trabalho envolvendo moda, sempre procurando apresentar algo diferenciado. É reconhecidamente uma pessoa agitada, que não se vê aposentada tão cedo. "Não entendo como as pessoas conseguem tirar férias e ir para uma ilha paradisíaca. Gostaria de ser um pouco mais tranquila, mas não consigo", diz. Confessa que se pergunta sobre a instabilidade da profissão e o desgaste, mas, antes de tudo, é uma eterna apaixonada pelo que faz.
Além de experiências na televisão e no rádio, hoje escreve para sites, é colunista de diversos veículos e atua como diretora criativa da própria empresa, a MM Conteúdo, que surgiu do olhar visionário da profissional que, desde muito cedo, acreditou que a internet se tornaria uma aliada das marcas.
Início precoce
Aos 17 anos já demonstrava desejo em trabalhar na área. Teve sorte, pois, com a ajuda de amigas, começou a estagiar antes mesmo de iniciar a faculdade. Trabalhando no núcleo do programa de Ubirajara Valdez, na Produtora Versus, Mauren iniciaria ali um trabalho na televisão que lhe traria reconhecimento anos mais tarde.
Durante o curso de publicidade e propaganda se preocupava em encontrar um nicho em que se sentisse confortável e gratificada. Passou por produção, atendimento, RTVC (profissional que acompanha as produções e confere a organização) e criação. Após 10 anos trabalhando na área, encontrou no Jornalismo a verdadeira realização. "Me apaixonei por ele e entendi que estava fazendo coisas que não se encaixavam com o que eu procurava", conta.
Esse encontro aconteceu em 1997, um ano após se formar em publicidade. Focando o trabalho em produtoras e cinema, viajou para Nova Iorque com o objetivo de aprimorar seus conhecimentos. Foi então que obteve uma vaga na TV Globo e não parou mais. Produzia as pautas, junto com Zeca Camargo, que virou seu amigo. "Ele acreditava nas minhas ideias", lembra.
A passagem pelos Estados Unidos durou um ano, sendo oito meses de TV Globo. Produziu para o programa Manhattan Connection, participou de produções cinematográficas através dos cursos realizados na The New School e na New York University. A experiência fora do Brasil representou para ela uma caracterização na sua forma de trabalho. "Foi importante para compor minha personalidade profissional. Sair fora te dá uma dimensão maior da área", afirma, lembrando de nomes como Denise Sobrinho e Guta Nascimento, colegas que ajudaram nessa composição.
De regresso ao Brasil, Mauren decidiu aprimorar o jornalismo e voltou para a faculdade. Foi convidada por Zeca Camargo para trabalhar na produção de matérias no Fantástico, em São Paulo, participando também da produção e apresentação para quadros de Regina Casé. Depois de um ano, retornou ao Estado para tomar frente a um projeto que se tornaria um sucesso devido ao formato diferenciado e jovem, até então nunca visto na televisão brasileira, e que marcaria sua carreira.
Marco Patrola
O programa 'Patrola', da RBS TV, foi onde os gaúchos conheceram Mauren Motta, em 1999. Por um longo período, produziu e apresentou a atração que se destacou por ser uma nova forma de Jornalismo, em um tempo em que a internet não era tão utilizada. "Era um programa muito conectado com o mundo. Acredito que isso fez a diferença, em um momento que não havia esse tipo de programa na televisão, principalmente no Sul."
Graças à exposição no programa, veiculado em uma emissora líder de audiência, até hoje continua sendo reconhecida nas ruas e abordada por admiradores. Apesar de já ter participado de outros projetos como apresentadora, ela diz que o trabalho no Patrola nunca será esquecido. "Tinha muito da minha personalidade no programa. Talvez foi isso que fez dar tão certo."
Paralelamente também escrevia para o jornal Zero Hora - onde continua sendo parceira de conteúdo no Caderno Donna -, apresentava um programa na Rádio Atlântida e escrevia para sites, o que segue fazendo. Atualmente na MM Conteúdo, Mauren está podendo explorar cada vez mais um mundo com o qual sempre se identificou: o da moda.
Moda para a vida
Em todas as experiências a moda acompanhou Mauren. Seja em uma cobertura da Semana da Moda, em Nova Iorque, ou pelo simples brinco que usa, o estilo moderno, sempre ligado nas tendências, faz parte da vida da jornalista desde a infância. "Lembro que ficava sentada no chão, vendo minha mãe experimentar suas roupas, e achava aquilo demais", diz.
Aos nove anos, fez uma viagem com os pais para a Disney, um sonho infantil, e Nova Iorque. Porém, o que realmente encantou Mauren foi a segunda opção. "Nunca gostei de brincar de boneca, mas gostava de fazer roupas para elas", conta. Sem preconceitos, acredita que moda é para todos, independentemente de corpo físico. "A moda é muito mais que uma roupa. É a história de uma pessoa, de uma época. Sempre traz algo diferente para a vida." Dá-se como exemplo pois, fugindo ao tradicional, acredita que quebrou muitos paradigmas por não ter a beleza que a sociedade tem como padrão. "Acho que me diferenciei porque você trabalhar no mundo da moda e não pesar 50 quilos é uma quebra de padrões", diz, revelando que fica feliz quando vê meninas acima do peso mostrando em blogs que a moda é possível para todos.
Palavra mestra
Independência é algo que sempre fez parte de sua vida. Começando a empreender desde muito cedo, aos sete anos já vendia revistas velhas e fazia perfumes. Mais tarde, começou a fazer bolos e sanduíches naturais para vender na escola. Na faculdade, vendeu bijuterias. "Sempre me virei. E não que houvesse necessidade, mas o espírito de independência sempre me acompanhou", diz Mauren.
Com um olhar visionário, montou um núcleo de conteúdos para web na Zeppelin Filmes, seis meses antes de deixar o Grupo RBS, em 2006. Como na época essa área ainda estava em construção lenta, o projeto acabou não dando certo. Porém, nunca desistiu e acreditou que a internet ainda seria uma grande aliada das marcas. "Não que a MM Conteúdo nasceu em um tempo errado. Mas as pessoas não estavam preparadas para isso naquele momento", acredita.
Mesmo com a dificuldade da aceitação da empresa no mercado e tendo que ouvir que o trabalho não vingaria, Mauren não desistiu e chegou a vender suas roupas para pagar as despesas da agência. Hoje, a MM Conteúdo se destaca justamente pelo diferencial que apresenta às marcas e o trabalho cheio de cores e produções elaboradas.
Sempre atenta às novidades, Mauren acha legal a explosão de sites de moda e blogs sobre o assunto, mas pondera: "Tem muitas coisas bacanas, mas tem que ir além de tutoriais de moda. Tem que viajar, conhecer pessoas, referências, ser antenada. Saber moda vai além de apenas ler sobre tendências."
Fazer a diferença
Moda, beleza, estilo. Essas três palavras são coisas que, inegavelmente, pertencem à Mauren. Ativa e inquieta, está sempre procurando algo a mais, nunca se contentando com o básico. "Acredito que uma pessoa tem que fazer a diferença. Se você passar 'batido', não será importante porque os desafios não se apresentarão", diz.
Mauren confessa que as pessoas 'ou a amam, ou a odeiam', e segue a filosofia do perdoar-se e aceitar-se. "Já chega tu ter que conviver com as críticas dos outros. Pelo menos tu tem que se aceitar", afirma. E admite que essa dualidade afeta tanto as relações pessoais, quanto as profissionais. "Se você perguntar para as pessoas o que elas acham de mim, umas vão dizer que sou super estilosa e antenada. Já outras, dirão que sou exibida e que 'me acho'. Acredito que as pessoas têm que aceitar as outras como elas são."
Nascida em 4 de outubro de 1970 e filha única, conta que, apesar de ter muitas amigas, a melhor era a sua avó, Vera. "Eu me escondia no carro do meu pai para que ele me levasse até a casa dela. Ela aceitava a criança que eu era", conta, lembrando que na casa da vó sempre tinha muitas atividades, possibilitando a exploração da criatividade infantil.
Adepta do fazer, não há tempo ruim com a jornalista. "Não tenho essa coisa de 'não é meu perfil'. Tudo é meu perfil", diz. Viciada em revista, admite que lê desde as semanais até as internacionais de assuntos econômicos. "Como viajo muito, sempre estou com uma diferente. Adoro aquelas revistarias do exterior, que têm títulos de todo o mundo." Aliás, viagem é outra coisa que ela não abre mão. "Sou aquela pessoa que anda com a mala na mão."
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