Wesley Santos: Percepção fotográfica

Protestos, campeonatos e competições esportivas, acontecimentos do dia a dia. As lentes de Wesley Santos já congelaram os mais diversos fatos, em uma mistura …

Wesley Santos | Crédito: Arquivo pessoal
Protestos, campeonatos e competições esportivas, acontecimentos do dia a dia. As lentes de Wesley Santos já congelaram os mais diversos fatos, em uma mistura de jornalismo à beira do campo de futebol com clientes corporativos. Paulista, descobriu-se repórter fotográfico em território gaúcho e, com uma dose de dedicação, viu suas imagens ilustrarem reportagens em veículos por todo o País.
O encanto pela fotografia vem desde os tempos de escola, quando assumiu para si o posto de fotógrafo da turma de amigos, colocando-se à disposição sempre que o momento pedia registros em imagens. O mesmo acontecia nos encontros com parentes, quando costumava pegar a câmera do pai e montar o álbum da família. A trajetória profissional, no entanto, teve início em uma empresa de vendas, que acabou por motivar a vinda para o Rio Grande do Sul.
Em Rio Grande, atuando na área comercial, começou a trabalhar com um jornal local, que, em seguida, abriu uma sucursal em Cassino. Lá, foi responsável pelas vendas de assinaturas e publicidade do impresso, e, na carência de fotografias, por iniciativa própria passou a produzir as imagens para as pautas. "Foi ali que me voltei para a fotografia e para o jornalismo", resume.
Com o balneário em destaque no noticiário de jornais de todo o Estado, Wesley fez fotos para matérias de grande repercussão na época, como o episódio do navio Bahamas e o caso que ficou conhecimento do "maníaco do Cassino". Em seguida, fixou-se ainda mais ao Sul, em Santa Vitória do Palmar, onde assumiu o posto de fotógrafo da prefeitura local. Foi no município que iniciou a parceria como freelancer de Zero Hora, que mais tarde, em 2002, renderia o convite para integrar a equipe do jornal em Porto Alegre. Cerca de três anos depois, fundou a agência de imagens Press Digital.
Entre cliques
Das pautas locais de Chuí e Santa Vitória do Palmar a notícias de repercussão nacional, Wesley registrou com suas lentes desde acontecimentos do dia a dia até grandes eventos esportivos e operações policiais. Cobriu os ralis dos Sertões e Dakar, uma experiência até cansativa, mas gratificante. "O rali Dakar, na época que fiz, foram 20 dias e passava por três países - Argentina, Chile e Peru. A gente dorme mal, come mal, mas o resultado final, tanto em bagagem como em portfólio, é prazeroso", afirma.
Wesley se declara um eterno fotojornalista. Por cerca de três anos, manteve estúdio fotográfico, mas afirma que, apesar do bom retorno financeiro, seu negócio mesmo é o fotojornalismo. Tem fascínio especial pela cobertura esportiva, devido ao grau de dificuldade. Fazer uma boa imagem, segundo ele, nesses casos não depende apenas de equipamento, mas de persistência e olhar diferenciado, já que a concorrência é grande.
Cita como exemplo uma imagem captada durante a ocupação do Complexo do Alemão pela polícia do Rio de Janeiro, em 2010. Em meio a um grupo de cerca de 40 fotógrafos que aguardavam para registrar o hasteamento da bandeira do Brasil no morro, 10 passos para a esquerda foram o suficiente para captar outro ângulo da cena e obter a foto que, no dia seguinte, estampou a capa de diversos jornais do País. "Tem que sempre tentar fazer diferente, não ser mais um. Essa é uma característica importante para se manter no mercado", ensina.
Em outras ocasiões, poucos segundos lhe garantiram uma foto única. Como em um Gre-Nal em Caxias do Sul, quando, entre quatro fotógrafos, apenas ele capturou o momento em que, em uma confusão, um policial desferiu um soco em um torcedor. Em 2008, cobriu as cheias na Ilha dos Marinheiros para a Folha de S. Paulo quando reparou que um jovem espancava um cavalo na tentativa de fazê-lo andar. Após algumas chicotadas, o cavalo caiu, inerte. A sequência de imagens ganhou repercussão pelas páginas de Zero Hora.
Wesley considera que é preciso persistência para permanecer na fotografia, mercado que, segundo ele, já viveu tempos melhores. Atualmente, ele divide-se entre o fotojornalismo, à beira do campo, e o ambiente empresarial, já que também atende a clientes corporativos. "Torço para que o Inter vença e continue na Libertadores, porque são mais jogos em Porto Alegre. O mesmo vale para o Grêmio na Copa do Brasil. É mais trabalho, é movimento para quem faz fotografia", explica.
Junto de profissionais que encontrou durante a trajetória, são referências de trabalho os fotógrafos Dida Sampaio, de Brasília, especializado em política e do qual se diz um grande fã, e Valdir Friolin, fotojornalista gaúcho multipremiado, de quem já pediu muitas dicas. "Ele tem o dom, é uma pessoa iluminada, com olhar diferenciado, modelo de persistência e concentração que tenho ele como referência", diz sobre o amigo Friolin.
Outro ângulo
Nascido em 17 de setembro de 1975, em Santo André, na região metropolitana de São Paulo, Wesley chegou ao Rio Grande do Sul na década de 1990. Corintiano fanático, recorda que, quando menino, costumava usar o dinheiro do lanche entregue pelos pais, João e Nice, para comprar o jornal Gazeta Esportiva. Os álbuns de figurinhas, não só de futebol, mas também de Fórmula 1 e surfe, também eram hobbies durante infância. Os irmãos mais novos, Arlei e João Henrique, hoje vivem Franca e São José dos Campos, enquanto os pais, aposentados, moram em Araraqura.
Divorciado e hoje em um novo relacionamento, é um "pai bravo", como se define, de duas adolescentes, Raffaela, de 15 anos, e Maria Eduarda, 14 . As jovens já começam a escolher os rumos a seguir: "Uma quer fazer advocacia e outra, administração. Nenhuma quer ir para o jornalismo, mas elas são novas, ainda dá tempo de mudar", brinca.
No passado, já praticou natação, ciclismo e até box, hoje curte corrida e participa das cada vez mais populares provas de rua. "Acho que esporte é importante pra mente, pro corpo, pra saúde", resume. Para preencher o tempo livre, ir ao cinema com a namorada Cínthia e viajar são programas que o agradam. Gosta de aproveitar o clima, o verde e as alturas da Serra gaúcha, viajar a Buenos Aires ou à costa do Uruguai, de Chuí a Colônia de Sacramento. "Tenho um ano em que fui 10 vezes a Buenos Aires. É um lugar que me satisfaz", comenta.
Como amante de viagens, a próxima experiência já está programada. O plano é revisitar Londres, na Inglaterra, dentro de um circuito que passará também por Lisboa, Roma e Paris.
Fazer e aprender
Apreciador da gastronomia, tem no ato de cozinhar uma terapia. Garante que prepara boas massas, sopas, caldos e carnes. "Apesar de ser paulista, morei no interior do Rio Grande do Sul, então, sei assar carne direitinho", afirma. As especialidades são yakissoba "autêntico", como faz questão de enfatizar, e feijão tropeiro, prato típico de Minas Gerais, estado onde sua mãe nasceu e a família chegou a morar.
O repórter fotográfico, que admite a mania de passar os dias conectado à internet, considera-se um perfeccionista e confessa que a teimosia é um defeito. Também é alguém que valoriza a dedicação e se esforça sempre para fazer bem feito. "Acho errado fazer por fazer. Não tem que estar lá pelo cachê. Tento fazer o melhor trabalho possível", ressalta.
A busca pela atualização permanente também é um valor defendido por Wesley, que, nos últimos anos, voltou às salas de aula para aprender mais sobre social media e assessoria de imprensa na área esportiva. Ao refletir sobre o futuro, mantém a crença no valor da imagem, que ganha cada vez mais espaço nos veículos de comunicação, e concentra esforços no trabalho com a Press Digital. "Quero ter a agência como direção e plano de carreira", reforça.
Aos 39 anos e com aproximadamente 15 deles dedicados ao fotojornalismo, Wesley pensa um pouco antes de definir a si mesmo, e a resposta surge precisa. "Sou um sonhador, um namorado quase perfeito, um pai bravo e eterno fotógrafo", finaliza.

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