Rogério Amaral: Futebol na veia

Herdou do pai, ex-dirigente da Federação de Futebol, o gosto por este esporte, que nunca mais deixou de fazer parte de sua vida. Hoje, é o assunto dominante do programa que tem na TV.

Rogério Amaral, 51 anos, construiu toda uma carreira no jornalismo esportivo, com passagens pelas principais emissoras de rádio e TV do Estado. No currículo, ainda traz a cobertura de três Copas do Mundo de futebol. Aparenta uma personalidade tranqüila, é ousado e empreendedor e criou espaços inovadores no pequeno mercado da comunicação gaúcha. Seu nicho foram sempre as produções independentes, viabilizadas por sua disposição para as tarefas editoriais e comerciais. Apaixonado por futebol, como todo mundo sabe, fez do esporte o seu sustento, mas nunca perdeu o entusiasmo de torcedor.


Nascido em Porto Alegre , ele fala com carinho do bairro Menino Deus, onde passou a infância e a adolescência. A época ficou marcada pelo seu envolvimento com o esporte e, em especial, com o futebol, que se tornou uma arrebatadora paixão ao longo da vida. O maior responsável pela aproximação com os gramados foi seu pai, Armando Amaral, que atuava como representante da Federação Gaúcha de Futebol na cidade de origem da família, São Luís Gonzaga. "Eu o acompanhei aos estádios desde pequeno e pude conviver com os jogadores, eles faziam parte do círculo de amizades do meu pai", relata saudoso.


Aos 13 anos, disputou o campeonato "Praiano", no litoral norte do Estado, do qual recorda com entusiasmo. A partir de então, até os 16, jogou nas divisões de base do Esporte Clube Internacional. Mas seu pai morreu, e tudo mudou na vida do jovem. "Foi impossível conciliar o futebol com as novas responsabilidades que surgiram e optei por abandoná-lo", explica. Assim, em 1974, ingressou no curso de Administração de Empresas da PUC e logo experimentou a prática da profissão, passando pelo setor de distribuição da Pepsi-Cola e pelo serviço de arquivo médico do Hospital de Clínicas - ambos no primeiro ano de faculdade.


Mesmo satisfeito com os estudos e com os trabalhos conquistados na área, Rogério mantinha uma ligação forte com o futebol e alimentava o sonho de aventurar-se pelo mundo do rádio e da reportagem esportiva. As chances surgiram em 1975 através de dois amigos, Armindo Ranzolin e Lupi Martins. O primeiro, seu vizinho por muitos anos no Menino Deus, lhe oportunizou um estágio na rádio Guaíba, onde atuavam jornalistas experientes como Ruy Carlos Ostermann, Lauro Quadros e o próprio Ranzolin. "Na época, a Guaíba era a rádio com a melhor cobertura esportiva e eu pude acompanhar de perto as transmissões", comenta.


Um giro pelo Estado


Alguns meses depois, Lupi, que também integrava a equipe da Guaíba AM, levou-o para a Farroupilha, emissora que nesse período ainda não pertencia ao Grupo RBS. As duas experiências marcaram o início da carreira de Rogério no rádio e ocorreram paralelamente às aulas na Universidade, que ele nunca deixou de freqüentar. A partir daí, sucederam-se passagens por diversas emissoras e seu gosto pela comunicação cresceu cada vez mais. Antes mesmo de concluir a graduação, em 1977, já possuía o registro de jornalista, obtido devido à antiga regulamentação da profissão.


Sua curiosidade e talento resultaram em muitas idas e vindas durante a década de 70. Após seis meses na Farroupilha AM, em 1975, transferiu-se para a TV Difusora (a atual Bandeirantes), mantendo as atividades ligadas ao esporte e dedicando-se exclusivamente ao novo veículo. Depois de um ano, voltou ao rádio, dessa vez compondo a equipe da Gaúcha AM. Em seguida, em 1977, passou a atuar também na TV Gaúcha, que começava a organizar seu departamento de telejornalismo. Em 1979, participou da inauguração da TV Guaíba e permaneceu na emissora até 1980, quando retornou à TV Gaúcha.


Na emissora da RBS, além das reportagens esportivas, assumiu a apresentação do Bom Dia Rio Grande, um projeto que, naquele momento, estava em fase de implantação. Os anos 80 foram mais estáveis para Rogério, mas também marcados por novos desafios. Entre 1980 e 1984, simultaneamente ao trabalho na TV Gaúcha, gerenciou a equipe de esportes da TVE e participou da cobertura da Copa do Mundo de Futebol de 1982. Ele explica: a rede Globo detinha a exclusividade das transmissões, mas compartilhava as imagens com as TVs educativas de todo o país. "Assim, fizemos uma cobertura local, de suporte, que foi muito comentada e teve uma bela audiência", complementa.


Contudo, sua melhor oportunidade surgiu em 1989, quando ele atuava na RBS e foi convidado a narrar jogos de futebol para a Rede Globo, no Rio de Janeiro. Para isso, ele deveria mudar-se para o centro do país, o que não aconteceu. Mobilizado pela emissora local para contribuir no processo de reformulação da programação jornalística, acabou dividindo-se entre os dois trabalhos, permanecendo em Porto Alegre nos dias de semana e viajando para o Rio aos sábados e domingos. "Foi meu grande erro", admite. Seu contrato com a Globo foi rescindido um ano depois, em 1990, "em função, principalmente, do Plano Collor", justifica. A chance nunca se repetiu.


Produções independentes


Fixado na capital gaúcha definitivamente, sua intenção era voltar a participar das coberturas esportivas da RBS, "mas a equipe de jornalistas estava completa", conta. Descontente, passou a investir na idéia de um programa independente, inspirado nos moldes que a TV Guaíba havia adotado. Nomes como Clóvis Duarte, João Bosco Vaz e Marley Soares já estavam à frente de atrações próprias na emissora e conquistavam sucesso, servindo como exemplo para Rogério. Em conseqüência, em 1991, ele estreava o Camisa 2, na TV Guaíba, um programa diário que trazia resenhas esportivas e permaneceu no ar por cinco anos.


Enquanto isso, atuou como assessor de imprensa e integrante do departamento de marketing do extinto Grupo Calçadista Strassburger, pertencente ao empresário e político Cláudio Strassburger. Quando deixou a TV Guaíba, em 1995, deixou também o empreendimento de calçados, iniciando um novo ciclo na TV Bandeirantes. Lá, arrendou o setor de esportes, uma experiência inédita para ele, onde pôde utilizar seus conhecimentos acadêmicos. Além disso, narrou partidas de futebol em rede nacional, o que lhe marcou muito. Em seu grupo de trabalho, estavam colegas como Leonardo Meneghetti, hoje diretor da Bandeirantes no Rio Grande do Sul. 


Saiu da Bandeirantes em 1999, a convite de Paulo Sérgio Pinto - que havia saído da direção comercial do Correio do Povo para ser vice-presidente da Rede Pampa - para fazer coberturas esportivas no rádio e na TV Pampa. Continuou na empresa até 2004, completando, assim, passagens por praticamente todas as empresas de comunicação do Estado, "com exceção do SBT", contabiliza. No mesmo ano, voltou para a rádio Guaíba, apresentando um programa aos domingos à noite, o "90 Minutos", que seguiu no ar até o começo deste ano. Com o início do Campeonato Brasileiro de futebol, ele foi convidado pela Globosat para fazer narrações pelo sistema payperview.


"Ficou impossível conciliar a rádio e a narração dos jogos, então optei pelo payperview", fala. Com o final do campeonato, no último mês de abril, resolveu apostar novamente em uma produção autônoma, dessa vez, no Canal 20 da Net. "Eu planejava um programa de entrevistas, baseado na trajetória de sucesso de personalidades, desde 2003, e este foi o momento de torná-lo realidade", revela. A estréia aconteceu recentemente, neste mês, e a atração ganhou o nome de "Rogério Amaral Entre Amigos". Seu diferencial é a participação de amigos dos convidados, que o auxiliam durante a entrevista, e as temáticas abordadas, que vão além do esporte.


Apesar de semanal, a atração exige muita dedicação. Apoiado pelo trabalho dos amigos Paulo Medeiros e Gilson Cripa, responsáveis pelas gravações, equipamentos e edição, ele precisa se responsabilizar, além da apresentação, pela produção e comercialização do programa. "Não disponho da estrutura das emissoras pelas quais passei antes, nem uma equipe. Nesse momento, meu trabalho é completamente independente", justifica. Seu maior desafio, agora, é comercializar bem o espaço de TV a cabo e tornar o programa conhecido, uma tarefa com prós e contras: "O fato de existirem assinantes ajuda, mas também prejudica, porque restringe a audiência a este grupo", fundamenta.  


A prática paralela das atividades editoriais e comerciais foi uma constante em sua atuação profissional, facilitada por sua passagem na faculdade de Administração de empresas. Desde o Camisa 2, na TV Guaíba, até o planejamento do esporte na Bandeirantes e a participação na comercialização da programação da Rede Pampa. "Acabei me tornando um comunicador, mas, dessa forma, também exerço a administração", conclui. Feliz com a carreira que construiu, ele diz ter tido suas maiores realizações com a cobertura de três Copas do Mundo de Futebol: a dos Estados Unidos, em 1994, pela TV Guaíba, a da França, em 1998, pela Bandeirantes, e a de 2002, no Japão e na Coréia, pela Rede Pampa.    


Bate-bola


A aposta em uma produção independente não aliviou o ritmo de trabalho de Rogério, mas possibilitou um bom concílio entre a vida profissional e a pessoal. "Eu quero consolidar o programa no Canal 20 para que ele seja a minha aposentadoria", confessa. Satisfeito com as variadas experiências profissionais, ele agora pensa em um futuro tranqüilo, mas sem abandonar o mercado. Casado, reserva tempo para a família e procura estar sempre perto dos dois filhos, Ramiro, 24, e Natália, 22. "São os meus xodós", fala com carinho. Ambos atuam como publicitários. O primogênito integra o departamento de planejamento da DCS, enquanto a caçula trabalha com produção na agência Matriz.


Sem dificuldades quando o assunto é desligar-se do trabalho, ele tem um compromisso marcado aos finais de semana: jogar futebol. Reunido com um grupo de amigos com quem convive há aproximadamente 20 anos, ele pratica o esporte e aprecia um bom churrasco todos os sábados, religiosamente. "Conheci a turma ao longo da vida, na escola, na profissão e nos veraneios no litoral", conta. Alberto Freitas, diretor da agência Matriz, também compõe o time. Apaixonado pelo futebol, ele consegue deixar o profissionalismo de lado e se divertir. "Prefiro o futebol como lazer, é o meu hobby", garante.


Entretanto, diz não torcer para nenhum time em especial em função dos relacionamentos de amizade que construiu com jogadores e profissionais da área. "Acabo torcendo pelos amigos e não pelos clubes", revela. Torcedor do Internacional por muitos anos, ele assegura que se desfez dos laços com o time quando tornou-se repórter esportivo. Hoje, diz manter a expectativa para que as equipes gaúchas se destaquem em âmbito nacional e conta ter adotado como filosofia uma frase do ex-colega da rádio Guaíba, Waldomiro Moraes. "Ele costumava dizer que seu grande orgulho era ser chamado de gremista quando passava em frente à torcida do Internacional, e chamado de colorado quando passava em frente à torcida do Grêmio", diverte-se.


Empreendedor e persistente, Rogério continua fazendo planos pessoais e profissionais com o mesmo entusiasmo da juventude. Convicto, diz estar buscando, através das entrevistas de seu novo programa - que pretende tornar uma atração permanente e conhecida do público em geral - o segredo do sucesso.

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